Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem Felipe Lima, do Jornal do Commercio A seca que arranca do sertanejo sua renda também machuca o bolso de quem mora na região metropolitana do Estado.

A falta de água nos últimos dois anos dizimou o rebanho de gado leiteiro e as lavouras de hortaliças, frutas, verduras e tubérculos em Pernambuco.

E fez estourar os preços de produtos tradicionais na mesa do recifense como o queijo coalho, farinha de mandioca, feijão e banana, por exemplo.

O resultado é que os alimentos e bebidas registraram em 2013, até abril, uma inflação acumulada de 7,38% no Grande Recife.

A elevação supera a média nacional para o segmento (5,65%) e só fica atrás da registrada em Salvador (7,48%), também influenciada pela seca.

Percentualmente, a situação mais complicada é a do repolho.

A inflação do produto no Recife em 2013 cravou 81,47%.

A razão está na sua origem: o que é vendido na capital vem prioritariamente de Camocim de São Félix, Gravatá e Chã Grande, no Agreste, cidades em situação de emergência por causa da estiagem. “A solução tem sido trazer o repolho do Espírito Santo”, diz o diretor-técnico do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa-PE), Paulo de Tarso.

O feijão carioca, produto mais importante na mesa, também teve que ser buscado longe e está 34,66% mais caro este ano.

Como o plantado na Bahia ficou escasso, o grão do Paraná virou solução.

Nesse caso, o frete é o responsável por catapultar os preços.

Banana (45,25%), farinha de mandioca (65,28%) e alface (45,08%) são outros artigos que amargam aumentos excessivos.

Sem contar o famoso tomate (64,58%) e a cebola (73,32%).

E, para finalizar, o leite longa vida (8,72%), ovo (8,61%) e queijo coalho (39,13%, segundo cotação dos últimos 12 meses da Ceasa-PE). “Toda essa alta de preço está relacionada com a seca.

Ou houve quebra de safra ou queda na produtividade dos animais que sobreviveram, no caso do gado de leite”, resume Paulo de Tarso. “A palma de banana está custando R$ 4”, exclamou a funcionária pública Michelle Falcão.

Acompanhada da irmã, a psicóloga Camila Falcão, tentava encontrar na manhã da última sexta-feira, na feira livre de Casa Amarela, produtos mais baratos que os vendidos em supermercados. “Leite, ovo, queijo.

Tudo está caro.

Até agora tem sido possível administrar sem cortar itens, mas está pesado.

Acontece que não tem adiantado nem fugir para as feiras.

Está tudo a mesma coisa e em alguns itens até mais caros”, desabafou.

Dono de um dos boxes mais tradicionais do Mercado de Casa Amarela, Severino Henrique Gonçalves, o Grandão do Queijo, e sua neta, Andreza Cortez, reclamam da baixa qualidade dos produtos ofertados, além do preço elevado.

O quilo do queijo coalho saltou 100%, contam, chegando hoje a R$ 23.

O mesmo vale para o quilo do queijo de manteiga, que chegou a R$ 20, mas agora têm girado em torno de R$ 17.

Todos vêm de fornecedores do Agreste, como as cidades de Pedra e Venturosa, onde produtores ainda contabilizam perdas de animais e prejuízos na produção. “Quem vai querer produto ruim e caro?”, diz Gonçalves, lembrando que houve queda nas vendas quando os preços começaram a subir sem parar.

O agravante é que a alimentação tem um peso maior no custo de vida do recifense que no do paulistano ou carioca, por exemplo.

Se no Brasil 24% dos gastos vêm dos alimentos e bebidas, no Recife representam 27%. “E os produtos que estão majorados têm uma participação maior, por questões culturais, como é o caso da farinha de mandioca”, explica a coordenadora de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes.

A inflação vista nas feiras, mercados e na Ceasa-PE também chegou aos supermercados, confirma o vice-presidente da Associação Pernambucana de Supermercados (Apes), Djalma Cintra. “Alguns produtos já são fornecidos por outras regiões, entretanto, os de menor valor por quilo se tornam inviáveis para se trazer de longas distâncias, em função do frete.

Tentamos negociar para manter os preços mais baixos possíveis, porém não há como não repassar aumento se o preço sobe no produtor ou indústria”, complementa.