Por Nelly Carvalho No caderno de Opinião do Jornal do Commercio desta sexta-feira O sociólogo inglês Basil Bernstein, nas décadas de 1950 e 1960, introduziu o aspecto social na observação de resultados escolares.

Em Londres - culta e civilizada- percebeu a diferença no desempenho entre os alunos filhos da classe operária e alunos filhos da classe média.

Em pesquisa, detectou que a causa era a linguagem aprendida e usada pelos dois grupos.

Alunos de classe operária usavam uma língua desprovida de recursos, com vocabulário limitado e sintaxe/semântica reduzida, a que chamou de código restrito.

Os alunos da classe média, com acesso às informações, à alta cultura e às artes, dominavam uma variante linguística com amplo vocabulário, rica no aspecto sintático e semântico, além de pronúncia formal, o que ampliava a capacidade intelectual com o consequente sucesso escolar, denominou-o código elaborado.

Além disso, as mães de classe operária (sempre as mães, responsáveis por tudo) educavam os filhos com ordens aleatórias sem relação de causa e efeito, não desenvolvendo o raciocínio.

Ao contrário, as mães de classe média educavam com argumentos lógicos, desenvolvendo assim a capacidade de raciocínio (não vá para a chuva, você vai se resfriar).

Foi denominada teoria do déficit.

Pouco aceita por alguns linguistas, a teoria teve aceitação entre educadores, inclusive esta articulista, porque víamos nos seus postulados a comprovação nas dificuldades de alunos da periferia, com desempenho escolar incomparável aos alunos do centro.

Depois, Bernstein foi esquecido e substituído pelo americano Labov, com a teoria das diferenças.

Para este, o que havia entre as duas classes era uma diferença de códigos de linguagem, e não um déficit.

Mas, como toda teoria tem sua parte de verdade, a do déficit, na opinião de muitos, explicaria as dificuldades do ensino.

Os problemas de aprendizagem estavam e estão, muitas vezes, além dos muros da escola.

No entanto, fato recente se superpôs a especulações teóricas: um prêmio confrontou as teorias com os dados da realidade.

Uma aluna de escola pública de Quixaba, sertão de Pernambuco, de 14 anos, tirou primeiro lugar em concurso estadual de redação.

Maírla Dias demonstrou a falibilidade das teorias, ao superar concorrentes de centros mais adiantados.

Estímulos à leitura e redação fizeram parte de sua aprendizagem.

Certamente professores dedicados a incentivaram ao sucesso, combinando a norma padrão com o raciocínio lógico, determinantes na construção de um texto.

Nelly Carvalho é professora da UFPE.

Leia também: Aluno da rede pública do Recife custa o mesmo que aluno de escola privada top de linha Vereador tucano deslinda ineficiência da escola pública no Recife