Foto: Michele Souza/JC Imagem Por Bruna Serra, do Jornal do Commercio De volta ao Recife após quatro anos em Brasília, tempo que dedicou a elaboração de uma política cultural para o Brasil, João Roberto Peixe, primeiro presidente do PT em Pernambuco, desembarca disposto a se dedicar mas à vida partidária.
E dá o tom de sua volta afirmando que o PT tem que assumir uma visão mais crítica em relação à gestão do governador Eduardo Campos (PSB). “Da mesma forma que ele está na base criticando Dilma (Rousseff), por que também o PT aqui não critica determinadas questões?”, dispara.
A entrevista foi concedida quarta-feira (8), no sobrado onde mora e trabalha em Olinda.
JORNAL DO COMMERCIO - Como o senhor vê hoje o Partido dos Trabalhadores depois de sair derrotado das eleições do ano passado, após 12 anos de comando?
ROBERTO PEIXE - Estou no PT desde a fundação.
Então, nós passamos momentos muito mais difíceis que o atual.
No processo político você tem que estar preparado para as vitórias e para as derrotas e aprender com as derrotas.
No momento que o PT vive em Pernambuco precisa se revigorar e aprendendo com a derrota sofrida, retomar um processo.
Acredito que o quadro nacional ainda está indefinido em relação a candidatura ou não do governador Eduardo Campos (PSB).
No entanto, acho que o PT tem que estar preparado para qualquer situação.
Se para o governador é interessante retardar o processo, ao mesmo tempo que faz a sua campanha, acho que o PT não pode ficar parado esperando que esse processo aconteça.
Naturalmente, o PSB faz parte da base aliada e o desejo do PT, do ex-presidente Lula e da presidente Dilma é que continue na base.
Mas é um direto do PSB disputar.
JC - Como avalia a forma com que o PSB vem se colocando, fazendo críticas e permanecendo na base da presidente Dilma Rousseff?
PEIXE - A postura do PSB é muito contraditória.
Porque essa política que está aí, o PSB é parte dela.
O governador Eduardo Campos tem seus méritos, mas é óbvio que o sucesso dele se deve a um investimento pesado de aportes do governo federal.
Então o quadro se altera.
Se por um lado é difícil para o PT, também não vai ser tão tranquilo para o governador. É bom lembrar que as duas eleições que ele venceu, Lula estava no palanque dele.
O PT se vier a disputar o governo do Estado não vai estar como na disputa da prefeitura do Recife, vai estar com Lula e Dilma no palanque.
E espero que esse candidato seja João Paulo, que é fortíssimo.
Cada eleição tem sua história.
O fato de o PT ter sido derrotado na prefeitura tem razões específicas - que, quer queira, quer não, com todas as divergências internas - os candidatos do PT (João Paulo e Humberto) tiveram que responder pela gestão do prefeito João da Costa que não foi bem avaliada.
Sou ligado internamente à tendência liderada por Humberto (CNB), mas, antes de tudo, sou PT.
E fico feliz quando o PT está unido e forte.
A próxima campanha não vai ser isolada.
Ela vai ser casada com a nacional.
JC - Então o senhor entende que, ao contrário do que ficou dito após a derrota, de que existia uma fragilidade, o PT pode vir reforçado com Lula e Dilma?
PEIXE - A memória às vezes é curta. É bom lembrar que Jarbas derrotou Arraes e Eduardo com mais de 1 milhão de votos e oito anos depois o quadro se reverteu e Eduardo venceu Jarbas.
A política é muito dinâmica.
Dá muitas voltas.
JC - O fato de o PT ocupar cargos no governo Eduardo, bem como o PSB ocupar cargos na gestão Dilma não dificulta o discurso para ambos?
PEIXE - Toda situação onde você está numa mesma base e há uma separação dessas forças com disputa entre elas, naturalmente, não é tão fácil quando um está no governo e outro na oposição.
Na verdade, os dois estão corresponsáveis pelo governo, em papéis diferentes, nos níveis municipal, estadual e federal.
No governo federal, há hegemonia forte do PT e o PSB tem um peso menor.
Essa situação se inverte no governo estadual e na prefeitura do Recife, onde o PT participa com um peso completamente diferente do que tinha até a gestão passada.
Esse discurso vai ser difícil.
Espero que o governador Eduardo Campos caso venha a se lançar não assimile o discurso mais conservador.
JC - A candidatura do governador de Pernambuco parece estar preocupando mais o PT do que a postulação tucana.
PEIXE - Isso só a campanha dirá.
O governador desfruta de um percentual alto de aprovação aqui em Pernambuco, mas nacionalmente não.
Mesmo com toda a visibilidade que a grande mídia vem dando a ele nos últimos meses. É muito cedo para se fazer alguma avaliação.
Evidentemente, hoje, o quadro continua sendo extremamente favorável à reeleição da presidente Dilma.
JC - Como o senhor recebe a declaração do senador Humberto Costa de que o nome de João Paulo é o melhor para disputar o governo?
Qual discurso que o PT precisa adotar para ganhar o eleitor em 2014?
PEIXE - Estou muito feliz com essa semana do PT, com as declarações de Humberto.
João Paulo tem uma marca muito forte que é crescer na campanha, tem essa característica de ser muito bom na rua, do olho no olho, na relação direta e que isso dá força à campanha para ir catalisando a militância.
Inclusive na campanha anterior de prefeito (1996), quase que ele vai para o segundo turno.
Ele é o perfil mais adequado para retomar e levantar o PT.
Contando com o apoio que já está sendo publicamente colocado por Humberto, isso vai colocar uma força muito grande.
O PT, apesar da derrota na prefeitura, tem força no estado e tem a força nacional.
Vai ser uma novidade, porque as pessoas falam da força de Eduardo, mas não imaginam que Eduardo vai estar sem Lula e Dilma e o candidato do PT vai estar com Lula e Dilma.
O PT não pode ficar imobilizado.
Essa última semana nos reanima a todos e quero contribuir. É o momento na minha história política de contribuir para que o PT dispute o governo do estado com força e seja capaz de reequilibrar as forças.
JC - Dentro desse cenário existe o rompimento de João Paulo com o ex-prefeito João da Costa.
Como resolver essa situação de forma a unificar o PT?
PEIXE - Acho que é um novo momento.
Espero que João da Costa tenha maturidade e responsabilidade política, compromisso.
Uma situação era a disputa da prefeitura do Recife, hoje a questão que se coloca tem outra dimensão.
Se trata das disputas dos governos federal e estadual.
Então espero que ele tenha essa responsabilidade para não criar nenhuma dificuldade nesse processo.
E se de fato João Paulo se dispõe, isso é ótimo para todos nós.
JC - Humberto e João Paulo afirmaram que a ideia do PT ter candidato está condicionada ao rompimento do PSB no plano federal.
Na sua opinião, o PT deve ter candidato independente do rompimento?
PEIXE - O PT deve preparar sua candidatura.
Se vai manter ou se vai retirar é um quadro que só mais adiante vai se ter definido.
O que não pode é o PT ficar parado.
O PT tem um protagonismo na política de Pernambuco.
Precisa se preparar, não ficar imobilizado.
A oportunidade de levar as experiências do Recife bem sucedida - a mal sucedida a gente já pagou por ela, com a derrota - agora temos que levar para o Estado a experiência bem sucedida.
Com apoio de Humberto então!
Essa união dos dois nos dá um fôlego para sair desse marasmo.
JC - É possível trazer João da Costa para uma campanha de João Paulo?
PEIXE - Estamos superestimando João da Costa!
Uma coisa era João da Costa como prefeito do Recife, hoje ele tem respeito, tem sua posição, mas acho que tem outras lideranças do partido no Estado e no País que é quem vai dar sustentação a uma possível candidatura do PT.
JC - A aposta é então na composição do palanque?
PEIXE - É.
Todas as lideranças juntas.
E a militância.
Porque uma candidatura de João Paulo, mesmo que seja na adversidade pode sensibilizar, motivar e mobilizar a militância e sociedade de forma geral.
E eleitores que evidentemente estavam, até por terem sentido descontinuidade na gestão, não aprovaram o nosso candidato a prefeito.
Mesmo sendo Humberto.
Foi um preço que o PT pagou.
JC - O PT está se colocando atrasado na corrida sucessória estadual?
Armando Monteiro, por exemplo, já está circulando pelo interior.
PEIXE - Aí há uma complementaridade entre João Paulo, que é uma liderança da capital, e Humberto que tem forte penetração no interior do Estado.
João Paulo tem um peso maior na capital e na Região Metropolitana e Humberto tem uma relação mais direta no Estado todo.
Agora, o PT não pode ficar abatido com a derrota. É hora de retomar o processo.
JC - Na sua opinião, qual o próximo passo a ser dado pelo PT?
PEIXE - Tem que colocar o nome em debate com a sociedade, sentir a receptividade.
Tem um processo que é o Processo de Eleição Direta, que é o PED, que vai mobilizar o partido todo nos Estados e isso é um momento muito bom, evidentemente se for bem tratado, e se o interesse maior do partido se colocar acima das disputas internas.
O nome tem que ser colocado para a sociedade, as políticas públicas de todas as áreas tem que começar a ser debatidas.
O PT tem que assumir uma visão mais crítica em relação a determinados aspectos da gestão de Eduardo.
Da mesma forma que ele está na base criticando Dilma, porque também o PT aqui não critica as questões?
Nesses quatro anos que fiquei no Ministério da Cultura, nós avançamos no Sistema Nacional de Cultura e o Estado de Pernambuco é o único do Brasil que ainda não se integrou ao sistema.Essas questões precisam ser levantadas publicamente.
JC - Por que o PT está tão intimidado em fazer essas pontuações?
PEIXE - O PT ainda faz parte da base do governo.
Inclusive, essa coisa que eu coloquei da Cultura é uma contradição porque a secretaria está nas mãos do PT e é o único Estado do Brasil que não entrou no sistema.
Esses quatro anos andei por todos os Estados, fui a Estados de oposição.
E todos eles foram entendendo.
No Amapá, o governador do PSB, Camilo Capiberibe, teve o mesmo problema que Eduardo está tendo aqui e peitou o conselho e mudou.
Então, é uma questão de decisão política e eu disse ao próprio Eduardo quando conversei com ele sobre isso.
JC - Como se deu sua saída do Ministério da Cultura.
Houve ruído com a ministra Marta Suplicy?
PEIXE - Quem poderia explicar isso melhor é ela.
Na verdade, assim, pelo menos até agora a equipe que montei continuou.
Não sei se continuará.
A ministra Marta foi progressivamente mudando toda equipe do ministério.
E estranhamente ela foi mudando todos os dirigentes do PT que ocupavam postos nos ministério.
A única pessoa que ela manteve foi o Manoel Rangel (PCdoB) na presidência da Ancine.
Todos os dirigentes ou foram demitidos ou se anteciparam e pediram para sair, caso de Sérgio Mamberti.
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