Por José de Araújo Pereira Filho, engenheiro, especial para o Blog de Jamildo A democracia é, sem qualquer dúvida, um regime extremamente difícil de ser alcançado e exercido e, considerando as demais alternativas, o mais lógico e desafiante.

Não há, de acordo com a percepção de vários cientistas políticos, nenhum país que a exerça na sua plenitude, para alguns, eu inclusive, utópica.

Daí a expressão cunhada por Robert Dahl, “poliarquia”, que exprime a condição da democracia em função das liberdades existentes e das condições sob as quais essa liberdade é exercida.

Na sua plenitude, democracia definida por Lincoln como “ governo do povo, pelo povo e para o povo”, requer do povo, um conhecimento pleno dos seus direitos e obrigações, algo muito distante da realidade vista e vivida nos mais diversos países ditos democráticos.

As liberdades, via de regra, são usurpadas em nome da segurança nacional, da estabilidade econômica, da preservação das instituições ou, até mesmo, para a manutenção do regime.

O uso indevido da democracia conduz a situações de privilégios exacerbados para uma classe dominante ou escolhida, com repercussões extremamente negativas na base da população que paga seus impostos e não usufrui de qualquer privilégio, a não ser o direito (ou obrigação) de votar.

Enseja sensações que variam entre a esperança e o escárnio, a realização e o desencanto, o amor e o ódio.

Tudo isso vem em função das últimas concentrações ocorridas em grande parte do país e, em especial, nas grandes capitais. É constrangedor reconhecer que no Brasil a democracia é mal usada e, portanto, contém todos os ingredientes para a ocorrência das situações acima descritas.

Não é um problema atual, vem do início da sua implantação onde uma grande parte da população nem entendia o porquê do voto nem a razão de ser, aqui, esse voto obrigatório.

Deteriorou-se com o golpe militar de 1964 principalmente com a política adotada para as escolas públicas, antes exemplo para a educação, depois instrumento para a manutenção do status quo da classe dominante e favorecimento da exclusão social.

A redemocratização veio da inércia existente na classe média, como consequência das mudanças ocorridas no “Velho Mundo” e também como decorrência do fim da “Guerra Fria”.

Não obstante, o país não via grandes mobilizações de massa há muito tempo.

Parecia anestesiado e conformado com as aberrações contidas nos péssimos serviços públicos e, aqui é necessário explicitar, com o beneplácito do capital privado que alcança enormes lucros na ineficiência do Estado.

Portanto, mesmo sem conhecer quais resultados serão alcançados com os movimentos da atualidade, esperamos que esse alerta dada à classe política e aos poderes constituídos, únicos responsáveis pelo estado de carência atual da sociedade que clama, ao final, contra corruptos e corruptores indutores da ineficiência e ineficácia do Estado traga o benefício de um uso melhor da nossa democracia.