Foto: Michele Souza/JC Imagem Por Débora Duque, do Jornal do Commercio Protagonista daquele que foi denominado como o “maior julgamento da história do País”, homem forte do PT e alçado à condição de primeiro-ministro no primeiro governo Lula (PT), José Dirceu (PT) tem agora detalhes de sua vida pública e privada expostos no livro escrito pelo jornalista Otávio Cabral.

Lançada sem alarde, no último fim de semana, a biografia de título simples e seco - “Dirceu” -, não foi autorizada pelo personagem principal da obra, foi produzida com base em informações contidas em documentos oficiais - alguns inéditos -, em entrevistas concedidas pelo ex-ministro e a partir de 63 depoimentos de pessoas ligadas a ele, inclusive de seus assessores e advogados.

O autor trabalha, atualmente, como editor da revista Veja, de onde acompanhou todo o processo do mensalão, desde as primeiras denúncias, em 2005, até o julgamento.

No livro, dispensou as adjetivações comuns a publicação e privilegiou a descrição de fatos e diálogos, alguns já conhecidos, outro não.

Antes de chegar ao capítulo mais recente da história do homem condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, Cabral volta no tempo e no espaço.

Retorna à década de 60 e vai até a cidade de Passa Quatro, em Minas Gerais.

O objetivo é mostrar o caminho que levou o filho de um militante interiorano da União Democrática Nacional à liderança do movimento estudantil contra o regime militar e, a partir dali, à guerrilha cubana, ao comando de um partido de operários e, mais tarde, ao poder.

Dirceu é tratado como uma figura pragmática, guiada por interesses e conveniências do momento. É sob esse prisma que o autor resgata, por exemplo, episódios da vida pessoal do petista, a exemplo de seus sucessivos casamentos e incontáveis casos extraconjugais.

Consta sua faceta vaidosa, como homem apreciador de vinhos e restaurantes caros, e alguém que se submeteu a uma cirurgia para combater a calvície.

No campo político, é o homem que construiu, segundo o autor, uma relação de “amor, ódio e dependência” com o ex-presidente Lula, a quem se juntou ainda no início dos anos 80.

O livro mostra como Dirceu, desde então, defendeu o abandono da postura sectária do PT por acreditar que, só assim, o partido alcançaria o Palácio do Planalto.

A biografia traz com detalhes os episódios em que comandou intervenções em instâncias locais da sigla para atender interesses da direção nacional.

Uma delas no Rio, em 98, que lhe rendeu o rompimento com seu companheiro de militância estudantil, Vlademir Palmeira.

São recontadas também as negociações que liderou com adversários históricos do partido e as iniciativas para atrair oposicionistas à base do governo, o que terminou resultando no mensalão.

As intrigas com Antônio Palloci (PT) e Aldo Rebelo (PCdoB), a resistência em admitir sua queda diante das denúncias de corrupção e a tentativa de ganhar dinheiro como lobista de multinacionais complementam essa história.

Na conclusão, o autor diz que Dirceu “jamais chegou a lugar nenhum”.

Na verdade, atravessou, de forma controversa, muitos lugares.

E é talvez por isso que sua trajetória, apesar de manchada, por práticas antirrepublicanas – conforme atestou o STF – ainda inspira um mínimo de curiosidade.