Por Roberval Sobrinho, do Jornal do Commmercio As manifestações populares de junho mostraram claramente a insatisfação da sociedade com a classe política e os partidos de maneira geral.

A saraivada de vaias que a presidente Dilma Rousseff (PT) levou em plena abertura da Copa das Confederações, com o Estádio Nacional Mané Garrincha lotado, dias antes de pipocarem os maiores protestos de rua, talvez tenha servido de estímulo para que outros protestos do tipo surgissem nas últimas semanas.

A zombaria da população - justificada pela ineficiência dos serviços públicos oferecidos à população, além da corrupção entranhada nos poderes e de projetos que não encontram ressonância na sociedade - tornou-se corriqueira.

A hostilidade das ruas não é novidade para quem exerce a vida pública.

Faz parte do processo democrático e seus desdobramentos são os mais variados possíveis.

Uma vez expostos na vitrine do poder, detentores de cargos públicos costumam ser alvos de reclamações das mais variadas, sendo a vaia uma das mais comuns e temidas, pelo constrangimento que causa.

No entanto, se bem assimilado e recebido com serenidade, no sentido de identificar os problemas e procurar resolvê-los, o xingamento pode se tornar um valioso instrumento de autorreflexão para os políticos.

Pelo menos é o que pensa a marqueteira Karina Terso.

Com mestrado em governança e comunicação política pela The Washington University, Karina cuida do marketing do partido Democratas (DEM) e afirma que se o político não tiver o equilíbrio necessário para receber uma manifestação deste tipo “não tem marqueteiro que salve”. “Não tem como evitar a vaia.

O negócio é mostrar trabalho, porque as pessoas estão cada dia mais fiscalizadoras e exigentes.

O brasileiro subiu alguns degraus na pirâmide da satisfação social e quer subir mais.

A resposta para as vaias é o trabalho e fazer esse trabalho aparecer”, avalia.

A orientação dela é não responder diretamente a uma vaia. “Já vi até candidato perder eleição por conta de uma reação intempestiva contra o público.

Primeiro, a gente tem que saber o motivo da vaia e quem está vaiando.

Se for um grupo representativo, de credibilidade e muito numeroso, é motivo de preocupação.

Nessas horas é preciso muita cautela.

Se for vaia de um grupo da oposição, de um candidato adversário, é um processo natural e tem que ser encarado com serenidade”, analisa Karina Terso.

Para o também marqueteiro Victor Mascarenhas, formado em comunicação social e com onze campanhas majoritárias em seu currículo, entre elas as do ex-prefeito do Recife João Paulo (em 2004) e do governador Eduardo Campos (2006 e 2010), o que está havendo no País é uma mudança de agenda da população e as vaias são o reflexo da falta de atenção da classe política para esta realidade.

Ele diz que a maioria dos políticos tem um instinto próprio de preservação, conhece bem esse tipo de manifestação e joga bem com a plateia nesses momentos. “Uma das ferramentas é mobilizar militantes para os acompanharem nos eventos e fazer o contraponto.

Mas creio que este recurso está ficando ultrapassado.

O povo está mais atento a estas artimanhas.

O ideal é evitar a insatisfação das pessoas”, acredita Victor.