Por Gustavo Krause, especial para o Blog de Jamildo É o novíssimo ramo da ciência social.
Criação nacional.
Tem por objetivo estudar as manifestações das ruas ocorridas em junho do corrente ano.
Opinou, está diplomado.
Aliás, o mês de junho sempre se consagrou pelas explosões de traque de massa, peido-de-velha, rojões e ruas repletas de pessoas desfrutando os folguedos da época.
De fato, a tríade – Antonio, João e Pedro – santificada pela Igreja Católica sempre foi celebrada com beleza e alegria, graças à tradição que selou a convergência entre o sagrado e o profano, aquecida pelas fogueiras, animada pela emoção do coco, baião, xaxado, alimentada pelo néctar e ambrosia dos humanos (milho, coco, açúcar, canela, bolos variados) tudo culminando com o enlace dos corpos nos arrasta-pés e modernosas quadrilhas.
Até aí tudo bem.
O ciclo junino sempre foi um momento festivo agregador.
Guloso.
Ingênuo.
Divertido.
Levantando poeira nos salões e saudando os céus com fogos coloridos.
Este ano havia um tempero a mais para mexer com alma do povo no país do futebol (?): a Copa das Confederações, um grande aperitivo para a Copa de 2014, Copa saudada por lágrimas ufanistas do então Presidente Lula com a novidade de que a pátria de chuteiras e as seleções estrangeiras pisariam no solo aveludado de Arenas Multiuso ainda que caríssimas e inacabadas.
E não há como negar: houve a explosão popular.
Fora dos estádios.
O povo brasileiro foi às ruas por sua conta e risco.
Sem lideranças legítimas ou fajutas.
Sem palavras de ordem, mas dando ordens por meio de palavras claras e diretas: vocês que estão alojados no poder não me representam; queremos um Brasil melhor e que funcione.
Mudem!
Neste meio tempo, fui convidado para um “jantar inteligente”.
Jantar inteligente é uma criação inteligentíssima, irônica, mordaz, do filósofo, escritor, professor, articulista da Folha/SP, o pernambucano Luiz Felipe Pondé.
E como o espaço é pequeno para descrever fielmente o jantar inteligente, aqui vão alguns elementos básicos: o jantar congrega gente “chique” de variadas profissões que fingem não gostar de dinheiro; consideram o resto do mundo “ridículo” o que ajuda a ser mais inteligente; proclamam-se democratas, mas não morrem de amores pelo cheiro do povo.
De um modo geral, os assuntos são variados, atuais e sempre abordados com o cuidado de não ferir, implícita ou explicitamente, a ditadura do politicamente correto.
Um menu peruano ou vietnamita é de bom tom.
Neste jantar, a conversa foi monotemática: as manifestações de ruas e os respectivos veredictos sobre causas, consequências, cenários, especulações sobre 2014 e leituras professorais sobre os aspectos sociológicos, antropológicos, psicanalíticos e por aí foi.
Com efeito, as questões jorravam na velocidade dos espumantes: primavera árabe ou outono brasileiro?
Baderna ou a não violência ativa, inspirada em Gandhi?
Estavam ali por “míseros” vinte centavos ou pelos bilhões embolsados pela corrupção?
Dilma aguenta o tranco ou volta Lula em 2014?
Chegou ao fim do “ciclo dos postes” eleitos pela força política dos padrinhos?
O curto-circuito dos fios desencapados eletrocutou a democracia representativa?
A internet abre o caminho para a ciberdemocracia ou será uma ferramenta para o Big Brother global faltar com o respeito à soberania das nações e invadir a privacidade dos cidadãos? É possível organizar a desconfiança com uma espécie de democracia de controle exercida com a participação da “política dos governados”?
Entrei mudo e saí calado.
Rouco de tanto ouvir.
Não sabia bem o que dizer.
Mas fui forçado a acreditar que a manifestologia é uma nova ciência e que existem mais aviões da FAB entre o céu e a terra brasileira do que possam supor os jantares inteligentes.