Por Roberto Numeriano A presença ostensiva de policiais da PMPE junto ao DCE da Unicap, no dia 28 passado, inclusive filmando nas cercanias da reunião dos estudantes, é uma das mais graves violações ao livre direito de se reunir e de associação, conforme garante a Constituição federativa.

Os estudantes denunciaram o fato ao reitor da Unicap, que pediu a saída dos militares.

Momentos depois, eles voltaram e fotografaram a reunião, numa clara atitude intimidatória, na linha do vigiar e punir.

Talvez o governador Eduardo Campos imagine o nosso Estado, um feudo, e seus cidadãos, vassalos rebeldes.

A memória do seu avô, que sabia costurar alianças para obter o maior ganho possível para os pobres (justamente o inverso do que faz o neto, bom moço para os coronéis da indústria e de todo interesse corporativo conservador, como a mídia pernambucana), está sendo vilipendiada pela arrogância de quem, pretendendo estar acima da lei, intimida e reprime o bom direito.

E não deixa de ser curioso que, dia desses, o governador estava irritado com tentativas de supostas espionagens de agentes da Abin no Porto de Suape…

Quem essas autoridades pensam ser?

Acham que estão acima da lei?

O Brasil viveu uma ditadura de 21 anos para, depois da Carta Magna de 1988, ver militares vigiando estudantes que se reúnem pacificamente?

Ultimamente, em Pernambuco, vejo, nos noticiários, cada vez menos integrantes da sociedade civil, e cada vez mais autoridades policiais e de segurança opinando sobre eventos de caráter social e político.

Também não li nenhum editorial condenando o ato ilegal dos policiais.

Talvez porque até agora nenhum jornalista foi atingido, nem as redações sofreram vigilância.

Esses senhores são os mesmos que, no dia 20 de junho, saíram às ruas com uma tarja com a palavra “Paz”, e depois, desligados os holofotes, começaram a reprimir excessivamente as manifestações seguintes, que não obtiveram cobertura extensa da mídia.

Num passe de mágica, cessado o marketing demagógico do Palácio do Campo das Princesas, sobraram prisões arbitrárias, pauladas, gás lacrimogêneo e balas de borracha.

E depois esses mesmos policiais querem o apoio da sociedade civil quando reclamam de seus salários e da deficiente infra-estrutura das unidades.

Que os estudantes coloquem na agenda de lutas das ruas e praças o Controle Público da Comunicação Social, o Controle Externo do Poder Judiciário (uma casta em geral conservadora e fechada à sociedade pobre), a Desmilitarização das Polícias e o Fim do Financiamento Privado de Campanhas Políticas.

Nenhuma dessas lutas o bom moço de Pernambuco aprova.

E todos sabemos o porquê.

Roberto Numeriano é cientista político, jornalista, professor e militante do PSOL/PE.