Eliane Catanhede, na Folha de São Paulo CINGAPURA - Como é que Cingapura, país com apenas 716 km? e 5,4 milhões de habitantes e que só alcançou sua independência na década de 1960, conseguiu dar o pulo do gato e virar “tigre asiático”?
São duas palavras mágicas: rumo e planejamento.
Tudo aqui é idealizado, decidido e executado para daí a 20, 30 anos.
Não para ontem.
Já na independência, Cingapura concluiu que seu mercado interno jamais impulsionaria o crescimento e entrou na contramão.
Enquanto o Brasil e muitos outros “em desenvolvimento” executavam a política de substituição de importações, essa Cidade-Estado fez como a Suécia e jogou as fichas na abertura econômica, com estímulo ao investimento externo e ao capital privado interno.
Foi um projeto bumerangue, que reverteu em recursos para habitação, saúde, tecnologia e, claro, educação.
Detalhe: para ajustar a formação dos cidadãos à estratégia da abertura ao exterior, o inglês passou a ser língua obrigatória.
Exemplo do sucesso: 87% da população têm casa própria, e as “casas públicas” não parecem nada com os projetos habitacionais para pobres construídos no Brasil.
Aqui, elas têm boa qualidade e preços cada vez mais altos (por falar em altura, os prédios executivos do centro têm até 70 andares).
E Cingapura fez o óbvio.
Potencializou as vantagens: o porto de águas profundas serve a toda a região, o número de turistas/ano é três vezes maior do que o da população.
E driblou as desvantagens: não havia água?
Pois, hoje, o sistema de tratamento de água atrai técnicos de todo o mundo.
Nada na vida é perfeito, e o regime político é atípico, curioso: o mesmo partido e a mesma família mandam no país há décadas e as decisões são tomadas de cima para baixo.
Eleições há, o que não há é alternância real de poder.
Mas, se o povo está feliz, de barriga cheia e com emprego, casa para morar e escola para estudar, quem está aqui para reclamar?