Por Fernando Castilho, do JC Negócios, especial para o Blog de Jamildo Animal midiático na web aonde vinha surfando como maroleiro (aquele que gosta de ondas pequenas), Geraldo Júlio levou seu primeiro caldo esta semana quando avaliou equivocadamente o alerta de fortes chuvas da Agência Pernambucana de Águas e Clima.

A Apac é aquela instituição que ajudou a estruturar, exatamente, para dar mais segurança ao governo na tomada de decisões sobre mudanças radicais do clima, a partir da atitude profissional da meteorologista Francis Lacerda, coordenadora do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco em 2010 e que foi determinante para evitar a morte de centena de pessoas na Zona da Mata.

Importa pouco discutir aqui, a atitude catatônica de sua equipe quando iniciou as ações de ajuda às vítimas da enchente de 135 milímetros em cinco horas nas primeiras horas da manhã e quando soube que o “chefe” estava, naquele momento, voando para o Rio de Janeiro.

O que chama atenção no episódio é como essa questão foi tratada nas redes sociais, sua repercussão e as consequências para a sua administração.

Como ensina o mestre Lulu Santos (na música), na internet, “a vida vem em ondas … num indo e vindo infinito” e foi por não saber aproveitar isso que o prefeito revelou-se mais um sufrista (que sabe surfar, mas se acha o melhor na água, fica falando demais) do que um big rider, aquele que sabe, é bom e gosta de pegar ondas grandes.

Nos últimos meses, por força de uma razoável gestão dessa plataforma, esse merrequeiro (surfista que só pega ondas pequenas) vinha se dando bem e até fazendo, na internet, algumas manobras estilo front side, quando o surfista pega onda posicionando-se de frente para ela.

O caso das ciclo faixas é o seu melhor exemplo.

O discurso midiático o fez virar uma espécie de tube rider político com posts bem colocados, fotos bem captadas no Instagram e uma linha de ação que o posicionou na classe média especialmente pela força da fanpage no Facebook, seu e da PCR.

Linguagem de brothers à parte, o que aconteceu na manhã de sexta-feira foi que Geraldo Júlio perdeu, com sua viagem ao Rio, a capacidade de controlar as ações nas mídias sociais e por isso foi tragado por enorme onde havaiana de críticas à sua gestão.

E pensando bem até sexta-feira, não tinha como dar errado.

O cara anda de bicicleta com a família, prestigia o modal bike, gera um novo formato de lazer para uma cidade de era só praia e shopping center e até vai ao trabalho pedalando.

No ponto de vista de mídias sociais ela estava quase na World Championship Tour, que é a 1ª divisão do Circuito Mundial de Surf.

Ou pelo menos se achando que estava lá.

O que nem ele e sua equipe de mídias sociais sabiam era como lidar com a varrer, aquela onda grande, ou série de ondas grandes que pega todos desprevenidos, por isso tomou um caldo espetacular.

O que aconteceu foi que, sem o prefeito no comando, a Prefeitura ficou a reboque dos internautas que, primeiro cobraram informações que só vieram pelos posts de jornalistas dando fortíssima credibilidade à crise.

Depois, pega na falha de não ter avisado à população sobre os possíveis riscos, a Prefeitura só começou a alimentar a população pelas mídias sociais, quando ela já estava informada dos problemas por outras pessoas.

Isso significa que Geraldo, ou sua equipe, perderam o controle.

Os posts da Prefeitura estavam atrasados e não havia informes úteis novos.

Os posts dos jornalistas que estavam na rede desde a manhã confirmavam à crise e a falta de ações da Prefeitura.

O resto todo mundo sabe.

Uma onda de críticas sobre a acefalia da gestão seguidas das montagens ridicularizando o prefeito.

E o mais devastador: usando as imagens do momento bike da carreira do prefeito.

Dito de outra forma: o prefeito acabou pagando caro pela falta de comando de uma situação real, de uma paralisação da equipe de mídias sociais e de comunicação que, literalmente, não sabia e nem tinha o que dizer nas suas páginas de relacionamento e tudo isso virou trends top com as rastegues de humor.

Tudo isso leva a um debate interessante sobre as ferramentas que existem na plataforma de mídias sociais.

Como não pôde gerenciar a crise porque estava dentro de um avião, todo o escore que Geraldo Julio gerou na internet nos últimos meses com o discurso da bicicleta acabou se voltando contra ele.

E o mais grave: a partir do público que alavancou sua audiência.

Gente de classe média, que aposta muito na sua gestão, mas que tem voz nas mídias sociais e se sentiu desamparada.

Não estamos falando de quem perdeu a casa ou viu o carro inundado.

Estamos falando das redes que apoiam o prefeito nessa sua face bike.

Não foi a oposição, como ele tenta dizer, que o criticou por ter embarcado antes da chuva começar para o Rio de Janeiro.

Foi o mesmo público que o apoia nas ações em favor das ciclo faixas.

Se é verdade que ele atribui a crítica apenas à oposição erra duas vezes.

Deve olhar para o que aconteceu na web e tirar lições dos posts nas redes sociais.

Esse é o fato novo.

Isso não quer dizer que sua administração já era.

Nada disso!

Geraldo Júlio tem um escore muito bom nas ações de bike.

Agora precisava estar atento que na questão chuva o histórico do Recife é de crise.

Todos os prefeitos, a partir de Roberto Magalhães, pagaram caro por isso.

Ele deveria estar atento com o termo chuva.

Ela é trends top nas mídias sociais toda vez que está relacionada ao Recife.

Essa é uma advertência que deveria estar impressa sob o vidro de sua mesa de trabalho.

E foi o desrespeito a esse tema que o derrubou.

De tudo o que passou, fica a lição para ele e toda sua equipe.

O “chefe” tem que estar no comando e antes dele, tem que ter alguém “escalado” para levar a pancada da imprensa e da opinião pública.

Isso é básico.

E para quem não lembra, basta ver como João Paulo e João da Costa administraram isso.

Teve sempre um secretário para levar a pancada.

O chefe entra para resolver.

No caso de Geraldo Julio, como ninguém foi escalado, a “pancada” foi direto no prefeito, catapultada pelos posts nas mídias sociais.

Tem mais aos novatos: prestem atenção no que o “chefe” Eduardo Campos fez.

Primeiro, ele organizou internamente a bobagem de Geraldo Julio em viajar num momento de cheia.

Depois, organizou o discurso da Apac e da Prefeitura culpando a chuva de 135 milímetros.

Finalmente, não deu nenhuma declaração, pois sabia que o que falasse carimbaria na testa do Geraldo Júlio a imagem de que a Prefeitura do Recife tinha virado uma super-secretaria de seu governo.

Mas, é preciso reconhecer: Eduardo Campo é do ramo.

Com quem o prefeito, sua equipe e até a oposição vai ter que aprender muito, especialmente, sobre mídias sociais que sua equipe domina bem.

Até porque, Eduardo é casca grossa, aquele cara que na gíria dos brothers é o surfista muito bom em determinadas características e que sabe sair de situação difícil e capaz de dar drop que aquela manobra radical de descer a onda da crista até a base.

Mas, isso já é outro papo.