Foto: reprodução Na coluna de Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo deste sábado BRASÍLIA - A capital da República protagonizou um caso obscuro e patético nesta semana.

O governo local quase comprou 17 mil capas de chuva para serem usadas pela sua Polícia Militar durante a Copa das Confederações e a Copa do Mundo.

Ocorre que em junho e julho Brasília tem um clima semelhante ao do Saara. Às vezes, os dias são até mais secos.

Para piorar, as 17 mil capas plásticas teriam um preço médio unitário de R$ 310,00.

Nem se fossem da grife Calvin Klein poderiam ter esse valor.

A parte positiva desse episódio foi a divulgação prévia da compra das capas no portal de transparência de gastos com a Copa das Confederações e com a Copa do Mundo.

Essa publicidade obrigou o governador de Brasília, Agnelo Queiroz, a rapidamente cancelar a aquisição e a demitir o comandante-geral da PM do Distrito Federal.

O desfecho é um exemplo de como a Lei de Acesso à Informação trouxe um elemento civilizatório para a política brasileira.

Sem essa nova obrigação legal, cuja vigência completa um ano neste mês, as tais 17 mil capas de chuva teriam sido adquiridas e jogadas em algum almoxarifado. É claro que o caso poderia ter sido encerrado com a punição dos responsáveis reais pela lambança.

Mas Agnelo Queiroz (ex-PC do B e hoje no PT) preferiu apenas fazer autopromoção.

Espalhou nas redes sociais um anúncio: “Transparência, essa é a nossa bandeira”.

O slogan teria de ser mais completo: “Transparência, essa é a nossa bandeira.

Governança, esse não é o nosso negócio”.

Agnelo só demitiu o chefe da PM e cancelou a compra das capas de chuva após o escândalo surgir na mídia.

Não houve um funcionário sequer do governo petista com capacidade de olhar e brecar previamente o despautério kafkiano que estava prestes a ocorrer.

Brasília, como se sabe e diz, é a síntese do Brasil.

Sobretudo no que o Brasil tem de pior.