Por Felipe Seligman, na Folha de São Paulo O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, chamou de “canalhice” acusação feita pelo deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) de que sua mulher, a subprocuradora Cláudia Sampaio, teria recebido R$ 280 mil do banqueiro Daniel Dantas (Opportunity) para quebrar seus sigilos.

Para Gurgel, trata-se de uma reação “intolerável e inaceitável” de Protógenes, contra quem, segundo ele, “pesam suspeitas gravíssimas”.

Em palestra na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Caetano do Sul, o deputado afirmou que a subprocuradora teria dito em parecer que foram apreendidos em sua casa R$ 280 mil, o que não seria uma informação verdadeira. “Eu não sei de onde ela tirou, talvez seja os R$ 280 mil que o Daniel Dantas tenha dado para ela, para dar esse parecer.” No mesmo evento, Protógenes também disse que Dantas, chamado por ele de “banqueiro bandido”, teria pago R$ 20 milhões a um delegado da Polícia Federal e a cinco policiais.

O deputado ainda se referiu ao ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), como “Gilmar Dantas”.

Foi o ministro que aceitou dois pedidos de liberdade do banqueiro durante sua prisão na Operação Satiagraha, em 2008.

Por conta disso, Daniel Dantas entrou este mês no Supremo com uma queixa-crime contra Protógenes, dizendo que ele fez acusações sem provas, atentando contra sua honra.

Para Gurgel, o ataque não é apenas contra sua mulher, mas contra ele também. “Só posso chamar isso, a palavra mais gentil que eu posso encontrar para isso, aliás não seria só minha esposa, seria eu também, é canalhice”, disse. “Na verdade, não dá para ficar discutindo ou batendo boca com uma pessoa que está sendo investigada, uma pessoa em relação a qual pesam suspeitas gravíssimas e que curiosamente faz essas afirmações logo depois de, em um inquérito que tramita no STF, eu ter requerido uma série de diligências investigatórias.

Parece que ele ficou extremamente preocupado com o que poderá ser o resultado dessas diligências requeridas e então reagiu dessa forma intolerável, inaceitável”, afirmou o procurador.

No intervalo da sessão do Supremo desta quarta, o procurador-geral voltou a falar sobre as declarações do deputado e caracterizou as acusações como uma “reação criminosa”. “O procurador-geral não vai, evidentemente, estabelecer qualquer bate boca com investigados, por mais repugnantes e mentirosas que sejam as afirmações feitas por esse investigado”, disse. “No caso, o que nós temos é uma reação, digamos, intolerável, criminosa mesmo, a um pedido que formulei , no Supremo Tribunal Federal, e diversas diligências para apuração de fatos extremamente graves que envolvem esse investigado.

Pedidos que foram atendidos.” O procurador-geral da República também avaliou que a atitude do deputado seria uma tentativa de deixa-lo impedido para investigar – isso ocorreria se Gurgel entrasse com alguma ação na Justiça, alegando a ocorrência de calúnia. “É uma óbvia tentativa de obter o impedimento do procurador-geral, também de obter de ministros aqui do STF.

Porque se eu tomo qualquer providência com relação a essas calúnias, fico impedido de atuar neste caso”. “E o PGR não vai cair nessa armadilha, vai continuar atuado no caso, apurando com todo o rigor e com toda a serenidade que caracteriza o Ministério Público esse fatos que, como disse, são extremamente graves.” Na última sexta-feira, o ministro José Antonio Dias Toffoli quebrou, a pedido de Gurgel, os sigilos fiscais, bancários e telefônicos de Protógenes Queiroz.

Ele é investigado sob a suspeita de ter recebido propina de um ex-sócio de Dantas para investigá-lo na Satiagraha.

A fala do deputado foi relatada hoje pelo jornal “O Estado de S.

Paulo” e ontem pelo site “Consultor Jurídico”.