Por Noelia Brito Acostumado a viver numa espécie de “bolha” protetora, criada por seus familiares e assessores, figuras que muitas vezes se confundem e se fundem em familiares-assessores, o governador Eduardo Campos, também presidente do PSB, começa a viver o que se poderia chamar de um “choque de realidade”.

Com os dias contados para descer à planície e com as relações visivelmente desgastadas com o outro cacique de seu partido, o ex-ministro e ex-candidato à presidência Ciro Gomes, Eduardo prova, internamente, do veneno que instila nos partidos vizinhos.

Muito embora os assessores de Eduardo tentem fazer crer que Ciro Gomes está “fechado” com sua candidatura, para despistar que nem dentro de seu próprio Partido, sua candidatura decola, a verdade é que muito mais por pragmatismo do que propriamente por revanchismo, o paulista-cearense já bateu o martelo com o projeto eleitoral da reeleição de Dilma.

A costura feita por Lula, em pessoa, conseguirá reunir, num mesmo palanque, o PMDB, o PT e o PSB, no Estado, fortalecendo a manutenção da dobradinha Dilma-Temer, nacionalmente. É que pela equação muito bem montada por Lula, com o senador Eunício Oliveira, um dos nomes mais influentes dentro do PMDB, a nível nacional, na cabeça da chapa, as amarras ao fisiológico partido do vice-presidente Michel Temer ficam ainda mais apertadas.

Por outro lado, o PT local, que já detém uma cadeira no senado, a de José Pimentel, automaticamente ficaria com duas, pois o suplente de Eunício é, ninguém menos que o petista Waldemir Catanho, homem forte do governo Luizianne Lins, que anda às turras com os Ferreira Gomes, desde a eleição passada, quando seu candidato, Elmano de Freitas, perdeu para o candidato da oligarquia de Sobral, o atual prefeito da capital cearense, Roberto Cláudio.

Catanho era o articulador político de Luizianne Lins, secretário encarregado de fazer o meio de campo da prefeita com a Câmara e todos nós que não somos crianças, sabemos muito bem o que isso significa.

Não percam a linha de raciocício, heim?

Cid Gomes andou alardeando que ao deixar o governo iria pegar uma dessas assessorias do BIRD, mas por causa do alinhavo feito por Lula, seus aliados já começam a propagandear que ele precisa “fazer mais e melhor” pelo povo do Ceará e portanto, uma candidatura ao senado será imprescindível.

Para Ciro Gomes, que tem pavor ao Legislativo, já estaria reservado um Ministério desses estratégicos, com muitas obras e recursos, provavelmente, o dos Transportes.

Para Luizianne, que tem ideia fixa de voltar a comandar a Prefeitura, Lula insiste que seja candidata à deputada federal, como grande puxadora de votos para o PT e seu candidato Elmano, seria o puxador para Estadual.

José Guimarães, irmão do mensaleiro Genuíno e líder do PT na Câmara Federal, que queria ser candidato ao senado, Lula já mandou tirar o cavalinho da chuva e se conformar em ser vice de Eunício.

Resolvido todo o imbróglio no Ceará, Lula conseguiu isolar Eduardo dentro de seu próprio Partido e em Pernambuco, onde ele mesmo não consegue mais disfarçar o estremecimento de suas relações com o próprio Lula, desde que resolveu abrir dissidência dentro da Frente Popular, mesmo sabendo da inviabilidade de sua própria candidatura, num projeto que só favorece às candidaturas de Marina Silva e Aécio Neves, ou mesmo do próprio José Serra, a quem Eduardo passou a procurar, junto com o senador Jarbas Vasconcelos, por intermédio do presidente do PPS, Roberto Freire, que foi, inclusive, o confessor de Eduardo, quando do episódio em que agentes da ABIN foram flagrados em SUAPE, espionando o governador, para descobrir eventuais relações suas com empresários, conforme noticiado pela revista Veja.

O recente escândalo envolvendo o Partido do governador e o marqueteiro Duda Mendonça, este indiciado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro que teria sido desviado de contratos da prefeitura de João Pessoa, com a empresa IDEIA, para pagamento de campanhas do PSB, tem sido apontado pelo próprio Eduardo Campos como recheado de viés político.

Nunca é demais lembrar que também o governo de Pernambuco tem contratos milionários com essa mesma empresa e que Duda Mendonça é sócio da empresa DM/BlackNinja, juntamente com o muitiempresário Antônio Lavareda, empresa que, por sua vez, também detém contratos de publicidade, tanto com o governo do Estado de Pernambuco, quanto da Prefeitura do Recife, portanto, nada mais natural que o governador enxergue viés político, sendo ele um político, na publicização das investigações.

O que não é natural é que insista em querer nos fazer crer numa amizade de berçário, coisa de pai pra filho, entre ele e o ex-presidente Lula, pois Lula e o PT são indissociáveis.

Lula é o PT e o PT é Lula, que detém o controle absoluto sobre o seu próprio Partido, o que parece não acontecer com Eduardo e o “seu” PSB.

Noelia Brito é advogada e procuradora do Município do Recife