Paulo Rubem Santiago, deputado federal pelo PDT de Pernambuco, especial para o Blog de Jamildo Na edição de sábado, 10 de agosto, a capa do caderno de Economia do “Jornal do Commercio” traz estampada a expressão: “Desafios da Zona da Mata”.
A matéria revela a crise vivida pelo setor sucroalcooleiro nas últimas décadas e apresenta documento, divulgado pela Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco (FETAPE), com propostas e alternativas para o enfrentamento da grave situação em que se encontra a região.
Segundo o jornal, a área cultivada em cana caiu 18.7% entre 2000 e 2010.
A produção de cana caiu 23% e a produtividade encolheu 5,31%.
O número de trabalhadores despencou 35% entre 2006 e 2011.
Já o número de empregos caiu de 53.832 para 34.970.
A mesma reportagem destaca um levantamento feito pela economista Tânia Bacelar, demonstrando que Pernambuco perde espaços na produção nacional de açúcar e álcool.
Em 1980, detinha 13,9%.
Em 2013 caiu para apenas 2,3%.
Na fabricação de derivados, a queda se consolidou.
De 16,4% para 3,2%, em açúcar, e de 5,5% para 1,2%, em etanol, no mesmo período de 33 anos.
A geração de empregos, 250 mil há trinta anos, hoje está na casa dos 80 mil.
Tânia Bacelar destaca a necessidade da reestruturação produtiva, apontando que o maior desafio para isso é a estrutura fundiária na região, a herança da monocultura, o baixo nível de qualificação, frente aos novos pólos de investimentos que o estado recebe, onde os trabalhadores rurais certamente não conseguirão se inserir.
Mesmo com oscilações positivas no preço do açúcar no mercado internacional, mesmo com desonerações e subsídios pagos pelo Governo Federal aos fornecedores e com a ampliação do percentual de etanol na gasolina, ainda assim, a monocultura definha.
Enquanto isso, o país hoje se aproxima da aprovação de um novo Plano Nacional de Educação, que deverá aportar volumosos investimentos e exigir o cumprimento de metas fortes na educação básica, para erradicar o analfabetismo, o abandono escolar e o fracasso no desempenho dos alunos.
No Nordeste, em particular, as cidades da Zona da Mata ostentam os piores indicadores educacionais.
Por décadas, talvez séculos, o modelo sucroalcooleiro prescindiu de cidades e regiões com uma população de elevada escolaridade.
O futuro das crianças da Zona da Mata se reproduzia no passado de seus pais e avós cortadores de cana.
Em documentário sobre o trabalho infantil da zona canavieira, o Centro Josué de Castro revelava, nos anos de 1990, a gravidade do uso da mão de obra infantil no corte da cana, privando, já desde os 6, 8 ou 10 anos de idade, essas crianças da infância e da escola pública de qualidade.
Hoje, Pernambuco e outros estados recebem investimentos diversificados.
Para alguns, trata-se de um novo “milagre”, como vimos na década de 1970.
Milagre que fez a economia crescer, a riqueza vir de outras fontes (com as novas indústrias), mantendo-se, porém, concentradas, a estrutura fundiária e a riqueza.
Não precisamos buscar culpados, nem crucificar empresários.
A herança foi gerada pelo próprio modelo de produção e acumulação.
Assim, melhor será dizer: Adeus, monocultura.
Pôr fim a essa monocultura, que se revela isolada, inviável em termos econômicos, sociais, educacionais e tecnológicos.
Precisamos, urgentemente, que o Estado intervenha para promover a escolarização intensa da população da Zona da Mata, que possa redefinir, com transparência e debate público, novas opções de produção a serem incentivadas, com metas, no mínimo quinquenais, de controle rigoroso de seus resultados. É necessário desapropriar terras, fazer a reforma urbana nas cidades, constituindo-se fundos de investimentos e centros de acesso tecnológico.
Em síntese, mudar radicalmente a região da Zona da Mata, com as entidades dos trabalhadores, a sociedade, as universidades, os atuais detentores dos capitais privados do campo e da indústria.
Na minha opinião, para superar os passivos atuais, devemos e poderemos ir mais longe.
Temos que mudar a estrutura fundiária e o grau de conhecimento a ser aplicado e gerado na região.
A Zona da Mata não pode se manter como produtora de bens de baixo valor agregado, requerendo, para isso, baixa escolaridade e pouco acesso às tecnologias.
Para transformar a região, com garantia de direitos e dignidade de vida para a população local, é fundamental promover uma mudança estrutural que abrange: o fim dos latifúndios, a escolarização avançada, a reforma urbana nas cidades, o crédito e o acesso às tecnologias.
Incentivar o cooperativismo, seja para a produção de alimentos com maior valor agregado, seja para a produção de bens industrializados de consumo doméstico ou industrial.
Implantar centros de desenvolvimento tecnológico.
Atrair, com terras, fundos e mão de obra qualificada, novos empreendimentos na agricultura de valor agregado, na indústria e no terciário moderno da informática, das comunicações e da economia criativa da cultura.
Palmares e Goiana, que sentem os impactos da FIAT e sua cadeia produtiva em várias dimensões, Ipojuca, Escada, Nazaré da Mata, e outras cidades, com apoio da UPE e das Universidades Federais, podem alavancar suas faculdades e centros universitários como núcleos avançados de pesquisa e desenvolvimento.
O fato é que nenhum novo projeto será, de verdade, emancipador, se permanecer, na Zona da Mata, o latifúndio, o baixo nível de escolaridade e conhecimento tecnológico, a precariedade urbana e a concentração de riqueza.
Temos que começar agora.