Por Fernando Castilho, do JC Negócios Eu entrei na Universidade Católica em 1976 e no ano seguinte já estava fazendo um bico no Diário da Noite, vespertino que pertencia ao Jornal do Commercio e foi escola de boa parte dos maiores jornalistas brasileiros, numa relação da qual não me atrevo a dizer que faço parte.
Em 1978, quando o Brasil começou a falar na volta dos exilados, começaram as primeiras passeatas.
O tema era nacional e o PMDB, que liderava a resistência, cunhou a frase “Pelas Liberdades Democráticas” para abrir as passeatas.
Os tempos eram outros e boa parte da Redação sabia que estava sendo vigiada.
Fotos e documentos eram copiados e levados por agentes infiltrados para a Polícia Federal e a gente sabia que alguém que se dizia jornalista poderia ser um colaborador do governo militar.
Por isso, cobrir passeata dava medo, mas era um grande barato.
Até porque era uma festa democrática.
Se você for pesquisar nos arquivos da Ditadura vai ver que, de frente, vinham pessoas como Jarbas Vasconcelos, Fernando Lyra, Cristina Tavares e Marcos Freire.
E todo mundo adorava quando, na Praça da Independência, o saudoso Fernando Lyra com aquele vozeirão de sabiá de coreto anunciava o discurso de: Jarrrrrrrrrrbas Vasconcelos e de Marrrrrrcos Freire.
Era pauta com matéria certa na primeira página cobrir todas as solenidades do Exército e todos os movimentos dos governadores tentando achar uma outra palavra mais crítica e, ainda nas passeatas, ver como a população reagia.
No começo tímida, e a seguir com mais participação.
Ah!
Também tinha repressão braba.
Era cavalaria, cachorro e gás lacrimogênio contra jornalista, sim.
Bom, às vezes uma parte dos movimentos devolviam jogando bolas de gude contra as cavalaria.
E aqui para nós, quando o Brucutu da PMPE chegava dava um medo dos diabos.
Porque ele vinha para cima da gente e a polícia adorava botar jornalista para correr.
Mas era legal.
Depois veio a luta pela Constituinte e, a seguir, a campanha das Diretas Já.
Era o movimento onde estavam de Cazuza a Fafá de Belém, numa caravana que vinha no avião da Vasp percorrendo Brasil.
E onde a turma fumava muito.
Foi nessa campanha que nasceu a história de uma hoje respeitável artista brasileira que, ainda jovem, foi informada que o papel Bíblia era o melhor revestimento para um “baseado”.
Ela se entusiasmou tanto com a informação que ao final da campanha estava consumindo as páginas do Apocalipse.
Mas cobrir passeata tinha seus benefícios.
Primeiro porque jornalista tinha um certo status.
Fotógrafo ainda trabalhava com Roleyflex e o papel era em preto e branco.
E a gente levava as fotos para casa.
Por isso, sempre gostamos de cobrir passeata. É uma festa democrática, porque além do momento tenso da polícia, se fazia um jornalista de resultados.
E tinha cobrança.
Uma vez meu chefe no Jornal do Brasil, Amaury Mattos, me chamou e, no meio da Redação, advertiu: Ei barbudinho, cuidado com o romantismo da passeata.
Mas quem disse que eu já não estava contagiado pelo romantismo da passeata?
Outra passeata legal foi a que aconteceu na Avenida Conde da Boa Vista com a prisão de Cajá.
A UFPE parou depois de o Diario de Pernambuco publicar na primeira página um jovem segurando um cartaz com o seguinte texto: Cajá está sendo torturado e você vai à aula?
O pessoal da Polícia Federal, na época, ficou indignado.
Mas Zenaide Barbosa, que era a editora-geral, segurou a barra.
Também teve as passeatas do “Fora Collor” com a garotada pintando a cara coma passeatas ainda mais festivas.
Aí, o tempo passando, a gente vai ficando mais sério.
Vira repórter de Economia e nem se lembra mais de como é cobrir passeata com repressão e essas coisas.
Por isso, esta tarde, quando eu vi os “meninos” da Redação programando uma megacobertura para amanhã, comecei a me lembrar disso.
Ai eu fui lá e me inscrevi.
Talvez sobre uma pauta para mim.
O diabo é que eu tenho que fechar a coluna de Economia.
Mas e daí?
Depois eu me viro.