Por Cleonildo Cruz, historiador e cineasta O Brasil experimenta novos valores organizativos de mobilização, diferentes e difusos de uma sociedade em rede como fala Manuel.
Quem quiser entender como funcionar é só olhar os movimentos que acontecem faz tempo.
Temos uma novo elemento catalisador desses novos “protestantes globais” do século XXI que é a internet, em especial as novas tecnologias em rede que vai dos celulares em conexão global com sua rede de contatos através do facebook e outras médias sociais.
Não podemos esquecer que cada país, região e o ethos de cada indivíduo faz esse grande amálgama que foi o movimento aqui no Brasil.
Quem já não ouviu falar dos movimentos antiglobalização?
Que movimento é esse?
Desde Seattle, Washington (Estados Unidos) 1999, cerca de 50.000 pessoas se juntaram e fizeram um grande protesto ao terceiro Encontro Mundial da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Integrantes de Ong’s, trabalhadores, estudantes universitários, anarquistas, gays, lésbicas e minorias étnicas cercam, bloqueiam e atrasam o início de várias reuniões governamentais no âmbito global.
De lá para cá, os protestos não cessam.
Vários movimentos de resistência a globalização econômica.
Aonde houver reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI), lá estarão os integrantes do movimento antiglobalização de uma sociedade em rede e vivenciarmos agora aqui no Brasil.
Tive a oportunidade de estar no Chile, em 2011, no meio do furacão dos protestos dos estudantes pela qualidade da educação.
Na época colocava que via certa apatia, ausência de emoção ou entusiasmo dos nossos estudantes brasileiros frente a pautas e bandeiras.
Hoje percebo com alegria que o movimento despertou e é preciso decantar o momento atual e buscar a efetividade das bandeiras de lutas nos espaços institucionais da nossa democracia.
Não podemos esquecer que este congresso é um reflexo da sociedade brasileira.
Espero que o novo parlamento, que será eleito no próximo ano esteja em harmonia com este novo momento.
Ressalto que se faz necessário uma nova prática política dos eleitos e eleitores.
Qual é a gênese desses novos protestantes?
Não do sistema religioso que os oprime, mas do sistema capitalista que busca homogeneizar as mentes e gostos humanos.
Portanto, num globalitarismo da democracia ocidental.
Ativistas anticapitalistas fizeram ecoar seus protestos antiguerra, quando a coalizão anglo-americana atacou o Afeganistão e o regime Saddam Husseim.
Exigiram Paz e não a guerra.
Os protestos no Irã, em 2009; Primavera Arabe: Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Iêmem e Barein, em 2011; Chile, em 2011; a Espanha, em 2011; Turquia e Brasil em 2013.
O processo de globalização tem gerado disparidades gritantes, está concentrando poder e marginalizando o pobre.
Mais da metade da população mundial são pobres miseráveis.
Cerca de 54,7% vivem com menos de um dólar/dia.
A aldeia global vive sob a tenda do livre comércio, dos oligopólios, das transnacionais, das alianças (fusões) estratégicas do capital financeiro.
O Estado-Nação perde força como elemento planejador do desenvolvimento sustentável e do combate a pobreza.
O Estado não está só, disputa espaço no seu próprio território, com grandes empresas.
Um Estado destituído de poder.
Entretanto, no movimento antiglobalização, são contrários a essa globalização da produção de miseráveis. É preciso combater a falácia do livre mercado, ou seja, os paises do primeiro mundo impõem barreiras protecionistas aos produtos dos paises em desenvolvimento.
Essa lógica é perversa, devemos contrapô-la.
Pode parecer contra-senso, utilizam a internet, fruto do avanço tecnológico como instrumento de articulação das redes, dos vários movimentos.
São pessoas iguais a nós, sentem na pele a pauperização da vida humana e, embora “frágeis”, enfrentam as grandes corporações do capitalismo.
Considero os movimentos antiglobalização como os novos protestantes da sociedade pós-moderna.
Sejam eles, imigrantes, latinos, africanos, árabes, asiáticos.
São cidadãos do mundo assumindo postura crítica frente ao pensamento único do deus mercado.
A luta desses atores políticos já tomou contornos claros, muito mais que um movimento uníssono em sua diversidade, tendo uma só unidade, combatem o capitalismo.