EM PESQUISAS, JOVENS DEIXAM CLARAS SUAS INSATISFAÇÕES Na Folha de São Paulo Pesquisa do Datafolha realizada no final de 2011 sobre os protestos de alunos da USP contra a presença da Polícia Militar no campus mostrava que o conflito na universidade era um sintoma de crise democrática.
Em análise publicada na época, o Datafolha apontou que o distanciamento dos canais tradicionais de participação política era preocupante.
Várias pesquisas do instituto junto ao universo dos jovens deixavam claras suas frustrações em relação aos seus representantes.
O texto citava a “internet como arma política desse segmento em uma mobilização que dispensa intermediários e que encontra base no grau de identificação social entre os usuários da rede”.
Dados divulgados nos últimos dias comprovam o agravamento dessa crise de representação.
O prestígio das instituições políticas, especialmente as dos Três Poderes, caiu significativamente nos últimos dez anos entre os paulistanos e a grande maioria dos participantes das manifestações declara-se apartidária.
Em tendência oposta, as redes sociais na internet figuram como instrumentos supervalorizados e de grande credibilidade principalmente entre os jovens.
Os R$ 0,20 de aumento do transporte público foi o gatilho nesse processo de deterioração nas relações entre representantes e representados.
Mais uma dentre tantas outras demandas sociais feridas pelo poder público ao longo de anos.
Até aí, nenhuma novidade.
Mas foi o suficiente para fertilizar um campo minado.
Ao deixar o virtual para protestar no mundo real, da universidade às ruas, provocou a identificação imediata dos mais diferentes estratos sociais.
A imagem da repressão policial contra os jovens escolarizados despertou o apoio tanto de setores conservadores da classe média, que sofrem de insegurança crônica quanto, ainda que timidamente, quanto dos moradores da periferia, já familiarizados com a violência da instituição.
Nesse momento o apoio aos protestos atinge patamar semelhante ao do início da campanha das Diretas, acima de 70%, conferindo-lhe legitimidade.
Se esse apoio amplo torna as manifestações heterogêneas como a realidade de São Paulo, por outro lado podem levá-las a um grau de complexidade intratável –como a representatividade por espelho, não refletirão apenas demandas, mas, principalmente, o desequilíbrio, as diferenças e os conflitos sociais típicos de uma cidade mal tratada e desigual.
Foi o que se viu nos confrontos internos entre manifestantes nas tentativas de invasão da prefeitura e nos saques à lojas.
Esses episódios alertam o poder público para a urgência da criação de canais de participação adequados aos contrastes da cidade. É preciso ouvir a população, antes que ela grite.