Por Terezinha Nunes Organizadas através das redes sociais, as manifestações populares recentes já produziram milagres através do mundo como derrubar ditaduras quase seculares em países árabes e fazer avançar reformas que levariam décadas para sair do papel.

No Brasil não poderia ser diferente.

Fizeram acordar o país “deitado em berço esplêndido” e detonar a popularidade de governantes que vinha sendo mantida muito mais pelo poder do marketing do que pela resposta às demandas sociais.

A presidente Dilma já estava reeleita, diziam as pesquisas, antes da explosão popular.

Agora não se tem mais certeza de nada.

A não ser de um enorme desgaste do PT, o partido que prometeu o paraíso aos brasileiros e rasgou sua principal bandeira, a da ética.

Isso sem falar no caos da educação, da saúde, da segurança pública e do colapso na infraestrutura.

Mais recentemente os brasileiros descobriram que a economia também está indo para o beleléu.

Em Pernambuco, um governador altamente popular, também já começa a experimentar um revés que deve ser mostrado nas pesquisas que estão por vir.

Até que ponto esse desgaste dos governantes vai durar não se sabe.

Nem se são permanentes.

Mas, no calor da pressão das ruas, todo mundo passou a trabalhar de forma célere com receio de contrariar as pessoas.

A presidente Dilma, pressionada pelos 27 pontos de queda em seu índice de aprovação, já apresentou propostas de reforma política que duraram menos de 24 horas, por inexequíveis; fez um pacote de bondades para prefeitos à míngua e levou vaias pois ninguém mais acredita em suas promessas; e, apesar de não estar liberando a tempo os recursos para as obras de mobilidade da Copa, resolveu anunciar a governadores e prefeitos a disposição de garantir R$ 50 bilhões para transporte de massa.

Pior: deu um prazo de poucas horas para que se habilitassem a receber as verbas.

Pois bem, e o que ocorreu?

Analisando o caso de Pernambuco, vimos o governador Eduardo Campos e o prefeito Geraldo Júlio passar noite insone para chegar a Brasília a tempo de conseguir solicitar R$ 6,4 bilhões para obras de mobilidade.

O pior é que a presidente, sem a menor noção das coisas, estabeleceu que a prioridade é o transporte por via ferroviária.

O governador e o prefeito não se fizeram de rogados.

Foram atrás do que tinha na gaveta de proposta que pudesse ser enquadrada como tal.

Daí surgiu um samba-do-crioulo-doido, como se pode concluir das propostas mirabolantes publicadas na imprensa após entrevistas também mirabolantes dos dois governantes.

O governador, que já foi obrigado a desistir dos polêmicos viadutos da Agamenon Magalhães por tê-los anunciado sem ouvir a comunidade e nem explicar sua importância, corre o risco de mais desgaste daqui para a frente.

De repente ficamos sabendo que a avenida Norte, que teria corredor exclusivo para ônibus, agora vai ser contemplada com metrô subterrâneo (o nosso é de superfície) ou mesmo um monotrilho.

Os monotrilhos também podem vir a cortar o centro.

Como ?

Ninguém sabe.

E o custo?

Também é impossível saber mas os projetos básicos foram apresentados e podem vir a ser aprovados para dor-de-cabeça de quem vá executá-los sem estar com os projetos executivos em mãos. É bom, é ótimo, que tenhamos muitas obras de mobilidade pois o Recife está parando mas precisamos de um mínimo de coerência nelas para não enfrentar problemas futuros.

Se Pernambuco e o Recife definirem preto no branco as obras necessárias e a presidente decidir nos enquadrar ao modelo federal não há melhor momento do que esse para que a população, bem informada, diga o que quer e seja ouvida por Brasília.

Dilma, certamente, não será a primeira a contrariar as ruas.

Não agora.

CURTAS Vergonha O Brasil não é um país sério, como dizia De Gaulle.

Agora piorou sua imagem internacional com o malogro de Eike Batista.

Celebrado como um dos mais ricos do mundo, porque se acreditava no que dizia e fazia com respaldo governamental, Eike está com suas principais empresas à beira do colapso.

Uma vergonha pública e privada.

Espaço vazio Na vida pública não há espaço vazio.

Nem nas ruas.

Os movimentos sociais, cooptados pelo PT, deixaram de reivindicar e se desgastaram tanto quanto os políticos na opinião pública.

Agora buscam reassumir o protagonismo mas tudo soa falso.

Batizou-se de greve branca a desta semana.

Nada mais vexatório para líderes sindicais.

Segurança A maioria dos pequenos e médios municípios de Pernambuco está com um limite mínimo de policiais militares.

Um contingente de apenas três homens para dar conta do recado. É o que vem sendo denunciado em audiências públicas e pelas redes sociais.

Enquanto isso a violência interiorana só aumenta.