Coalizão do atraso Editorial da Folha de São Paulo Ainda a 16 meses do pleito presidencial, Congresso paralisa reformas para elevar o preço da fatura por apoio à reeleição de Dilma Rousseff No que depender do Congresso, o país seguirá parado.
Reformas para tornar os tributos mais eficientes, a mineração mais moderna, as finanças estaduais e municipais menos amarradas terão de esperar –ao que indica a hipótese mais otimista– as eleições nacionais de outubro do ano que vem.
Dezesseis meses é um longo período para uma nação de renda apenas média cujos indicadores econômicos se deterioram em ritmo lento, mas contínuo.
A expectativa de desempenho do PIB em 2013 iniciou o ano na faixa de 3% a 3,5%.
Um terço do caminho percorrido, já baixou para 2,5% a 3%.
Após mais de uma década no azul, o vermelho começa a prevalecer no resultado das transações comerciais com o exterior.
O deficit se amplia se forem computadas as balanças de turismo e das remessas e repatriações de lucros.
A inflação custa a desacelerar.
O desemprego continua baixo, mas não por muito tempo caso siga exposto a esse ritmo frustrante de atividade econômica.
A China, esteio do boom brasileiro no final da década passada, já cresce menos e coloca freio na demanda pelos produtos básicos nos quais o Brasil se especializou.
Que justamente neste momento o Congresso se anule como fórum de deliberação sobre as questões importantes da economia é algo que desvela a natureza da inchada coalizão de partidos governistas.
Estão juntos não para encetar um programa comum, mas para garantir nacos privilegiados da portentosa máquina federal.
Põem-se de acordo apenas sobre a eleição do ano que vem.
Postam-se ao lado de quem tem o poder incontrastável de cooptar.
E chantageiam o governo que dizem defender em quase tudo o mais.
O PMDB, sócio majoritário da aliança, é preponderante nos endossos para criar a CPI da Petrobras.
A estatal fez negócios suspeitos no exterior, de fato.
Mas os governistas do PMDB querem mesmo é acertar contas com o Planalto.
A oposição, que se queria sufocar por meio da ampla cooptação governamental, com a oferta de 39 ministérios e mais de 20 mil cargos na administração, estaria de volta sob a forma recalcada de pequenos motins clientelistas na base?
O extravio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ainda apoiador e já um rival, seria outra sequela da obsessão hegemônica do PT.
Esta, como um vírus atenuado, parece capaz de vir a causar dano maior talvez apenas diante de deterioração mais forte da economia, por ora improvável.
Interpretações à parte, o fato, demonstrado à exaustão, é que esse modelo de aliança política inibe a modernização da economia e da sociedade. É a coalizão do atraso.