A seca exige um repensar sobre o Nordeste Por Elias Gomes, prefeito de Jaboatão dos Guararapes pelo PSDB O Brasil vive tempos ameaçadores.
A região Nordeste está mergulhada em uma seca que dizima o que resta da produção agrícola e da pecuária do semiárido.
Seus efeitos devastadores avançam pelo Agreste e pela Zona da Mata e poderão ter também como consequência algo que muitos políticos, gestores e urbanistas provavelmente não estejam ainda cogitando, que é a retomada do êxodo do homem do campo para as grandes cidades, muitas delas já saturadas na prestação de serviços essenciais.
O noticiário está repleto de casos de metrópoles completamente estranguladas em questões como trânsito, transportes, habitação, saúde, saneamento básico e segurança, resultado de um Brasil (des)urbanizado por absoluta falta de planejamento.
E a estiagem, que acelera o processo de desertificação, expulsa famílias inteiras que, vendo suas vaquinhas já sem poder segurar o chocalho pendurado no pescoço, se despedem do torrão natal e rumam para as cidades grandes nos últimos paus-de-arara.
Sertanejos fortes e em geral de muita fé, mas que se vêem obrigados a vagar por terras alheias, já sem esperanças nas promessas de políticos que remontam ao período do Brasil Império.
Aliás, saímos recentemente de uma eleição e a sociedade se surpreende com a agenda de políticos que invertem a pauta da governabilidade e da construção das políticas públicas, concentrando suas energias na busca do voto para o próximo pleito eleitoral.
Uma corrida desenfreada e despudorada pelo voto que inclui a presidente Dilma Rousseff, que se permitiu ser lançada a uma reeleição ainda na metade do mandato, num momento em que o país se depara com a volta da inflação e da carestia.
Não sou economista, mas entendo de gente e busco ter uma visão de país e de mundo.
E por isso apresento uma sugestão à presidente Dilma e ao amigo Fernando Bezerra Coelho, ministro da Integração Nacional: a transformação da Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene) em Agência de Desenvolvimento do Semiárido Nordestino, incluindo parte do Estado de Minas Gerais.
Todos sabemos estar exaurido o papel da Sudene/Adene, que já não pensa o desenvolvimento, não planeja e se limita a analisar projetos para financiamento com recursos públicos oriundos dos incentivos fiscais e ou encaminhá-los para o Banco do Nordeste do Brasil, o BNB.
A Agência de Desenvolvimento do Semiárido Nordestino retomaria o papel de repensar o Nordeste, sobretudo o seu secular problema da seca que corrói a esperança e consome as perspectivas daqueles que ainda resistem em seus pedaços tórridos de chão, vendo a cada dia ficar mais difícil a garantia do sustento e de uma vida digna e inclusiva, realidade que puxa para baixo os indicadores de desenvolvimento econômico e social do país.
O que defendo é a implementação de uma política nacional de convivência com a estiagem que mobilize a ciência, o conhecimento já produzido aqui e em vários países e que proporcionam a prosperidade em terras muito mais áridas e adversas que o nosso Sertão.
Considero inadiável resgatarmos o saber e o compromisso de Celso Furtado, de Josué de Castro e de tantos outros idealistas que sabiam ser possível termos um Nordeste no seu mais ‘nordestino’ sentido, fincado nos nossos sertões, uma região que pelas suas peculiaridades pode sim tornar-se território fértil, com fartura de porção, como canta Luiz Gonzaga em sua música Último pau-de-arara.
O nordestino já não clama, exige verdadeira solução que não seja a esmola que lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.
Façamos o debate sobre o nosso semiárido e sua repercussão nas grandes cidades, que podem se tornar menos inchadas e mais abastecidas, com a fartura de porção passando a ser realidade na mesa de todo o nosso povo.
O nordestino fará isso sem gastar sua coragem.
Finalizo com uma frase que ouvi de um sertanejo das margens do São Francisco: “Se o campo não planta, a cidade não janta.” Que São Francisco interceda por nossos líderes, fazendo-os refletir e atuar de forma decidida a por um fim a essa chaga secular e ao inchaço das nossas metrópoles tão sobrecarregadas em razão da falta de uma política de desenvolvimento harmônico para o país, visto que parte da solução para os gargalos das nossas cidades está fora delas.