Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem Por Fernando Castilho, do JC Negócios, especial para o Blog de Jamildo Quinta-feira, 20 de junho e o Centro do Recife parado.

Parado em termos de negócio do varejo.

Tudo fechado e na Avenida Conde da Boa Vista era uma corrente humana de atacado de emoções que não parava de passar.

Uma curiosa movimentação (para quem já esteve nesse tipo de cobertura há mais de 30 anos) porque a primeira passeata contra essa esculhambação institucional que está ai é de pessoas que não estão preocupadas com a polícia, mas com a formação de pequenos grupos que poderiam e que eles não deixaram melar o sentimento pacifico que dominou o evento como se viu em vários lugares do Brasil.

Visto do lado da avenida, palco de outras manifestações, a coisa funciona como um extraordinário filme em realidade ampliada onde simplesmente não para de passar gente.

Muita gente.

Mas, ainda não há palavras de ordem.

Há uma espetacular manifestação de sentimento do cidadão comum que estava de “saco cheio” com essa coisa que está ai e que nos incomoda.

Do lixo em termos de representatividade em que nos tornamos.

Não podemos nos iludir.

Ainda estamos no estágio zero um da manifestação humana do sentimento de indignação.

Aquele onde o cidadão sozinho, ou com sua família, sai de casa e leva para as ruas a sua visão de nojo, de revolta e de insatisfação com aquilo que essa classe gente que está aí transformou o Brasil.

Estava tudo ali na Avenida Conde da Boa Vista.

O Brasil era para ser uma experiência maravilhosa e nos últimos anos virou isso.

Jovens que nunca conheceram a inflação foram ao longo dos anos sendo bombardeados por atitude cínicas onde o mal feito virou referência e o esperto e o desonesto virou um modelo.

Mas não uma unanimidade.

Portanto o que estamos vendo nas ruas não é, senão, um resgate de valores simples como a cobrança pela volta dos bons valores.

Do respeito ao cidadão e pelo zelo com a coisa pública.

Do ético e do respeitável.

E isso estava nos cartazes que iam da causa LGTB à contra a uma Proposta de Emenda Constitucional que é suficiente para indignar uma geração de jovens porque ela tenta perpetrar o nível de impunidade subvertendo valores.

A PEC 37 só virou assunto de interesse dos jovens porque ela elimina a desejo deles em punir culpados.

Em todo lugar a função de promotor é para denunciar.

Ele é o fiscal da lei, mas virou polícia porque a pressão dos governadores ficou tão escandalosa sobre suas polícias que as pessoas, agora, exigem que uma anomalia permaneça porque ela virou garantia de alguma investigação.

Mas, alguém pode achar foco numa passeata dessas?

Não Pode!

Porque, como se viu ontem, isso ainda reflete o estágio um. É todo mundo só expressando sua indignação pessoal.

Com aquilo que considera a mais importante.

O que, naturalmente, faz de cada cartaz um bandeira própria, uma causa própria.

Ainda não temos um foco.

Mas, isso naturalmente acontecerá.

O que impressiona nessa manifestação número um, é que as pessoas estão festejando o começo de uma possível mudança.

E eles ainda terão que aprender a fazer aquilo que seus pais e tios tanto contam nas conversas e nas fotos que guardam do passado.

Depois de um geração de pessoas que se preocuparam apenas com a sua propriedade familiar e as vantagens de uma renda familiar maior, estamos tendo a oportunidade de incluir a próxima geração na saudável atitude de protestar. É isso que a manifestação trouxe em perspectiva: a de abrir a possibilidade da afirmação de uma geração de novos líderes.

De permitir que se possa ter a esperança de ver nascer uma nova geração de gente capaz de indignação e de valores que estavam meio fora de moda.

Se a gente olhar a nossa classe política vai ver que a geração de políticos que ela gerou, entrou na política para perpetuar o que seus pais conquistaram.

Seus filhos estão ali para perpetrar um pedaço conquistado.

Basta ver a quantidade de filhos que hoje herdaram mandatos sem qualquer aptidão.

Então o maior exemplo dessa passeata no Recife foi a de uma festa para a garotada cantar o hino nacional.

Certamente foi a primeira vez, em muitos anos, que uma multidão junta não cantou um “cazá, cazá, cazá, N-a-u-t-i-c-o ou um Tri, tri, tri.

Tricolor.

Então, isso dá um pouco de esperança de que essa meninada conectada, enfim, tenha tomado gosto pela política mesmo sem saber disso.

Eles nem sabem disso, mas, estão fazendo ali nas ruas a melhor forma de política, aquela que se indigna e deseja mudanças. É verdade ainda estão desajeitados.

E ainda não há um foco por um pacote de reinvindicações, porque ainda não estão conectados apesar da intimidade no Facebook, num feixe com foco objetivo.

Mas, começa assim mesmo.

Portanto, depois de cobrir mais uma passeata, a gente volta para a redação com um pouco mais de esperança de que, daqui a um ano, essa mesma garotada ajude a fazer uma faxina naquilo que essa geração de políticos transformou a política brasileira.

Há, portanto, uma esperança.

Então só cabe uma palavra: bem vindos, meninos.

A geração que lutou para devolver esse país e que se frustrou com tanta coisa equivocada pode ter, enfim, alguma esperança.

De que como dizia a música do Rappa: Valeu a pena / Êh! Êh! / Valeu a pena / Êh! Êh!