Os membros da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara realizam, nesta quinta-feira, 03.10.13, a partir das 09h, sessão pública para ouvir os jornalistas Samarone Lima e Carlos Garcia sobre a repressão sofrida pela imprensa na época da ditadura no Brasil.

Os depoimentos devem subsidiar as investigações da CEMVDHC, na relatoria temática: “Ocorrências nos meios de comunicação”.

Neste campo, o objetivo é examinar as diversas formas de censura e perseguições impostas aos jornalistas (prisões, torturas e mortes) e aos jornais pelo regime ditatorial brasileiro, notadamente após o Ato Institucional nº5 de 13 de dezembro de 1968, quando a censura aos veículos de comunicação atingiu a forma mais coercitiva e opressora.

A reunião é presidida pelo coordenador, Fernando Coelho.

O evento é aberto ao público e acontece na sede sala Calouste Gulbenkian, Fundação Joaquim Nabuco, bairro de Casa Forte-Recife.

Depoentes: Durante a sessão pública, Samarone Lima vai doar à Comissão Dom Helder Câmara, acervo pessoal formado por depoimentos orais de diversas testemunhas dos acontecimentos objeto das investigações da Comissão, colhidos no período de 1993 a 2013. “Este material, além de servir para suporte às análises dos casos constantes da lista de mortos e desaparecidos, pode ser organizado e disponibilizado junto à documentação produzida pela Comissão ao futuro Memorial da Democracia”, explica Nadja Brayner, membro da CEMVDHC.

Samarone Lima é jornalista e escritor.

Tem livros de crônica e poesia.

Há 20 anos pesquisa e escreve sobre ditaduras no Brasil e América Latina. É autor de: “Zé - José Carlos Novaes da Mata Machado, reportagem biográfica” (Mazza, 1998), (assassinato sob tortura, do militante da Ação Popular, em outubro de 1973.); “Clamor - a vitória de uma conspiração brasileira” (Objetiva, 2003), mostra como os grupos de Direitos Humanos do Brasil, Chile, Uruguai e Argentina se articularam, em rede, para divulgar violações e torturas, e ajudaram a encontrar várias crianças, filhas de desaparecidos políticos.

As pesquisas aconteceram nos arquivos dos respectivos países, além de diversos depoimentos orais.

Atualmente, escreve um livro sobre o atentado ocorrido no Aeroporto dos Guararapes, em 1966.

Em abril de 1964, uma das primeiras providências do regime militar foi mandar fechar o jornal Última Hora, fundado na década de 1950, por Samuel Wainer.

Em Recife, o jornalista Carlos Garcia trabalhava na sucursal, que foi fechado pela polícia. “No início, eu fui punido por ser da Última Hora (…) Havia uma ordem aos jornais lociais, que eram muito dóceis, para não empregar ninguém que era da Última Hora.

Por isso, toda uma geração de jornalistas foi embora daqui em 1964, mas eu fiquei”, conta.

No comando do Diário da Noite, o jornalista foi detido e chamado para depor porque não aceitava a censura imposta pelos militares, que foi fortalecida com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968.

Em 1974, trabalhando na sucursal do Estado de São Paulo, em Recife, Carlos Garcia divulgou a notícia da prisão do vereador e presidente do MDB, Marcos Cunha, e pouco tempo depois, foi levado pela polícia onde foi preso e torturado por agentes do DOI/CODI. (fonte: A imprensa recifense e a luta contra os regimes de exceção no século XX – de Aline Grego e Ana Paula Araújo).