Por Luciano Siqueira Parecido com a crença religiosa de jogadores de futebol.
Todos iniciam a partida crentes de que terão a ajuda divina e vencerão.
Ao final, alguns ganham, outros perdem.
Não terá sido por falta de fé. É que muitas variáveis interferem no curso da disputa.
Assim são as múltiplas especulações sobre o cenário eleitoral de 2014 – para a presidência da República e os governos estaduais.
Claro que especular faz parte.
Desenham-se hipóteses, “cenarizam-se” o porvir – como dizem alguns analistas.
Mas erra quem aposta todas as fichas na vontade subjetiva dos principais atores na cena.
Pior: e desconsidera o peso das disputas estaduais, que têm tudo a ver com a eleição presidencial, no que se refere à formação de palanques e alianças.
No Brasil, como se sabe, a diversidade regional historicamente influencia o desenrolar das disputas.
Em outras palavras: numa eleição “casada”, em que se disputam a presidência da República, governos estaduais, assentos no Senado, na Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas, ter ou não ter palanque forte nos estados pode fazer a diferença.
Diferente do pleito de 1989, “solteiro”, em que Collor se elegeu presidente.
Para complicar, há governadores candidatos à reeleição e outros que, em segundo mandato, desejam eleger o seu sucessor e que, assim, necessitam de coligações amplas em seus estados, sob risco de insucesso.
E nem todos estão bem situados.
Segundo a pesquisa CNI/Ibpope mais recente, praticamente todos os governadores amargam redução importante dos índices de popularidade, com exceção do pernbambucano Eduardo Campos (PSB) e do paranaense Beto Richa (PSDB).
São nove os governadores que têm mais de 20% de saldo negativo (somatório de ruim e péssimo).
Na espreita, de olho nas tendências do eleitorado, situam-se pretendentes do PT, PMDB e PP e, no Maranhão, com larga vantagem inicial, o ex-deputado Flavio Dino (PCdoB).
No último pleito municipal, dezesseis dos vinte e seis prefeitos de capitais tinha suas administrações desaprovadas por larga ampla da população.
Nenhum deles se reelegeu ou elegeu sucessor.
Menos complexo seria se a lógica dominante fosse o perfilhamento de partidos a partir do projeto nacional, sequenciando-se, de modo coerente e harmônico, acordos no âmbito dos estados.
Mas não é assim, nunca foi e certamente não será desta vez.
Nesse emaranhado, entretanto, duas variáveis certamente concorrerão para uma delimitação de campos menos borrada, abrindo espaço para a viabilização, ou não, de pretensões presidenciais (e também aos governos estaduais).
Uma é o desempenho da economia, sobretudo o controle da inflação e a manutenção do nível de emprego, que em geral beneficia quem governa.
Outra é a capacidade de mesclar clareza de objetivos, perspectiva de vitória e habilidade.
Porque, tal como jogadores de futebol quando entram em campo, todos se igualam no quesito fé – e isto só não basta.