Por Manuela Dantas, especial para o Blog de Jamildo Nasci no Recife há 34 anos, porém as minhas primeiras lembranças são em Picos-PI , aonde nossa família foi morar em 1981.

Nessa ocasião, eu tinha 3 anos e vivia com um papel na mão desenhando tudo e expondo minhas opiniões, o que faço até hoje…

A minha infância foi feliz…

Brincava, estudava, mas também sempre tive uma queda por discutir e defender direitos e isso me rendeu várias discussões com meu pai e também a função quase permanente de líder de sala de aula nos colégios que frequentei.

No colégio de freiras que estudava em Picos, acabei me envolvendo, mesmo na infância e adolescência, nas discussões das necessidades da escola e até da cidade.

Voltei para Recife com 13 anos, o retorno não foi fácil…

Apesar de ter nascido em Recife e sempre passar as férias nesta cidade, foi difícil me adaptar a novos colegas, a ausência dos meus pais, as ruas movimentadas por carros e até as chuvas de inverno que alagavam ruas da Madalena e da Torre.

Aos poucos fui começando a reconhecer Recife como a minha cidade…

A cidade que morava, estudava, passeava pelas ruas e que passei a amar de um modo tão intenso que sentia necessidade de colaborar para que essa cidade se tornasse um lugar melhor para se viver.

Não por acaso, um lugar melhor para se viver é um lugar que respeita o direito dos seus cidadãos e colabora para a conquista e manutenção da dignidade humana.

Foi assim que acabei colaborando para a formação do Grêmio Estudantil do colégio São Luís e essa causa permaneceu na minha vida nos 3 anos que estudei naquela instituição, até entrar na universidade.

Nesse período, com a maturidade e o tempo dedicado a minha luta por direitos, comecei a entender, debater e lutar por Cidadania.

Entendi que Cidadania como expressa Dalmo Dallari, é um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo.

Claro que a cidadania pressupõe também deveres, já que convivemos em sociedade e para garantia do bem comum, deve-se também existir um conjunto de regras e deveres necessários a esse convívio saudável.

Advindo do grego, a cidadania era para eles a garantia da realização do homem, que só era possível com sua participação integral na vida social e política da Cidade.

Concordo com os gregos!

Os anos que passei indiferente as lutas por direitos humanos e pela garantia da cidadania me foram anos quase vazios e sem sentimento profundo de realização pessoal.

Aliás, por mais controverso que pareça, voltei a me sentir como cidadã após o acidente em 2010, que deixou a paraplegia como legado, mas também deixou a missão por lutar, com propriedade, pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência.

Com esse intuito, observo e participo, sem conter a satisfação, dos movimentos sociais que envolvem a luta por uma Recife melhor para se viver e nesse contexto me sinto uma verdadeira cidadã Recifense.

Realizamos através do Câmara de Acessibilidade do Clube de Engenharia o Fórum Calçadas do Recife: Mobilidade e Cidadania, que debateu com especialistas e com grande participação popular a necessidade da existência de calçadas acessíveis e adequadas as necessidades dos cidadãos.

Acompanho de maneira menos direta o movimento dos ciclo ativistas pela existência e ampliação da malha de ciclovias e ciclo faixas na cidade que permita aos usuários utilizá-las com segurança em qualquer dia, necessidade e situação.

Por outro lado observamos meio abismados, a forma e a dimensão do movimento pela garantia do direito de ir e vir utilizando ônibus em São Paulo e acompanhado por outras cidades no Brasil e no mundo.

Nesse movimento os estudantes pedem por passe livre e os trabalhadores pedem por menos aumentos dos valores das passagens de ônibus.

Critica a condução do movimento a parte, o fato é que é inegável o grito, contido pela população e liberado freneticamente, por transporte coletivo de qualidade, seguro, adequado e com valor plausível a todos os usuários.

Findo nossa reflexão, com as palavras de Platão, um dos mentores do conceito da cidadania: “Tente mover o mundo – o primeiro passo será mover a si mesmo".