Por Jônatas Campos, correspondente internacional e jornalista ligado ao PT Estou acostumado a caminhar toda a avenida Conde da Boa Vista.

Ou participando de alguma passeata junto a movimentos sociais e partidos políticos, ou até quando fui repórter cobrindo tais manifestações, que no Recife são muitas.

Essa quinta-feira vi muita, muita gente na rua.

Estava bonito.

Ver uma turma que nunca participou de nenhuma militância política caminhando e soltando sua voz da sua maneira.

Seja com cartazes, palavras de ordem ou cantando o Hino Nacional: “se teu futuro ’espera’ essa grandeza, Terra adorada”.

Percebi, como muitos já disseram, uma pauta difusa, abrangente e pouco objetiva.

Evidentemente fruto da falta de uma direção política, mas que em nada tirava o brilho do evento.

Muitos estavam ali pela primeira vez e acho isso muito didático.

Diante da grande quantidade de cartazes contra a PEC 33 (na verdade PEC 37), eu perguntei a um rapaz, só de sacanagem, o significado dessa PEC. “É para roubar ainda mais o Brasil”, disse.

A mesma turma que entoava o refrão da música de Geraldo Vandré “vem vamos embora que esperar não é saber”, tocando em um carro que se meteu no meio da passeata, também estava violenta. É verdade, diante de tamanha descrença nos partidos políticos, os “manifestantes” que “acordaram agora” creditaram toda sua raiva nas legendas, afinal de contas, o tema corrupção é martelado na televisão, Vejas da vida e jornais diários como se fosse o único e principal problema da nação!

Sim, a palavra “nação” voltou à moda!

Eu presenciei a raiva dos manifestantes ao visualizar qualquer sinal de camiseta, bandeira ou broche de partido.

Um bullyng coletivo com palavras de “não partido” iniciava-se automaticamente até que a pessoa se sentisse constrangida e se retirasse!

Caso resistisse, era evidente a intenção de partir para violência.

Veja só que engraçado: os partidos políticos de esquerda lutaram tanto para garantir a liberdade de expressão, alijados de uma “manifestação democrática”.

Esse gigante acordou mal humorado.

Percebi também que passando das 18h, já na avenida Guararapes, as roupas, caras e as pautas mudavam.

Já era noite, o local já não era tão limpo, tinha um boato de que as torcidas organizadas estavam por ali.

Agora restava mais gente de movimentos sociais, grupos GLBT com uma bandeira enorme e cartazes com demandas mais específicas.

Ouvi um “ei, Dilma, vai tomar no cu", mas uma turma revidou e calou a palavra de ordem com uma imensa vaia.

No Marco Zero aquela doidice romântica.

Sensação de dever cumprido no rosto das pessoas.

E sim, é verdade, todos que foram para as ruas ontem cumpriram um dever cívico, didático.

Os poderes constituídos terão que dar respostas imediatas a tudo que aconteceu ontem.

Dilma deve entrar em cadeia de rádio e televisão urgente para apresentar um plano arrojado de ações que atendam a pontos dessa pauta.

Prefeitos, governadores, deputados e vereadores serão que se desdobrar para traduzir esse terabyte de informações e sintonizar-se com as demandas das ruas.

Golpistas, criminosos e arruaceiros devem ser identificados.

Apesar da violência de alguns, todos ganhamos com as mobilizações de ontem.

A frase da música de Milton Nascimento cabe perfeitamente no momento: “sei que nada será como antes amanhã”.