Por Miguel Sales Promotor de justiça aposentado Na próxima quinta-feira, dia 27, com início às dez horas da manhã, igual ao que vem acontecendo em todas as cidades do nosso País, haverá um grande protesto em Ipojuca, de forma voluntária e pacífica.
Se houver vândalos, venham de onde vier, serão reprimidos pelos próprios manifestantes.
O movimento não tem dono, coordenadores e é totalmente apartidário. É hora de baixar as surradas bandeiras partidárias e deixar o povo falar.
Queremos o povo na rua fazendo suas reivindicações e lutando pelos seus direitos.
Em Ipojuca, por exemplo, que só perde em dinheiro para Recife, não se justifica tantos desmandos, tanta falta de serviços públicos elementares, a começar pela saúde, pela água, pelo esgoto, pelo calçamento, entre tantos outros.
Como integrante da Associação do Ministério Público de Pernambuco vou levantar minha faixa contra a rejeição à PEC 37, para não se ferir as garantias fundamentais da sociedade.
Se a maldita PEC for aprovada, apenas a polícia poderá investigar, inviabilizando a luta contra o crime organizado, a segurança pública, o desvio de verbas, a corrupção e a violação dos direitos essenciais do povo.
A luta contra a PEC é, sobretudo, do cidadão; do mesmo que ele diz que não dá mais para suportar as precariedades dos serviços públicos, os aumentos abusivos dos preços e, principalmente, a corrupção que há em todas as instituições, sobretudo no Executivo, no Legislativo e, de forma velada, no Judiciário.
Essas instituições, que é alma do Estado de Direito, têm o dever constitucional de fazer política com ética, honestidade e dignidade.
Desde a concepção antiga da Democracia, elas apenas representantes do povo, a este não deve impor as suas.
Medidas que fere a República (coisa de todos), a liberdade, os interesses populares, entre tantas outras afirmações constitucionais, têm que serem varridas do cenário nacional.
O objetivo do movimento, das passeatas, das manifestações, que vem ocorrendo de Norte a Sul do País, objetiva também que essas instituições sejam compostas por pessoas capazes de restaurar, em suas entranhas, a dignidade, a ética, a lealdade que é o caminho por onde deveria trilhar a Política.
O calcanhar de Aquiles é que não há mundo sem política, sem instituições, por isso devemos nelas mudarmos o que deve ser mudado.
O atual movimento, de destino imprevisível, no seu caminhar (no andar da carruagem as melancias se arrumam), irá encontrar o seu prumo, por sua própria consciência, a fim de pautar todas as suas reivindicações e primados democráticos.
Mas alguns reclamos já estão claros, como, por exemplo, um não a corrupção, a impunidade, a falta de transporte, de segurança pública e outros serviços fundamentais.
Pelo grito da rua, o Congresso Nacional que aí está não tem mais credenciais de representar o povo brasileiro. É bom não esquecer que já no art. 1º da Constituição da República está dito que todo poder emana do povo que o exerce diretamente ou através de seus representantes.
Mas nestes não basta apenas votar, mas ser vigilante de forma permanente quanto à sua atuação.
O movimento não é favor nem contra a esse ou aquele Partido ou governante, mas contra a todos que não estejam em consonância com as reais necessidades e vontades do povo brasileiro.
O mal está na raiz do nosso modelo político e partidário, que abriga, de modo direto ou oblíquo, os eleitos com fichas sujas e toda a sorte de malfeitores.
Sem uma consciência de base, qualquer partido, coligados ou não, que estivesse no poder municipal, estadual ou federal seriam destinatários dos mesmos protestos.
O mais importante, sobretudo, com a força jovem, é que o Brasil está saindo da letargia, do pântano, da omissão, para ganhar as ruas, a fim de a força, o direito ser dos representados, e não dos representantes, que geralmente governam tendo pela proa os interesses pessoais e a de seus protegidos.
Esse movimento também recordará aos mais velhos o espírito de luta dos tempos da Ditadura, das Diretas Já, havendo uma sinergia: os jovens de hoje pegando aquilo que ficou no passado e os idosos se incorporando ao novo, para ambos se abraçarem no futuro com a democratização da Democracia real.
A rua sempre foi o grande palco que faz florescer e solidificar a Democracia.
E a ela só não vão os corruptos, os que querem continuar mamando nas tetas do poder.
Parafraseando Caetano Veloso, atrás do movimento só não vai quem já morreu.
Se não morreu da vida, morreu no conservadorismo de suas ideias; quando não, encorujados, acuados em suas ilegítimas pretensões.
No dia 20, em Recife, ao lado de colegas de Ministério Público, eu renovei na alma as passeatas feitas nos chamados anos de chumbos, mas dourados para a juventude.
E vejo o quanto valeu a pena a luta do passado, como a de hoje.
Aliás, como dito pelo nosso imortal Fernando Pessoa, tudo vale a pena se a alma não for pequena.
Pela importância estratégica de Ipojuca, coração do desenvolvimento do Pernambuco de hoje, mas com um povo vivendo abaixo da linha da pobreza, esperamos fazer uma grande passeata.
Motivo, sobretudo de alçada municipal, para protestar se protestar não falta.
Todos os municípios são rios, riachos, que vão desaguar no planalto central do País, a fim de que prevaleça o tão antigo axioma da Democracia: governo do povo, pelo povo, para o povo, nas palavras de Abraham Lincoln. É isso aí.