Por Michel Zaidan A fusão do PPS (Partido Popular Socialista) com o PMN (Partido da Mobilização Nacional) para a criação do PMD (Partido da Mobilização Democrática), tendo na sua presidencia o deputado pernambucano Roberto Freire, consuma um lento e agônico processo de decomposição ideológica no quadro partidário brasileiro.
A transformação de parte do antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro) em PPS, depois da queda do murdo de Berlim, na verdade chegou tarde de demais.
A faixa para a existência de um partido de massas, laico e de centro-esquerda acabava de ser ocupada pelo Partido dos Trabalhadores, retirando dos pós-comunistas do PPS o discurso da renovação democrática do socialismo.
Além da disputa ideológica entre o venho PCB e o novo PPS (que se diz herdeiro dos militantes da estratégia democrática para o socialismo), havia a disputa pessoal entre o velho comunista Paulo cavalcanti e o “novo” Roberto Freire.
Nesse processo de lenta decomposição ideológica, o PPS poderia facilmente ter se convertido num partido-laranja ora do PSDB paulista ora do PMDB pernambucano.
Mas e o fizesse, o deputado pós-comunista Roberto Freire não continuaria na presidencia do partido.
Seria um mero deputado federal, por São Paulo ou por Pernambuco, sob o comando de outros caciques partidários.
A nova fusão interpartidária, que já conta com a base parlamentar de 13 deputados, confere ao presidente da nova legenda uma pequena tropa, para negociar com os futuros candidatos a Presidente da República.
E não será surpresa nenhuma se essa negociação pender para o lado ou de Eduardo Campos ou de Aércio Neves, por afinidades históricas ou ideológicas antigas.
O que é se se notar é a inexpressividade política e doutrinária desse novo agrupamento partidário (PMD), que já vem cercado pelas restrições da nova lei de criação de novos partidos, quanto ao fundo partidário e o tempo de televisão.
Independentemente desses prejuízos, o casamento entre o PPS e o PMN é de puro e exclusivo interesse.
Não há nenhuma questão nacional, política, doutrinária em questão.
Como o próprio PPS já tinha se tornado um partido de centro, coligando-se com o DEM, o PSDB ou o PMDB, esse matrimônio partidário só consolida e reafirma a total e definitiva perda de identidade ideológica, sacrificada no altar das ambições pessoais de seu novo presidente.
Poderia ser feita a seguinte questão: a quem veio esse novo partido?
Qual a sua ideologia?
A sua base social?
As suas alianças? - Difícil responder a essas perguntas, na metamorfose ou desfiguração ins titucional a que foi submetido esse partido.
Mas negócio fariam os ex-comunistas se se dissolvessem e buscassem, livremente, abrigo nas demais agremiações partidárias, sem o constrangimento de se dizerem socialistas, comunistas ou ex-comunistas.
Pouparia também o trabalho de sinceros militantes que acreditaram nessa mudança, de sairem publicamente desse casamento suspeitoso, tendo que fazer declarações públicas sobre suas escolhas. É preciso dizer que, como em momentos anteriores da nossa história política e partidária, essas manobras (ou estratégias) ocorrem potenciadas por candidatos ou pré-candidatos às principais eleições majoritárias do país, em 2014.
Não é mera coincidência ou acidente que esse fusão venha ocorrer, na ante-véspera do pleito presidencial do próximo ano.
Certamente que há uma negociação em curso entre as liderenças partidárias. È o velho jogo do toma-lá-da-cá.
Voce me apoia e eu em troca lhe apoio.
Essas mudanças têm uma motivação (e um preço) certa: a futura montagem dos palanques e das alianças políticas. É por essas e por outras, que o espaço da esquerda mingua e as legendas ideológicas propriamente ditas vão ficando cada vez mais minoritárias.
Mas a sua sobrevivência é de vital importância para a democracia brasileira.
Afinal, mesmo minoritárias, elas ajudam a ali mentar ideologicamente o debate político no país.
O resto é fisiologismo, clientelismo e corporativismo.