Por Roberto Numeriano, especial para o Blog de Jamildo Antes de ontem, uma jovem morreu vítima de um ataque de tubarão na praia de Boa Viagem, no Recife.

Dia desses, um casal morreu na BR 101 Norte, quando o condutor do veículo desviou de um buraco na pista e perdeu o controle, batendo contra um caminhão, na outra faixa.

No primeiro caso, dia seguinte, o governo de Pernambuco tratou de pagar (depois de um atraso de muitos meses) aos proprietários do barco que monitora e previne a presença de tubarões perto da praia.

Também no dia seguinte, no segundo caso, passaram uma camada de asfalto no trecho do acidente fatal, que deixou dois órfãos.

Num caso e noutro, os governos estadual e federal, omissos e incompetentes, são direta e indiretamente culpados.

Pagamos 4 meses e meio de impostos para que tais coisas só possam acontecer como exceção; como, diria, uma fatalidade mesmo.

Isso de alegar que há placas na praia avisando quanto ao perigo não é condição suficiente para justificar tantos e comuns casos.

Já pensou se fundam uma ONG que divulgue, mundo afora: “Olha, existem placas ao longo da orla das praias de Pernambuco, mas mesmo assim é alta a possibilidade de você ser atacado gravemente por tubarões”.

Estão reduzindo o problema a um debate estéril, absurdo, sobre o habitat agredido dos tubarões x a (suposta) ousadia dos banhistas. É um falso debate. É tudo que essas autoridades omissas querem.

O Estado federal e pernambucano, perdulário e cheio de gestores arrogantes, tem o dever de prover a máxima garantia quanto à segurança de todos, em terra ou na praia, na rodovia ou nas ruas.

Guardadas as proporções, alegar a placa sobre os tubarões ou fortes correntezas para justificar mortes não é muito diferente de oferecer péssimas estruturas de escolas e professores mal pagos e depois reclamar da baixa qualidade do aprendizado dos alunos. É como se dissessem aos pais dos alunos: “São as nossas condições.

Você matricula seu filho se quiser”.

Não podemos aceitar esses argumentos falaciosos e injustificáveis.

Todos os dias estamos à mercê de uma violência fora de controle, insana.

As polícias gastam centenas de milhares de reais na compra de artefatos de contenção (supostamente) não letais: gás pimenta, balas de borracha etc, e solta fogos quando consegue um dia do ano em que ninguém é assassinado. É ridículo e humilhante para a cidadania.

No entanto, o governo de Pernambuco é pouco eficaz no combate à violência letal: são assassinados mais de quatro mil por ano.

Enquanto isso, no primeiro semestre deste ano a prefeitura do Recife gastou 4,5 milhões em propaganda institucional.

Talvez esse dinheiro fosse suficiente para pagar o barco que monitorava a praia. É dever, é máxima obrigação o Estado prover a segurança do cidadão em todos os níveis.

Não devemos nem podemos entrar nesse debate insensato, espúrio, sobre a culpabilidade do cidadão em caso x ou y.

Se assim procedemos, vamos, na prática, sempre eximir dos seus deveres esses arrogantes e incompetentes homens públicos.

Roberto Numeriano é cientista político, jornalista, professor e membro do PSOL/PE.