Por Michel Zaidan Filho Os pernambucanos parecem estar atravessando um período de grande euforia neste momento.
Um conjunto de fatores, entre eles a eleição passada para o governo do estado, tem contribuido efetivamente para essa estado de ânimo. É como se a tradicional polarização política entre esquerda e direita tivesse sido superada pelo arremedo de uma “cultura cívica” futebolística que levasse todo mundo a “vestir a camisa” do estado de Pernambuco.
Este clima de patriótica pernabucaneidade pode ser constado na execução do hino e? ? na exposição da bandeira nos estádios de futebol, nos shows e folguedos populares, nas escolas, na propaganda comercial etc.
Quem não conhece Pernambuco, poderfa deduzir dessa histéria coletiva que o povo se identifica profundamente com as instituições políticas do estado, é o “povo-nação” ou “a pátria em chuteiras” ou vestida das cores e simbolos oficiais da nossa unidade federativa.
De onde vem esse patriotismo esportivo, afinal? - A primeira pista pode está na natureza desse “regonalismo” pernambucano, na ilustre autoria dessa criação discursiva e no seu aproveitamento publicitário pelos ex-governadores recentes do estado de Pernambuco.
Existe duas modalidades de regionalismo e amor (cívico) às coisas que nos são comuns: há um regionalismo bom, sadio, republicano e há um regionalismo mau, bairrista, conservador, atrasado e desagregador.
A origem do re gonalismo nordestino, infelizmente, está associado ao mau regionalismo, ao regionalismo xenofóbo, de costas para o mundo e o resto do Brasil.
Seu patrono chama-se Gilberto Freyre e o seu mito fundador “a democracia racial brasileira”.
Foi graças, aliás, a essa modalidade de regionalismo que virou modo em nossa estado exaltar, em nosso estado, as infames instituições da escravidão africana a título de se preservar as nossas (deles) genuinas tradições.
E Há quem ganhe dinheiro explorando esse nefando filão turístico. -Mais recentemente um ex-governador - agora investido do papel de “Catão” da nossa pobre República - resolveu, juntamente com o seu fiel marketeiro, aproveitar ou reciclar essa mau regionalismo.
E o fêz da pior maneira possível: recrutando essas tradições ambíguas e controversas como forma de “vender” os ativos do nosso estado a investidores e consumid ores do mundo inteiro, sem dó nem piedade.Criou-se um slogan “Pernambuco é pop”: o hino carnavalesco virou o hino do estado.
As fantasias, a bandeira de Pernambuco.
De um hora para outra, a nação, o Brasil virou Pernambuco, como queria aliás Gilberto Freyre lá de Apipucos. -Quais são as consequências dessa perigosa operação? - O uso dos símbolos oficiais agora carnavalizados para uma criminosa alienação do patrimonio público (incluindo aí o patrimonio imaterial), sob pretexto de mudança, dinanismo, empreendedorismo na gestão pública.
Contudo, mais grave, é a barbarie social, política e cultural dessa operação criminosa.
Respondi a dois processos judiciais por denunciar este crime de lesa-sociedade, mas não me arrependo de repetir até a exaustão: essa histéria cívico-carnavalesca-esportiva não é só uma modalidade de regionalismo bastardo, atrasado e conservad or - que esconde aliás outros propósitos políticos - é sobretudo indutor de uma espécie de anti-cidadania, de anticultura cívica, de antirepublicanismo, cujo o quadro deprimente, assustador foi a passeata de torcedores de um time de futebol, em passeata, custodiado pela polícia militar do estado.
Afinal de contas, Sport é alegria, é prazer, é diversão, ou barbárie, briga, luta, conflito, desagregação social?
Fiz essas reflexões porque acho que o nível de tensão social que ora vivemos em Pernambuco vem se manifestando, á flor da pele de nossa população - sobretudo uma certa classe média acanalhada - e a manipulação de sentimentos tão caros a todos nós com a afetividade, a paixão, a fé, a esperança, podem dar lugar a movimentos pré-fascistas cujos desdobramentos são imprevisíveis, mas nunca positivos.