Foto: Michele Souza/JC Imagem Em passagem pelo Recife para coletar as 500 mil assinaturas necessárias para viabilizar o Rede Sustentabilidade, partido que pretende criar, a ex-senadora Marina Silva (ex-PV) teve um encontro de cerca de 45 minutos com o governador e presidenciável Eduardo Campos (PSB).

O socialista assinou a ficha de apoio à nova legenda.

Após a conversa, Marina disse que não sabe se o gestor é candidato e condenou “alianças casuísticas”.

Eduardo, que não falou com a imprensa após a reunião, já demonstrou apoio à nova sigla.

Veja a entrevista coletiva concedida após o encontro por Marina.

Como andam as articulações para a criação do partido?

MARINA SILVA - Temos recebido uma solidariedade grande da sociedade brasileira.

Neste momento temos mais de 300 mil assinaturas.

Isto foi colhido em menos de três meses.

A maioria dos partidos que se constituíram levem entre sete meses e um ano para conseguir isto.

Conseguimos em três meses, o que é uma demonstração espontânea de que a sociedade de fato vê na proposta da Rede Sustentabilidade uma possibilidade de renovação e reencantamento com a política.

Obviamente temos uma atitude antidemocrática no Congresso de tentar tirar de nós o acesso ao rádio e tempo de TV e o fim partidário, o que só reforça a solidariedade da população, porque de fato as pessoas veem que há dois pesos e duas medidas.

Para o partido de Kassab não foram criados estes obstáculos e para a Rede estão sendo criados.

Estamos na expectativa do que vai acontecer, mas, se por ventura, o Senado não corrigir, como tem todas as possibilidades de corrigir os erros da Câmara dos Deputados, entraremos com uma Ação de Inconstitucionalidade.

Obviamente temos aqui o trabalho da Rede, o coletivo local, uma aceitação muito grande nos diferentes setores da sociedade, sobretudo nas juventudes.

Qual foi a pauta do encontro com Eduardo?

MS - Foi um encontro onde discutimos todo este processo que está acontecendo no Congresso Nacional e a solidariedade que recebemos de todos os partidos, do Psol, PSB, PPS, do PSDB e até de dissidentes do PT e do PMDB, que no Senado derrubaram a urgência.

Então tratamos da urgência de preservar nossa democracia, longe dos casuísmos e obviamente o governador manifestou sua solidariedade, até porque o senador que entrou com a ação na Justiça, o mandado de segurança, é do PSB, o senador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg.

O que a senhora ouviu de Eduardo?

MS - Que ele é contra o casuísmo e acha que a democracia é um princípio e um valor que deve ser defendido e que a gente não pode subordinar os princípios às conjunturas.

Os fins não justificam os meios.

A senhora acha que o governador é candidato?

MS - Não sei necessariamente se ele já se lançou.

Eu vejo que, às vezes, lançam a gente, arremessam a gente.

Não sei se ele é candidato.

Mas a senhora vê o governador como candidato?

MS - Eu acho que é legítimo que as pessoas que se colocam busquem viabilizar suas candidaturas.

Do mesmo jeito que eu achava legítima a candidatura do Ciro Gomes em 2010, mesmo sendo da base do governo.

Ele quer dar uma contribuição? é legítimo da parte dele fazer isso.

Assim como é legítima a candidatura do Serra, se ele for para outro partido ou ficar no PSDB, a de Aécio… eu vou repetir o que eu disse: em uma eleição em dois turnos, quanto mais ideias, mais propostas, melhor.

Obviamente é bom a gente ver que existem partidos que estão buscando esta renovação, se identificar com novas bandeiras, botar em sua gestão pessoas preocupadas com a sustentabilidade…

Isto é uma demanda da sociedade.

Quisera eu que a presidente cumprisse o documento que assinou no segundo turno, que ia vetar qualquer coisa que significasse anistia a desmatadores.

Quisera eu que ela hoje estivesse se opondo ao casuísmo contra os índio.

Esta é uma luta que não pode ser privatizada. por nenhum partido ou pessoa. É minha, sua, deveria ser da presidente Dilma, dos governadores, dos prefeitos, de todos nós.

O planeta já está no vermelho em 50%, não é hora de privatizar as bandeiras. É hora de democratizarmos a democracia.

Como a senhora vê a candidatura de Eduardo para presidente?

MS - Eu digo que, em uma eleição de dois turnos, é legítimo que tenhamos muitas candidaturas.

E obviamente que eu não quero antecipar estas eleições.

Eu acho que é prematuro antecipar uma eleição faltando quase dois anos.

Isto só interessa a quem está no governo, porque você fica no ruído eleitoral e não discute o que interessa para o País na agenda da segurança, da saúde, da educação e do desenvolvimento sustentável.

O cidadão quer ver agora so prefeitos trabalhando e vamos deixar as eleições de 2014 para 2014.

Então por isso a conversa foi no sentido da defesa da democracia, independente de casuísmos.

Agora, é legítima a candidatura da presidente Dilma, do Aécio, do Serra, do governador Campos?

São legítimas.

Eu sou da filosofia de que quanto mais estrelas no céu, mais claro é o caminho.

E se nós tivermos no primeiro turno muitas propostas, as pessoas vão poder fazer melhor suas escolhas. É por isso que temos uma eleição em dois turnos.

No primeiro turno, lança-se as sementes.

No segundo turno, faze-se os alinhamentos programáticos.

Não defendo alinhamentos pragmáticos. É preciso que se tenha em vista programa, identidade programática, e não apenas fazer a junção de água com óleo, pensando apenas em estruturas, em tempo de televisão e o poder pelo poder.

Existem semelhanças entre o programa da senhora e do PSB?

MS - A rede é um processo que vem para a renovação da política, uma contribuição de renovação.

Obviamente que neste momento os partidos que percebem que têm esta estagnação podem fazer movimentos também de auto-renovação.

No caso, o PPS está fazendo um movimento desta natureza.

E obviamente que quando há este alinhamento contra o casuísmo e a favor da democracia, isto cria um espaço para que cada partido faça seu próprio movimento.

A Rede está antecipando aspectos da reforma política.

Já estamos estabelecendo, em vez de ficar fazendo só a crítica da falta de financiamento público de campanha, estamos implementando o financiamento popular de campanha.

E aí estabelecendo o teto de pessoas físicas e jurídicas.

Em vez de poucos contribuindo com muito, queremos muitos contribuindo com pouco.

Isso é o financiamento popular de campanha, enquanto não vem o financiamento público.

Nós estamos limitando os mandatos a, no máximo, dois mandatos.

Estamos propondo a criação de um conselho externo para nos avaliar.

E estamos propondo no eixo programática da nossa ação a questão do desenvolvimento sustentável, coisa que os partidos tradicionais não têm como plataforma, mas eu espero que este nosso movimento possa inclusive mostrar para todos os partidos que esta é uma ideia cujo tempo chegou.

O PV tem um programa voltado para a sustentabilidade, mas tem um processo completamente contraditório com seu programa, porque é um partido verticalizado, que não foi capaz de se democratizar.

Por isso estamos neste movimento agora da Rede.

O Nordeste tem atravessado uma seca dura e isto tem levado a críticas à política econômica, que tem atrapalhado um pouco as prefeituras e o governador tem feito críticas à desoneração fiscal.

A senhora concorda com estas críticas?

MS - Bem, eu tenho a minha própria opinião.

EM 2008, foram tomadas medidas por parte do governo que deram alguns resultados, mas foram resultados para a reeleição de 2010.

E agora tenta se repetir do mesmo, querendo criar um ambiente favorável para 2014.

Só que a realidade é completamente diferente.

Não dá mais para querer sair da crise apenas pelo viés de estimular o consumo.

Não dá mais para querer sair da crise apostando apenas nas commodities, porque a China está vivendo uma crise econômica e diminuiu a importação dos nossos produtos, sobretudo minério de ferro.

Então, a repetição de mais do mesmo não pode ser a lógica dos mecanismo de política macroeconômica para sair da crise.

Agora, investir em educação, em tecnologia, em inovação, em ampliação das nossas bases produtivas é o dever de casa.

Já estamos com nossas bases produtivas em plena capacidade de funcionamento.

Não tem mais para onde ir.

Não adianta estimular o consumo, se nossa capacidade de produção já está em plena ocupação e funcionamento.

Assim que a senhora lançou a ideia da Rede, o governador enviou uma carta de apoio.

Na ocasião, a senhora disse que traçava um caminho diferente do dele.

A senhora ainda avalia que vocês seguem caminhos diferentes?

MS - O que eu disse foi que, ainda que tivéssemos um percurso diferente, foi correto o gesto do governador de manifestar o seu respeito pelo nosso movimento de criação da Rede Sustentabilidade.

E partidos, pessoas e lideranças partidárias entendem que é legítimos este movimento que estamos fazendo.

Afinal de contas estamos há 30 anos nesta luta.

Temos aqui Sérgio que é secretário de Meio Ambiente, Alfredo Sirkis, que são figuras históricas, o Roberto Leandro.

São figuras históricas do movimento sócio-ambiental e que têm o legítimo direito de criar uma ferramenta para política institucional para defender o desenvolvimento sustentável.

Então, esta manifestação já veio de personalidades de vários partidos.

Estas pessoas entendem que, quando se têm ideias, estas ideias podem ser transmitidas para a população.

O que não pode são atitudes casuísticas como esta que estão tentando vedar a nós o direito ao tempo de televisão, ao rádio, ao fundo partidário, coisa que não foi negada ao prefeito Kassab.

A senhora tem alguma identidade programática com o PSB?

MS - Você já perguntou se ele tem identidade programática com a Rede?

Como está o processo para a criação de novos diretórios?

MS - Nós já temos hoje comissões provisórias nas 27 unidades da federação e já conseguimos a cota mínima em 26 unidades da federação.

Agora, queremos a cota nacional.

Já temos 300 mil assinaturas, ainda faltam 250 mil e até o final de junho se Deus quiser nós vamos conseguir com esta mobilização que temos de Norte a Sul do País.

Já fui no Pará, Avre, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, São Paulo várias vezes, Rio de Janeiro duas vezes, Ceará e agora estou aqui, em Pernambuco.

A senhora é candidata?

MS - Não vamos fazer esta antecipação.

Por enquanto, isto é só uma possibilidade.

Todos nós achamos que isto é um prejuízo para a gestão pública e a democracia.

Só interessa a quem está no poder e a quem quer o poder pelo poder, quem entra em abstinência quando não está disputando.