Por michel Zaidan Tenho ouvido muitos comentários sobre o caráter apartidário (não apolítico) desses movimentos sociais recentes.

Reclama-se a falta de uma liderança, de um representante, que possa falar em nome dos manifestantes.

Critica-se a pauta heterogenea, difusa, múltipla dos militantes.

Censura-se a liberdade de expressão dos partidos entre eles.

Por fim, vem agora a classificação de fascista, autoritário etc.

Muitas vezes os críticos esquecem que os movimentos sociais não seguem os manuais, as cartinhas, os tratados de ciencia política, para ocorrem.

Nem pedem licença a ninguém para existirem.

Com ou sem teoria, sem razão, plano ou cálculo, eles são uma necessidade engendrada pelas próprias contradições da sociedade.

Eles simplesmente são.

Pior é o papel de censores omissos da academia, ou daqueles que não mexem uma palha para mudar o mundo.

Limitam-se, em seu canto, a criticar.

Estes são os piores.

Não ajudam e ainda desqualificam a história, porque ela não saiu como eles acham que devia ser…

Da minha parte, acho que muitas lições devem ser tiradas dessas manifestações.

E talvez, a menos importante é a luta virtual, o meio eletronico, as redes sociais etc.

O movimento foi uma das raras manifestações populares, ampla, plural desse já longo governo do PT.

Faz muito tempo em que não se vê uma oposição clara a uma agenda de governo e a um sistema partidário (que lhe dá suporte), como essa.

Parece claro que o governo petista inibiu as manifestações populares no Brasil.

Introduziu uma crise de identidade nos movimentos sociais.

Cooptou lideranças e ativistas da sociedade civil, decapitando os movimentos.

As entidades sindicais e estudantis tornaram-se “chapa branca”, e o estimulo ao consumo, as igrejas, e as politicas de tansferência de renda, fizeram o resto. É uma grande novidade, que deve ser saudada por todos, essa revivescência da sociedade civil.

Ela mostra que, apesar de tudo, a sociedade ainda pulsa, a despeito do futebol e de cachaça.

O nosso país disponha de uma imensa reserva de mecanismos de absorção de choques e insatisfações.

Mas a despeito disso, se mexe, se mobiliza, luta por direitos.

Será que os partidos e as entidades sindicais não entendem que precisam do alimento cívico desses movimentos para se legitimarem perante à sociedade brasileira?

Ou vão continuar no jogo mesquinho e pedestre do fisiologismo, do troca-troca, do amordaçamento do MP, no ataque aos direitos civis e sociais das minorias? - Mas manifestações sociais são um sintoma de um grande mal-estar na sociedade, não a causa.

Cabe aos políticos e sobretudo ao governo, extrair o significado profundo desse sintoma cívico da doença do corpo social.

Será que terão a capacidade de faze-lo?