Por Fernando Castilho, do JC Negócios, especial para o Blog de Jamildo Novato como líder na política, área onde se jacta de atuar nos bastidores desde os tempos de Miguel Arraes quando teria se ligado ao grupo de Eduardo Campos, o prefeito do Recife Geraldo Júlio já sabe, antes de completar cinco meses de comando na gestão da cidade, que vai precisar de muito mais traquejo no ramo daqui para frente.
E reduzir, ao mínimo, o impulso do cacoete tecnocrata que adquiriu ao longo de sua carreira reconhecendo que o tempo e perspectiva do político nem sempre se alinham com o do gestor acostumado a planejar, dimensionar metas e cobrar resultados com prazo de vencimento. É que acreditando que com uma bancada de vereadores aliados e tendo uma oposição de apenas quatro pessoas, Geraldo Júlio mandou ou patrocinou para a Câmara pelo menos três projetos polêmicos em que teve que pagar um alto nível de desgaste político que, se ainda não prejudicam sua imagem externa, devem ter-lhe ensinado que na política, Maria não é João, Priscila não é André e que até se pode muito, mas não se pode tudo.
Mesmo em começo de gestão assegurada ainda no primeiro turno.
O prefeito e sua equipe, inclusive a política colocada pelo chefe e mentor político Eduardo Campos à sua disposição, avaliaram que poderiam aprovar sem problemas um discutível projeto de restrição de veículos no trânsito do Recife, um complicado modelo de atualização de cobrança de ITBI e um formato de apresentação de dados sobre a Prefeitura na internet que mais esconde do que disponibiliza informações.
Erraram e acabaram surpresos, vendo-se diante de uma onda de críticas de vários setores da sociedade, na imprensa e nas redes sociais que, de forma alguma, estimaram nas reuniões internas onde os técnicos exigem planilhas sofisticadas e metas em apresentações na versão 2013 do Microsoft PowerPoint.
No caso do rodízio, Geraldo Júlio ainda conseguiu a proeza de dar uma de Pedro negando por três vezes que fosse “sócio” na proposta de 2010 do vereador Gilberto Alves, do PTC, hoje seu líder na Casa, depois que os quatro mosqueteiros da Oposição na Câmara conseguiram um feito heróico já nos primeiros 15 minutos de jogo dessa legislatura: Eles levaram a sociedade a criticar fortemente a “ideia meia-boca” de Alves que, simplesmente, não pode ser implantada neste momento, não apenas por falta de estudos mais robustos dos seus efeitos práticos, como pela insistência de outras ações que preparassem a cidade para isso.
O prefeito, assim como o seu mentor político, naturalmente, não passou recibo de erro de avaliação política e saiu-se primeiro dizendo que a ideia não era sua, depois que não a patrocinara e, finalmente, que gostava dela, mas que ela deveria ser mais estudada tentando tirar as impressões digitais da proposta que segurou desde o primeiro momento, mas que viu tratar-se de uma bomba de efeitos graves na sua imagem de gestor municipal ainda em construção.
Geraldo Júlio também avaliou mal a repercussão da proposta levada pelo seu secretário de Finanças, Roberto Pandolfi gestada pela equipe interna da secretaria de importar (com as cores do Recife) um formato de cobrança de ITBI já usado em Fortaleza que poderia melhorar os minguados números do tributo no Recife, uma cidade que tem o mais alto preço de imóvel novo da região.
A proposta é interessante, embora careça de aperfeiçoamento, pois, na prática faria o contribuinte pagar imposto por um imóvel que só receberia dois, três ou cinco anos na frente.
O que, no caso de um problema com a construtora, o faria perder ainda mais dinheiro.
Confrontado por juristas mais experientes que os técnicos em tributação da secretaria de Finanças do Recife e pelos empresários do setor, o prefeito e seu secretário caíram na real, mas ainda assim sem reconhecer publicamente que erraram na apresentação e condução da proposta.
Finalmente, o prefeito deixou-se envolver num debate sobre acesso de dados da Prefeitura pelo cidadão que não trouxe nem vai lhe trazer nenhum ganho público.
Na verdade, o prefeito não tinha porque entrar agora nesse debate, pois, sequer dados para esconder ou mostrar a sua administração com 120 dias, tem.
Mas nesse, ele decidiu entrar de cabeça e assumir, talvez para marcar posição, uma defesa de uma tese que só lhe trouxe desgaste e que ainda lhe prega a marca de que, apesar de defender a transparência do setor público a nível federal, não está disposto a ser tão transparente no quintal de sua casa.
O curioso desses três fatos administrativos é que Geraldo Júlio pagou o custo político porque não seguiu as lições básicas de qualquer gestor que recomenda em primeiro lugar, assegurar-se do tamanho das possíveis repercussões públicas de seus atos e, no caso de serem polêmicas, construir um discurso consistente de defesa.
E de sair na frente sem esperar que a oposição consagre a versão e não o fato que sua administração está criando.
Qualquer estudante secundarista e universitário que atua em diretório estudantil sabe que o importante é sair na frente, construir a defesa de uma tese e juntar a massa para aprovar.
Mas, Geraldo e sua equipe técnica mandaram seus projetos num pacote amarrado com cordão bastante arrochado achando que a reclamação da reduzida oposição não ganharia as ruas e o cyber espaço.
Isso não quer dizer que o prefeito não possa aprender com isso.
Na verdade, Geraldo Julio tem como mestre certamente o político brasileiro que melhor compreendeu seus equívocos na carreira política e o que melhor se reciclou a ponto de hoje está a caminho de uma candidatura a presidente da República, mas vai ter que se ligar.
Vai precisar aprender a observar “a maçaranduba do tempo” como ensina o experiente Joaquim Francisco.
E entender que tem que se organizar internamente construindo uma defesa forte de cada um de seus projetos trabalhando com a ideia de que oposição existe para atacar de forma a não continuar a pagar mico de novato.
E parar de achar que pode ganhar a simpatia do contribuinte e da cidade apenas inaugurando ideia.