Por Terezinha Nunes A sabedoria popular vaticina que quando uma pessoa ultrapassa a fronteira do razoável, imaginando-se maior do que é, acaba se dando mal.
Ou seja, quando alguém vai com muita sede ao pote, esperando matar rapidamente a vontade de tomar água, acaba derramando o líquido que lhe garantiria o sustento.
Em resumo: atrapalha-se.
Pode ser resumida assim, neste momento, a situação do prefeito do Recife, Geraldo Júlio.
Em lua-de-mel com a população, notadamente a classe média que sonhava todos os dias em se livrar do PT na capital, o prefeito aumentou consideravelmente sua popularidade com uma medida simples: a implantação de uma ciclofaixa aos domingos em algumas das principais ruas do Recife, permitindo que famílias inteiras saíssem a pedalar e se deliciar com essa conquista.
A classe média, que já andava enjoada de só ter uma opção de lazer aos domingos além da praia – a ida aos shoppings – descobriu-se no meio da rua, praticando esportes e se deliciando com a beleza das paisagens recifenses.
Pois bem, o prefeito sonhou em ir além e, como não tem como resolver o problema da mobilidade nos dias de semana sem grandes obras que só agora começam a sair do papel, decidiu-se, como um passe de mágica, ter a ideia de implantar o rodízio de veículos e, antes mesmo de discutir exaustivamente o assunto, como seria pertinente em se tratando de algo de difícil implantação, deu aval a projeto do seu líder na Câmara que prevê a adoção da medida.
A bancada de oposição conseguiu postergar por alguns dias a votação do projeto, usando brechas regimentais, mas, se há mesmo, como parece, disposição do prefeito e de sua equipe de implantar o rodízio, que está sendo chamado por outro nome, o projeto acabará aprovado pela imensa base governista.
A última grande medida que reduziu o problema de mobilidade no Recife, adotada pelo governador Jarbas Vasconcelos, foi a retirada das kombis da capital.
Uma questão que ultrapassava o simples desafio do trânsito e já tinha virado um caso de segurança pública, pois muitas kombis pertenciam a grupos marginais que desafiavam o poder do Estado.
Para que a medida desse certo, o governo, na época, discutiu por quase dois anos o assunto internamente, buscou o apoio de todos os prefeitos metropolitanos, da Assembleia Legislativa, das Câmaras Municipais, da OAB, do Ministério Público, do Tribunal de Justiça e das Igrejas.
Também fez um projeto de aproveitamento de 1 mil kombeiros pelas empresas de ônibus e abriu uma linha de crédito para aqueles que desejavam implantar pequenos negócios.
Resultado: todos esperavam uma batalha campal e as kombis saíram sem que um só tiro fosse disparado.
Claro que no caso do rodízio o problema é bem menor, mas sem debate, sem que a população saiba exatamente o que vai acontecer, pode dar com os burros n’água.
E voltar atrás produz um grande desgaste e compromete uma medida que possa vir a ser tomada no futuro.
Em São Paulo, o rodízio foi implantado e funciona, mas há linhas de metrô que perpassam as principais vias, um sistema de transporte por ônibus bem estruturado, enfim, foram criadas as condições para que a classe média, obrigada a deixar o carro em casa nos dias proibidos, pudesse se locomover.
Não é o que acontece no Recife, onde uma licitação do sistema de transporte deu vazia há poucos dias e não se sabe quando vai ser realizada.
Além disso, aqui vai se implantar um rodízio pela metade.
A proibição de carros se dará em algumas ruas e em algumas horas.
Se houver engarrafamento e a pessoa não conseguir chegar à rua onde é permitido trafegar vai ficar parada, esperando sua hora, para não receber multa.
Pode até dar certo, mas tem tudo para dar errado.
Ainda há tempo de pensar melhor.
CURTAS Lyra – Com a decisão do vice-governador João Lyra de se colocar como alternativa do PSB na eleição para governador em 2014, secretários estaduais que estavam pleiteando uma oportunidade na chapa majoritária se voltam agora para a disputa proporcional, como deputados federais ou estaduais.
Chapa forte – O problema é que o PSB já tem chapas fortes tanto para federal quanto para estadual, mesmo sem a participação dos secretários.
Na eleição passada esta questão foi resolvida com a chapão.
Agora o chapão corre o risco de não ser feito porque o PT e o PSB pretendem disputar em faixa própria.
Chabu – O PSD, que começou com muito gás, pode minguar em Pernambuco.
Na Assembleia, dos três deputados estaduais da legenda, só Rodrigo Novais se mantém firme.
Mary Gouveia ainda não decidiu disputar em 2014 e Francismar Pontes analisa a possibilidade de mudar de partido.