Michel Zaidan Uma funcionária consular responsavel pelo escritório do governo japonês, às vésperas da viagem da presidente Dilma ao japão, pergunta o que aconteceu com o povo brasileiro.
Pacífico, amável, acolhedor e amante do futebol (até do Japão), o povo se revoltou, foi para as ruas protestar contra o disperdício do dinheiro público, a corrupção, a falta de verbas para a educação, a saude, o transporte público etc.
Deve ser uma imensa novidade para os estrangeiros, acostumados com a imagem do brasileiro cordial, bonzinho, apaziguador, interessado apenas em sua cervejinha e um espetinho de gato nas noites da sexta-feira e do fim de semana.
Pelo visto este esteriótipo e os conhecidos clichês sobre a sociedade brasileira terão que dar lugar a imagem do “homo vox” ou do “homo ludens”, aquele que vocaliza demandas e tem consciência de direitos republicanos. É um progresso, apesar da mídia querer pauta r os bons e os maus reivindicantes.
De toda maneira, é incontestável a vitória desse movimento de massas.
Nada mais, nada menos que a Presidente da República foi obrigada a suspender sua viagem ao Japão, para responder - ponto por ponto - à pauta de reivindicações do movimento.
Reconheceu a justeza das reivindicações.
Falou da necessidade de melhorar os serviços públicos no Brasil.
Aludiu ao um plano de mobilidade nacional com o objetivo de melhorar o transporte público.
Garantiu que 100% dos royalites do Petróleo vão para a educação.
E disse que vai contratar 1000 médicos estrangeiros para cuidar da população.
E ainda afirmou que o dinheiro gasto com os estádios de futebol foi emprestado e que deve voltar aos cofres públicos. É de suma importãncia reconhecer o êxito e os logros dessa multidudinária manifestação popular e democrática nas ruas do país.
As poucas lideranças desse movimento falaram em “ação direita” e cultura mobilizatória", para deixar bem claro que ninguém os representa nem pode falar por si.
Não há representantes institucionais, partidários ou sindicais.
Trata-se de um comitê “ad hoc” surgido alí no chão das manifestações, com um mandato imperativo expresso.
Nada mais do que isso.
Parecem anarquistas: não querem saber dos partidos, da política e dos políticos.
Querem a negociação direta com o governo municipal, estadual e federal.
Indício de uma grave crise de representação parlamentar no Brasil, enquanto as igrejas pentecostais e neo-pentecostais aumentam seus representantes homofóbicos nos parlamentos e atacam sorrateiramente direitos civis e sociais das minorias.
A Presidenta Dilma falou em reforma política e na necessidade de dialogar com as “vozes da rua”.
Reconheceu ao seu modo a grave crise de representação.
Ela, que vem contemporizando com as bancadas evangélicas.
Cutucando o diabo (travestido de anjo) com vara curta.
Admitiu também a necessidade de uma urgente mudança de prioridade da administração pública, além do enorme montante destinado a amortizar a dívida pública brasileira.
O meio encontrado para financiar a monstruosa máquina da administração pública no Brasil.
Disso, ninguém duvida.
Até parece que as prioridades do governo são: pagar os juros da dívida, subsidiar o consumo da chamada “nova classe média”, através do endividamente público e transferir renda, através da bolsa família, para a população pobre do país.
O resto que fique com a copa e a mini-copa do mundo.
Muitas lições serão (ou não?) tiradas dessa festa cívica e democrática.
A principal delas: os jovens se expressam, se organizam e se mobilizam às margens do sistema institucional de representação (através das redes sociais) e não estão contentes ou acomodados.
Estão vigilantes e ativos.
E vão continuar assim por muito tempo.
Viva los estudiantes! como diria Violenta Parra, nos anos 80.