Por Jarbas Vasconcelos, em nota distribuída hoje no Senado O “pacote” de medidas que a presidente Dilma Rousseff anunciou para tentar conter os protestos populares das últimas semanas mostra que o Palácio do Planalto ainda permanece sem noção do que representa o movimento que tomou as ruas das maiores cidades do Brasil.
As propostas da presidente navegam entre a mesmice e a demagogia pura e simples.
Em primeiro lugar, o absurdo da convocação de uma Constituinte exclusiva para tratar da Reforma Política.
Para se ter a ideia do que essa sugestão representa, faço uma pergunta: essa Constituinte poderá acabar com a reeleição impedindo que a presidente tente um novo mandato em 2014?
Teoricamente, sim.
Ou o Governo vai propor uma Constituinte restrita a pontos que interessam apenas ao PT?
Propostas para a Reforma Política existem aos montes no Senado Federal e na Câmara dos Deputados.
O que falta é disposição política de votar e aprovar mudanças que aperfeiçoem o sistema político-eleitoral brasileiro.
O Governo conta com maioria absoluta nas duas Casas do Parlamento.
Tem aprovado o que quer e bem entende.
Eu mesmo apresentei, há seis anos, uma Proposta de Emenda à Constituição que acaba com as coligações nas eleições proporcionais - encerrando aquela história do eleitor votar em João e eleger José.
A proposta está parada no Senado.
Recentemente, apresentei uma outra PEC que determina a cassação imediata do mandato de parlamentar que for condenado por improbidade administrativa.
A presidente agora fala em transformar a corrupção em crime hediondo.
Cinismo puro, pois o Governo e o PT atuam o tempo todo para impedir a prisão dos mensaleiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal.
O Governo também incentivou a tramitação da PEC 37, que retira o poder de investigação do Ministério Público.
Trata-se de mais uma retaliação do PT à atuação da Procuradoria-Geral da República no Escândalo do Mensalão.
E o que dizer dos investimentos anunciados para melhorar a mobilidade urbana e os transportes públicos?
Ao contrário do que sempre defendeu quando estava na oposição, o PT no poder incentivou o transporte individual, reduzindo impostos para a compra de automóveis e deixando de lado os ônibus e o metrô.
Alguns metrôs, como os do Recife, Fortaleza e Salvador tiveram suas obras paralisadas por anos, só retomadas após o anúncio de que o País receberia a Copa do Mundo de 2014.
O PT está no poder há quase 11 anos.
Portanto, não dá mais para ficar olhando para o que ocorreu no século passado, culpando governos anteriores por problemas que poderiam ser solucionados em menos de uma década e não foram por incompetência ou omissão do governo petista.
Está claro – até para aliados do PT – que a reunião no Palácio do Planalto foi promovida com objetivos eleitoreiros, movida pelo medo de uma derrota da presidente e do PT nas eleições do próximo ano.
A presidente Dilma Rousseff insiste em não assumir suas responsabilidades sobre os problemas que afligem os brasileiros.
Tenta transferir responsabilidades para governadores, prefeitos, para o Congresso Nacional e até mesmo para os médicos do País.
De tanto assistir à propaganda do Brasil perfeito, comandada pelo publicitário João Santana, a presidente passou a acreditar num Brasil de ficção - no qual a Saúde é de Primeiro Mundo, a inflação está sob controle, a Educação é de qualidade e a impunidade inexiste.
Não é com demagogia, transferência de responsabilidade e autoritarismo que a presidente da República e o PT darão uma resposta aos brasileiros, sejam aqueles que protestam nas ruas ou aqueles que apoiam as manifestações.