Michel Zaidan Se a unanimidade no pensamento da classe política brasileira é a rejeição a uma grande, ampla e profunda reforma política.
Os nossos nobres parlamentares temem a mudança das regras do jogo eleitoral, a ponto de colocar em questão a sobrevivência dessa elite patrimonialista acostumada a encarar o mandato como um cheque em branco, que ela pode preencher e sacar, como quiser.
E isto sem dar a menor satisfação à sociedade brasileira.
Não faltam estudos e projetos e a opinião de especialistas acadêmicos e do mercado eleitoral.
No entanto, se depender dos nossos políticos tudo permanecerá como dantes, no quartel de abrantes.
Vivem esquizofrenicamente, num mundo separado do mundo real, do mundo das ruas.
O Poder Executivo não fica atrás.
Preferiu tirar partido de todas as mazelas do sistema político brasileiro, para cooptar, aliciar e comprar o apoio de partidos fisiológicos, clientelísticos, preocupados em se dar bem no troca-troca de favores com a Presidencia da República.
O único Poder que, ao seu modo, contribuiu para o aperfeiçoamento do nosso sistema político foi o Judiciário, através de instruções normativas que promoveram uma mini-reforma eleitoral.
E assim mesmo enfrentando a crítica dos partidos e dos políticos.
O ativismo judiciário, nesse como em outros campos, se faz sentir pela absoluta inação, o desinteresse diante da questão.
Intitulada de “mãe das reformas”, a reforma política é ignorada por quase todos.
Pior, a população não consegue atinar para a relação entre ela e suas necessidades vitais.
No entanto, já há bastante tempo se sabe que a democracia representativa depende da qualidade de sua engenharia institucional.
Quanto piores as instituições, pior a democracia. É o caso da brasileira.
Temos problemas com o abuso do Poder Economico no financiamento das campanhas eleitorais, desequilibrando a competição eleitoral.
Temos problemas com a legislação eleitoral, seja na forma de conversão de votos em cadeiras, seja no fasealmento da vontade eleitoral do cidadão.
O nosso sistema partidário é um mercado, não só frequentado pelas corporações sociais (a Igreja, entre elas), mas permeado pela compra e venda de tempo de televisão e fundo partidário.
E o nosso Presidencialismo multipartidário é o mais improvável dos sistemas políticos!
Podemos perguntar é essa a melhora forma de promover uma reforma política?
Com esses partidos e esses políticos?
Com uma Presidente em queda de popularidade?
Certamente que não.Nenhuma uma grande mudança institucional se faz com açodamento e pressa.
O recurso de buscar o apoio da população através de um Plebiscito se confronta com o fato de que essa reforma é complexa, toca na Constituição Federal, é polêmica e conta com o desafio de convencer o Congresso a acatar o resultado da Consulta Popular.
Acordo que ninguém garante.
Mas sério é o tempo disponível para o esclarecimento da opinião pública sobre a agenda das reformas, para que ela se sinta suficientemente segura para escolher entre as alternativas apresentadas.
O exemplo dos último Plebiscito e referendum mostrou a falta de tempo para que a sociedade formasse uma opinião política sobre os temas em questão.
Não há dúvida de que as manifestações de rua apontam para um enorme fosso entre o Parlamento e a rua.
Contudo, não menos inoportuno e incerto é usar um problema tão sério e antigo como esse, como forma de buscar legitimidade e apoio na população.
Se não fôr mera manobra diversionista, é uma aventura cara,arriscada e pode não resultar em nada.