Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem Por Fabiana Moraes Do JC Online Marilene Alzira Vieira da Silva, 52 anos, teve 12 filhos: Marcos, Marta, Renato, Sabrina, Omaique, Odaíza, Romário, Jocélio, Marco, Iriskelly, José Homero, Raquel.
Têm entre 10 e 33 anos.
Marta é a única a figurar, na estante, em uma foto na qual aparece vestida com uma beca.
Terminou o ensino médio com habilitação para o magistério.
A imagem é um troféu na casa localizada no Sítio Travessão, zona rural de Itaíba (340 quilômetros de Recife), no Agreste.
Mais do que isso: a imagem é um troféu na própria cidade, dona de um dos piores números da educação do Estado: tem 0,364 segundo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD/ONU).
Perde apenas e por pouco para Manari, que tem 0,354 em educação.
Ironicamente, foi justamente este índice (o IDHM também considera renda e longevidade) o que mais cresceu em temos absolutos nos últimos 20 anos naquele município: em 1991, Itaíba cravou somente 0,065 no ranking.
Em 2000, foi 0,140.
Agora, temos o 0,364.
Entre 2000 e 2010, a dimensão educação cresceu 0,224.
Em 1991, apenas 15,09% das crianças entre 5 a 6 anos frequentava a escola.
Hoje, são 87%.
Mas, à medida que estas crianças vão crescendo, a sala de aula deixa de ser uma realidade.
Em 2010, 19,45% da população de 18 anos ou mais de idade tinha completado o ensino fundamental e somente 10,93%, o ensino médio. É aí que os filhos de Alzira estão.
A maioria saiu de casa para trabalhar.
Não aqui, mas em São Paulo, que está simbolicamente mais próxima a milhares de sertanejos pernambucanos do que Recife (e o fato de as antenas parabólicas trazerem informações do Sudeste do País, e não o conteúdo local, por inexistência de transmissão, também tem um enorme peso).
Renato (22), Romário (19) e Omaique (27) deixaram de frequentar a escola, em diferentes momentos, faltando apenas um ano para terminar o ensino médio.
Vão e voltam para SP em busca de trabalho quando as coisas ficam difíceis – e elas, frequentemente, ficam.
Marcos (33) estava na terceira fase do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), perto de terminar o ensino fundamental, mas foi para SP.
Jocélio (28) parou na quarta série do ensino fundamental e há sete anos trabalha no mesmo Estado, assim como José Homero (29), que deixou Itaíba aos 18 anos, no meio da 6ª série do ensino fundamental.
Marcelo (32) fez apenas a primeira série.
Também está lá, mesmo local de Kelly (25), que parou na terceira série.
Odaíza (18) fez o primeiro ano do ensino médio, casou e abandonou a escola.
Está em Itaíba, mas pensa em ir para São Paulo com o marido, que tem sua idade.
Raquel (14) está na sexta série do fundamental.
Ela e Sabrina (10), na quarta série do ensino fundamental, estudam na escola municipal Getúlio Vargas, povoado de Jirau.
A última está ansiosa para ver Kelly - será a primeira vez.
Quando nasceu, a irmã (“ela parece é muito comigo”) já morava naquele Estado que, há décadas, é o Eldorado dos sertanejos.
Para Alzira e o marido, Ormério (63), SP é não só uma extensão da vida familiar, mas uma extensão que é oposto, para o bem e para o mal, da existência tranquila que levam no sítio.
Os filhos se vão e ambos sofrem, mas tranquilizam-se quando as notícias de salários mais altos e uma vida mais confortável começam a chegar. É esse sucesso material que termina mostrando, para os mais novos, que talvez a insistência na escola não valha a pena.
As dificuldades encontradas no cotidiano são outras âncoras para o baixo desempenho na educação.
Leia mais no Jornal do Commercio desta segunda-feira (19).