Perto do ano eleitoral, e ainda sob o impacto das manifestações de junho, a presidente Dilma Rousseff vê o embalo de crises e a sombra de Lula cada vez maios forte.
Foto: ABr Por Débora Duque DO JC Online Os últimos 50 dias foram turbulentos para a presidente Dilma Rousseff (PT).
Ao completar dois anos e meio de mandato, a petista precisou enfrentar crises simultâneas que terminaram por ocasionar uma queda brusca em seus índices de popularidade e, até mesmo, colocar em dúvida sua candidatura à reeleição.
Nas ruas, teve que lidar com a onda de protestos em plena Copa das Confederações.
No Congresso Nacional, o aumento da pressão da base aliada que, ao sentir o momento frágil do governo, vislumbrou a oportunidade para aumentar a barganha política.
Na economia, a baixa nas expectativas de crescimento.
E, dentro do próprio partido, a desconfiança de setores que passaram a engrossar o movimento pela volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Diante da sucessão de agendas negativas, permanece, no meio político, a interrogação sobre os motivos que levaram Dilma a entrar no que se chamou de “inferno astral” e quais os caminhos para sair dele “ilesa” antes da eleição de 2014.
Na última quinta-feira (11), o ministro da secretaria-geral da Presidência, Gilberto Carvalho (PT) – um dos mais próximos de Dilma –, buscou passar uma mensagem de “otimismo”, resgatando a comparação da crise atual com o desgaste sofrido pelo ex-presidente Lula ao longo de todo o segundo semestre de 2005, após as denúncias do “mensalão”.
Lembrou que, a despeito do desgaste que atingiu o partido na época, Lula conseguiu recuperar sua taxa de aprovação e se reeleger no ano seguinte. “Quem viveu 2005, onde já era proclamado por vários editorialistas que o governo Lula tinha acabado, que não ia ter reeleição, tem que ter muita serenidade agora”, declarou Gilberto Carvalho.
Mas, na opinião de analistas, o alcance da crise atual é muito mais profundo.
O consultor político Gaudêncio Torquato alerta que o episódio do “mensalão” pouco tem a ver com o momento atual.
Ali, diz ele, o desgaste era pontual e restrito a um único partido, o PT.
Agora, as causas são difusas e acumuladas.
Por isso, a manobra é mais complexa. “O mensalão foi algo pontual.
A crise atingiu um único partido e não havia grandes manifestações nas ruas, como se viu no ultimo mês.
Agora, o governo está sendo cobrado por problemas que acumula há muito tempo, além de haver uma crise de representação”, pondera.
Para o cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, é a falta de articulação política que torna Dilma mais vulnerável numa conjuntura negativa.
O fator decisivo de instabilidade política foram as manifestações que se espalharam pelo País.
O estopim delas, porém, foi pontual.
No início, os protestos se restringiam à questão da passagem de ônibus e eram localizadas principalmente em São Paulo.
A repressão policial, segundo, Velho Barreto, fez a causa se expandir.
E, associada à insatisfação generalizada com os serviços públicos, ao distanciamento da classe política das demandas sociais e à evidência dos gastos exorbitantes com a Copa das Confederações transformou o país num barril de pólvora.
Dilma chegou a ser vaiada na abertura do torneio Embora não fosse o único alvo de queixas, Dilma foi obrigada a agir.
No anseio de responder “a voz das ruas”, anunciou um pacote de medidas com cinco pontos prioritários.
A principal delas foi a realização de um plebiscito para a convocação de uma constituinte exclusiva com a prerrogativa de promover uma reforma política.
Mas recuou da ideia da Constituinte no dia seguinte, assim que surgiram as primeiras manifestações contrárias de juristas e integrantes da base do governo, como o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que não havia sido consultado previamente.
Dilma manteve apenas a sugestão do plebiscito que, agora, serviria para coletar a opinião da população sobre a reforma.
Foi alvo, novamente, de uma avalanche de críticas por não ter ouvido aliados. “Ela quis dar respostas rápidas sem analisar a viabilidade”, analisa Gaudêncio Torquato.
Para Túlio Velho Barreto, porém, o problema foi justamente o contrário.
Segundo o pesquisador, a presidente acertou ao relançar a pauta da reforma política, porque o que estava em xeque era justamente as instituições, mas perdeu o “timing” para reagir aos protestos das ruas.
Ciente das deficiências nas interlocução com a base aliada, longe de ser coesa, ela apostou na forte pressão popular que pairava sobre a classe política para “forçar” o Congresso - que dias antes teve seu telhado ocupado por manifestantes – a encampar as medidas.
Quando resolveu tomar a iniciativa, o movimento das ruas já estava refluindo e a pressão, claro, já não seria a mesma, na opinião de Velho Barreto. “O tempo dela não foi o tempo das ruas.
Quando ela resolveu agir, as manifestações já estavam refluindo e ela perdeu a pressão popular que precisava para fazer o Congresso aprovar as principais medidas”, comenta Velho Barreto.
Também perdeu, segundo ele, a chance de tornar-se menos dependente do PMDB, partido com maior força no Congresso.
A presidente terminou refém, mais uma vez, de sua base parlamentar com a qual nunca conseguiu manter uma “relação estável” desde que assumiu o governo.
Além de ter sido obrigada a recuar na ideia da Constituinte, viu, na última semana, a ideia do plebiscito ser “enterrada” - para utilizar um termo empregado pelos próprios parlamentares – pelo Congresso, que instalou uma comissão própria para discutir a reforma na tentativa de esvaziar a ideia de uma consulta popular prévia.
E não foi só isso.
A proposta original de destinar 100% dos royalties do petróleo para educação, anunciada por Dilma em rede nacional, também recebeu modificações no Legislativo.
Agora, pelo menos 25% dos recursos, serão destinados a Saúde.
A base aliada também ensaiou rejeitar a PEC que extinguia a figura do segundo suplente de senador, que constava na lista de “sugestões” enviadas pelo governo federal.
Com a queda de 27 pontos na taxa de aprovação do seu governo no curto intervalo de três semanas, segundo pesquisa Datafolha, a recuperação da popularidade de Dilma, segundo analistas, depende dos avanços na economia, do aperfeiçoamento do diálogo político com a bancada governista, em Brasília, e das ações que serão adotadas daqui para frente com o objetivo de imprimir uma “marca” ao governo.
De acordo com Gaudêncio Torquato, Dilma, dificilmente, poderá se apoiar, em 2014, de forma exclusiva nos programas sociais , como fez seu antecessor.
A pauta, segundo ele, mudou e a população que viu a renda crescer, nos últimos anos, quer, agora, ter acesso a serviços públicos de qualidade.