As vendas a prazo no comércio varejista desaceleraram pelo terceiro mês consecutivo e fecharam o mês de junho com uma leve variação de +0,67%, na comparação com o mesmo período de 2012.
Esse é o menor crescimento anual já registrado, desde janeiro de 2012.
Os dados são do indicador mensal do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
O cálculo leva em consideração mais de 150 milhões de consumidores cadastrados em 800 mil pontos de vendas espalhados pelo país.
Os números de junho mostram um ritmo de estagnação do comércio, afetado por uma combinação de fatores que prejudicaram as vendas.
A inflação alta — acima da meta estipulada pelo governo —, o dólar mais caro — fonte de pressão de aumento dos preços —, os juros mais altos — que encarecem o crédito — e a baixa produção industrial — que acaba reduzindo a oferta—, são os principais combustíveis que inibiram o consumo no último mês.
Na avaliação do presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, a passagem do primeiro para o segundo trimestre do ano marcou uma mudança no ambiente econômico do país. ”No melhor dos cenários, estamos trabalhando com uma inflação que deve fechar o ano no intervalo de tolerância da meta, o que ainda assim continua sendo muito alta.
O que vem servindo para atenuar essa desaceleração nas vendas são o aumento da renda real e o baixo índice de desemprego”, explica.
Manifestações e Copa das Confederações Outros dois fatores pontuais que contribuíram para a piora do desempenho do comércio em junho foram as manifestações de rua que se espalharam pelo país, sobretudo nas capitais e regiões metropolitanas, e fizeram com que muitos lojistas fechassem as portas mais cedo. “Os protestos também podem ter ajudado a despertar uma maior preocupação dos brasileiros com a economia, o que invariavelmente afeta o comportamento e a confiança do consumidor”, diz Pellizzaro Junior.
Com vias interditadas e o sistema de transporte paralisado, o SPC e a CNDL avaliam que a população evitou se deslocar até shopping centers ou grandes magazines localizadas em regiões de fluxo, preferindo postergar as compras, ou — na melhor das hipóteses — comprar em estabelecimentos menores e mais próximos de suas residências.
Já a Copa das Confederações teve sua influência sentida pelos lojistas por causa dos feriados decretados nas cidades-sede que receberam jogos do torneio.
Além disso, parcela considerável de trabalhadores foi dispensada pelas empresas no fim da tarde e algumas partidas foram realizadas no sábado, que é considerado um dos dias que mais movimentam o varejo.
Na comparação com maio, a retração nas vendas foi de -3,74% e no acumulado do semestre – de janeiro a junho de 2013, frente ao mesmo período de 2012 -, as vendas apresentam um crescimento de +6,15%.
Outro atenuante para o fraco desempenho de junho foi o fator calendário, uma vez que junho contou com menos dias úteis e maio foi beneficiado pelo movimento das lojas no Dia das Mães, considerada a segunda data mais lucrativa para os lojistas.
Para Pellizzaro Junior, o segundo semestre costuma ser mais aquecido para o comércio, mas para 2013 ele projeta um crescimento menor. “O varejo deve fechar o ano crescendo em torno de 5%. É menor do que o ano passado, mas o suficiente para apresentar, mais uma vez, um desempenho mais vigoroso do que o PIB nacional”, concluiu.
Inadimplência do consumidor Com baixa movimentação nas lojas de todo o Brasil, os registros de inadimplência acima de 90 dias calculados pelo SPC também foram afetados e fecharam o mês, na comparação com junho de 2012, com um avanço de +1,52%, o menor índice registrado pela série histórica de 18 meses revisada pela instituição.
Na avaliação de economistas do SPC Brasil, o aumento do custo de vida ocasionado pela inflação acima da meta é um dos fatores a ser levado em conta, além da falta de planejamento financeiro na tomada de crédito. “O cenário macroeconômico de 2012 e os primeiros meses de 2013 foram muito favoráveis ao consumo e isso fez com que muita gente contraísse crédito, mas sem planejamento orçamentário, acabou enfrentando dificuldades para arcar com as demais parcelas.
Hoje, o ambiente é de um lojista mais criterioso para conceder financiamento com prestações muito alongadas”, explica Pellizzaro Junior.
Na comparação com o mês imediatamente anterior, o número de CPFs negativados na base de registros do SPC apresentou um crescimento de +1,13%.
No acumulado do semestre, o aumento chega a +6,40%.
Recuperação de crédito O número de cancelamento de registros, que reflete a recuperação de crédito no varejo e a quitação de dividas em atraso, foi negativo em junho de 2013 e apresentou um encolhimento de -1,64% sobre o mesmo mês de 2012.
Em relação a maio, a recuperação de crédito também caiu e apresentou uma retração de -2,50%.
No acumulado do semestre, contudo, o número de consumidores que saldaram dívidas em atraso e voltaram a ter crédito no mercado é positivo e cresceu +5,14%, segundo o indicador do SPC Brasil.
Na avaliação de Pellizzaro Junior, o levantamento demonstra que o comprometimento da renda da população para quitar dívidas, somados ao encarecimento do crédito e a permanência da inflação em patamares altos, dificultaram a renegociação de dívidas no mês de junho.