A enfermeira Carmela Alencar, que foi presa durante um protesto no último dia 17, enviou uma carta ao Blog de Jamildo na qual contesta as declarações do major da Polícia Militar Hugo Tadeu dos Santos, que esta semana também escreveu à coluna eletrônica desmentindo a profissional, que foi liberada.
Em nota, SDS explica corretivo em enfermeira na Agamenon Magalhães Paulo Rubem presta solidariedade à enfermeira presa pela PM na Agamenon Magalhães em protesto Em defesa da PM, major diz que Paulo Rubem busca apenas promover-se ao criticar prisão de enfermeira Veja o que diz Carmela Alencar: RESPOSTA À MANIFESTAÇÃO ESCRITA DA LAVRA DO MAJOR DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE PERNAMBUCO HUGO TADEU DOS SANTOS PUBLICADA NO BLOG DO JAMILDO EM 22 DE JULHO DE 2013.
Prezado Jamildo, Na condição de cidadã, esposa, mãe, enfermeira, professora, sindicalista e mulher, venho, através do Direito de Resposta concedido à mim ou melhor, a nós, pois sou muitas, plural em mim, como acima descrevo-me, apresentar minha indignação ao expressado pelo Major Hugo Tadeu dos Santos, em sua infeliz crítica à Manifestação “Enfermagem #VemPraRua”, ocorrida no dia 17 de julho, na Avenida Agamenon Magalhães, que culminou com minha prisão.
Facilmente o Major, que fez questão de dizer que escrevia como um cidadão pernambucano, mas que não se despiu das vestimentas do Oficial Militar, pelo inegável tom bélico de suas palavras, palavras estas adornadas de citações de grandes filósofos entre eles, o Alemão Friedrich Nietzsche, que, pelo seu firme, forte e visceral pensamento, provavelmente não aprovaria ver seus clássicos aforismos serem utilizados na defesa de atitudes desprovidas de lisonja, para não dizer violentas, da PMPE para com a manifestação e comigo.
Pensei eu também, ao ler as palavras do digníssimo Major Hugo Tadeu, em um outro filósofo alemão Schopenhauer (século XIX), quando diz que: “A verdade tem três estágios: primeiro ela é ridicularizada, depois contestada e finalmente aceita”, Não faltei com a verdade ao dizer que fui agredida sim pela polícia militar, fui empurrada sim pelas costas, fui algemada sim, sem em momento algum oferecer risco ou resistência e fui medicada sim, pois possuo oito hérnias de disco na coluna vertebral, que evidentemente não ficam expostas, mas que dependendo dos movimentos bruscos ou violentos que venha a sofrer, padeço, como padeci de fortes dores, inclusive ao ser medicada, sai do hospital com um colar cervical, a fim de amenizar as dores e imobilizar a coluna vertebral.
Sendo assim, acredito que minha verdade e que também é de muitos que estavam no dia e hora do ocorrido ao meu lado, está para o Major no estágio primeiro a que se refere o pensador alemão citado: o da ridicularização, pois foi o que fez o Major ao me criticar, insinuando que professo inverdades e desejo me promover.
Por sinal, frisou o Major que eu havia sido candidata e derrotada nas últimas eleições, lamento ter que esclarecer que a fonte que lhe forneceu esta informação ou a sua própria dedução estão má informadas, pois nunca fui candidata a nenhum cargo político, ao referir-se à minha pessoa, deveria estar mais apropriado da minha trajetória profissional que conta com 25 anos de carreira.
Equivoca-se também o nobre Major quando afirma que o movimento causou um imenso transtorno à população e que as vias automotivas ficaram interrompidas por horas, isso não ocorreu, as próprias imagens da SDS mostram que ocupamos uma via e depois a outra, para que o trânsito fluísse na Avenida Agamenon Magalhães, inclusive, nosso companheiro de Luta, o Enfermeiro Gilmar Júnior, que negociou com os policiais de forma pacífica e ordeira, informou à polícia que fecharíamos uma via e depois de um tempo cronometrado, fecharíamos a outra via.
Por que o Major Hugo se intitula um solitário na defesa da corporação?
Será que sua defesa não está na contra mão do óbvio?
Não sou uma criminosa, também sou mãe de família, profissional dedicada, que ama o que faz e que luta, com as armas que têm, no caso, manifestar-me nas ruas, a fim de reivindicar meus direitos, mas naquele dia fui tratada como uma ‘meliante’, de forma grosseira, ‘abusada’ e truculenta, que volto a dizer por um polícia despreparada, arbitrária, destreinada e medrosa, pois a falta de confiança, o estresse faz com que estes profissionais não consigam identificar uma manifestação pacífica e ordeira de um bando de arruaceiros querendo provocar caos.
Um exemplo disto é que em determinado momento, quando já havíamos, após a negociação, mudado de faixa na Avenida Agamenon Magalhães, nos chegou a informação de que a polícia tinha ordens expressas de encerrar o movimento e prender as lideranças.
No momento, achamos uma atitude arbitrária e anti-democrática, pois estávamos exercendo o nosso livre direito de manifestação.
Quero crer que vivemos em um Estado Democrático de Direito.
No nosso sistema constitucional a aplicação do princípio da proporcionalidade exige bom senso no uso de qualquer medida vexatória, ultrajante, humilhante, para o cidadão ou cidadã, que é o uso de algemas, assim, considera-se flagrante violação à esse princípio, qual seja, DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, portanto caracterizado o ABUSO DE AUTORIDADE, que foi o que claramente aconteceu.
Mas, que fique claro Major, que não pretendo me calar e tão pouco esquivar-me da luta legítima da minha classe que reivindica o justo, o necessário, o legal.
Pois, tenho orgulho de ser uma profissional engajada, que não foge à luta, que tem garra, defende, procura e enfrenta o que for e quem for porque sabe que busca o melhor para sua categoria e para o cidadão em geral, inclusive o senhor, Major.
Curvo-me as belíssimas palavras do filósofo e líder religiodo indiano Osho Bhagwan Shree Rajneesh, “Opte por aquilo que faz seu coração bater, apesar de todas as consequências” e é isto que faço, esta é minha vida, esta é minha luta, abraço-a com amor e dedicação, independente do que pensam, do que dizem, porque à noite, quando me deito, adormeço feliz, serena e realizada, pois sei que o que busco junto com minha categoria é algo melhor para nós, para a população, para meus filhos, para seus filhos Major, se os tiver, enfim sou Carmela Alencar, antes de tudo um sonhadora com pés no chão, mais precisamente com pés na caminhada, caminhando por dias melhores.
Carmela Alencar, Enfermeira, Professora, Sindicalista, mãe, esposa e mulher.