Por Fernando Castilho, especial para o Blog de Jamildo O juiz aposentado e atual presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Guilherme Uchoa, entrou com um processo contra o Jornal do Commercio, o Diário de Pernambuco e a TV Clube.

No último sábado ele obteve o direito de não ter seu nome citado por nenhum dos veículos no caso onde sua filha, Giovana Uchoa, é suspeita de tráfico de influência para ajudar um casal a obter a adoção de uma criança passando na frente de dezenas de pessoa inscritas na lista nacional de adoção.

Foi no sábado passado e, somente após a pressão da sociedade, Uchoa tomou, já na quarta-feira, a iniciativa de retirar a ação alegando culpa de um advogado desconhecido que teria agido à sua revela.

O gesto da quarta-feira aconteceu depois de três dias da decisão e sem que o Tribunal de Justiça de Pernambuco tivesse apreciado a contestação dos veículos.

Se Uchoa não tomasse essa iniciativa, é importante lembrar, que poderíamos ainda estar sob esta censura.

E este texto, por exemplo, não poderia ser publicado sem uma punição no Blog de Jamildo.

O governador Eduardo Campos teve, portanto, mais de quatro dias para se posicionar contra a tentativa de cerceamento à liberdade de imprensa.

Mas, preferiu o silêncio.

Foi a vários lugares, inaugurou várias obras no interior e até conversou com líderes nacionais.

E não disse uma palavra sobre a censura que Guilherme Uchoa conseguiu impor a, ainda que temporariamente, imprensa de Pernambuco.

Por isso, quando agora ele se diz contra o ataque à democracia de seu fiel correligionário afirmando que sempre defendeu a liberdade de Imprensa, é importante que se diga que o seu gesto carece de credibilidade.

E que agora é tarde, governador.

E é muito menos crível quando tenta se proteger lembrando o passado.

Não, Vossa Excelência!

Não com o passado familiar que tem, e sendo neto de um líder que foi um dos que mais sofreram com a censura imposta a partir de 1964 no Brasil.

Com 48 anos Eduardo Campos só pode conviver com o carinho do avô quando a liberdade de imprensa voltou ao Brasil.

Quando criança, viu e ouviu que seu avô foi perseguido e preso e a maioria dos anos em que esteve fora seu nome sequer podia ser escrito na imprensa.

Em Pernambuco, ele, talvez, seja a única pessoa que deveria se levantar no primeiro minuto contra qualquer ato que atente contra a liberdade de impressa.

A sociedade esperava e sempre vai esperar isso dele.

Mas, infelizmente, ele esperou por dias o gesto de um liderado para apontar o caminho que julga agora ser o mais adequado.

Está atrasado, governador.

Era Vossa Excelência quem tinha que sair na frente e advertido na primeira hora, ao presidente da Assembleia Legislativa que isso não atingia apenas a democracia.

Atingia a Vossa Excelência, como líder de uma Estado cuja resistência democrática é uma marca a partir da própria bandeira.

Era Vossa Excelência quem deveria apontar que a mesma liberdade de imprensa que Uchoa quer cercear foi a que protegeu seu avô nos anos de chumbo e que serviu para a resistência democrática.

Seria, como é, essa liberdade de imprensa quem poderia, por exemplo, mostrar como estamos vendo o envolvimento de diversos profissionais da Assembleia Legislativa, que ele comanda, no caso.

Mas, o governador preferiu o silêncio.

E isso, como se diz na linguagem dos jovens de hoje: foi mal, cara!

Falar agora só acrescenta uma nota ruim no rodapé de sua biografia.

Atitudes de silêncio e de abstenção podem ajudar as pessoas que não desejam deixar na história um legado de resistência cívica.

Podem explicar o silêncio de toda a bancada na Assembleia Legislativa, inclusive do líder do seu governo na casa, que no dia seguinte em que pediu “pelo amor de Deus” aos jornalistas para não ser entrevistado e foi o primeiro a apartear Uchoa quando do seu discurso, saudando o gesto “nobre”.

Mas, à luz da história, pode-se entender esse tipo de atitude.

Foi com o silêncio que personagens como Joseph Fouché, passou a sobreviveu por anos aos mais diversos movimentos da Revolução Francesa.

E foi Joseph Fouché que, certa vez, quando perguntaram como sobreviveu por tanto tempo a tantos acontecimentos ele simplesmente disse: Porque eu me calei.

Mas, certamente, não deve ser em Joseph Fouché que um líder com o histórico Eduardo Campos pode se inspirar.