Trocando em milhões Por Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau Na pesquisa de opinião da CNT/MDA, realizada de 7 a 10 de julho do corrente, quando argüidos sobre a quem principalmente se dirigiam os protestos realizados em junho no Brasil, os entrevistados apontaram os políticos em geral (49,7%) e o sistema político no país (21,0%).

Isso quer dizer que 70,7% do eleitorado brasileiro culpam o establishment político pelas mazelas existentes.

Talvez por que tenha detectado esse sentimento um mês antes, a presidente Dilma Rousseff cuidou de se isentar de responsabilidades e redirecionar os petardos das manifestações para a classe política, via emparedamento do Congresso Nacional.

Nessa estratégia buscou ressuscitar a questão da reforma política via consulta pública, na forma de plebiscito.

Acontece que a reforma política foi considerada, na mesma pesquisa, a reivindicação mais importante das manifestações por apenas 16,5% da população.

Ademais, quando o cidadão concede status de prioridade à reforma política ele não está colocando em primeiro plano a mudança de sistema proporcional de lista aberta pelo de lista pré-ordenada ou pelo majoritário-distrital.

Nem, tampouco, dando ênfase à discussão do financiamento de campanha, ou à existência de suplentes de senador.

Quando o cidadão elege a reforma política como importante ele está querendo mudanças nas instituições políticas, na prática política, no comportamento dos políticos.

Na verdade, as demandas mais prioritárias apontadas na pesquisa foram o fim da corrupção (40,3%) e melhorias na saúde (24,6%).

Estes dois itens mais melhorias na educação, transporte público e segurança perfazem nada menos que 81% das reivindicações mais importantes na visão do povo.

Essa pauta é prioritária, portanto, para 115,8 milhões de eleitores (de um total estimado de 143 milhões em 2013).

O foco nesses itens indica que a aparente “demanda popular difusa” nos protestos não encontra respaldo na evidência empírica (apenas 0,4% da população respondeu “outra”, afora as reivindicações listadas acima).

A população exige mais cidadania e isso passa pelo combate à corrupção e pelas melhorias indicadas em: saúde, educação, transporte e segurança.

Não é a toa que quando perguntada na mesma pesquisa sobre a avaliação da presidente Dilma diante das manifestações a população quase que se divide no julgamento: 24,6% acharam positiva e 20,7% negativa. 35,2 milhões de pessoas contra 29,6 milhões, respectivamente.

Os motivos das manifestações apontados na pesquisa foram a insatisfação com (nesta ordem): corrupção, saúde, gastos da copa do mundo, preços e qualidade do transporte urbano, educação e segurança.

Obviamente que tal estado de frustração do povo seria refletido nos índices de avaliação do governo, conforme mostram os dados desfilados no gráfico acima.

Entre junho e julho deste ano 32,7 milhões de pessoas deixaram de avaliar a gestão de governo como positiva, ao passo que o número de insatisfeitos cresceu 29,3 milhões.

Neste mesmo lapso de tempo, a provação do desempenho pessoal da presidente desabou (vide gráfica abaixo): de uma diferença favorável entre “aprova” e “desaprova” de 76,2 milhões em junho, o hiato se reduz à apenas 2,9 milhões em julho.

Quer dizer, 34,9 milhões de brasileiros deixaram de aprovar o desempenho pessoal de Dilma Rousseff, enquanto o quantitativo dos que desaprovavam cresceu 38,4 milhões.

Mesmo diante desses números assustadores os estrategistas do Palácio do Planalto continuam ignorando a pauta concreta que essa pesquisa de opinião indicou.

A idéia fixa tem sido a realização do plebiscito para a reforma política, como se a consulta popular tivesse o condão de minorar o desalento que toma conta do cidadão brasileiro.

A estratégia é de todo equivocada.

Pesquisa do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), levada a efeito apenas na cidade do Recife, entre os dias 8 e 9 de julho do corrente, apontou um quadro que não deve ser muito diferente do resto do Brasil: 58,5% das pessoas não sabem o que é reforma política e acham o tema complexo (72,8%).

As pessoas também não sabem o que é plebiscito (68,1%) e, tampouco, o que é referendo (79,1%).

Se as perguntas eram sobre sistema de voto, basta dar dois resultados: 78,5% não sabiam o que era o voto distrital e muito menos o que era o voto distrital misto (84,1%).

Como então o governo insiste em consultar as pessoas sobre assunto que elas desconhecem, ao invés de dar-lhes respostas concretas ao que demandam?