Por Vitor Hugo Soares, no Blog do Noblat “Eduardo Campos vem aí”.
Espalhava-se aos quatro cantos e becos de Salvador, com euforia incontida de uns e preocupação mal disfarçada de muitos, a notícia, confirmada até o meio dia de ontem (12), de que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, e nome de peso no tabuleiro da sucessão presidencial em 2014, desembarcaria no começo da próxima semana na cidade da Bahia.
O líder pernambucano chegaria com agenda cheia na quinta-feira, 18, na “área sagrada da Bahia de Todos os Santos e de quase todos os pecados” (na definição feliz do falecido escritor e jornalista Nelson Gallo).
Viria em viagem de prospecção estratégica nos sensíveis e minados terrenos da economia e da política locais.
De manhã, na Associação Comercial da Bahia, mais antiga e simbólica entidade corporativa do gênero na América Latina - ativamente atuante desde a Guerra do Paraguai ou da grande seca de 1900 no Nordeste -, o político e candidatíssimo até aqui, à sucessão da presidente Dilma Rousseff iria fazer palestra e debater com os empresários sobre gestão governamental e conjuntura econômica do País. À tarde, na Assembleia Legislativa, em ato político cujos preparativos já começam a fazer tremer o solo do Centro Administrativo da Bahia (CAB) – com reflexos mais que evidentes, apesar dos disfarces, no prédio próximo da governadoria estadual, onde manda o petista Jaques Wagner -, o neto socialista e herdeiro político de Miguel Arraes receberia o título de Cidadão Baiano.
Para a noite, estava marcado “uma conversa” e debate com estudantes, na Universidade Jorge Amado.
Estranhamente, mesmo para os padrões da política baiana, telefonemas começaram a ser disparados, desfazendo convites e tudo antes acertado para a visita do dia 18.
Depois das 15hs de ontem, o PSB baiano distribuiu uma nota via redes sociais: “A entrega do Título de Cidadão Baiano ao governador do Estado de Pernambuco e presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, que aconteceria na próxima quinta-feira (18), no Plenário da Assembleia Legislativa, foi adiada, em princípio, para o dia 24/04.
De acordo com assessoria do deputado estadual Cacá Leão, proponente da homenagem, o governador pernambucano informou que estará em uma reunião extraordinária na cidade de Washington (EUA)”.
Ponto final?
A conferir!
Afinal, ontem, sexta-feira, o governador estava na capital americana, onde, na véspera, falou sobre sua gestão , como noticia o Diário de Pernambuco.
Estranho, não?
Enquanto isso, “prepare seu coração”, como recomendam há décadas os versos imutáveis de “Disparada”, a canção militante de Geraldo Vandré.
As simples preliminares da visita, nos últimos dias da política baiana, nordestina e nacional, fazem da visita de Campos à Bahia, semana que vem ou em outra data, um acontecimento especial e revelador (mesmos nas questões e motivações escondidas) no célere e antecipado calendário das movimentações prévias com vistas a 2014.
Desde já, a visita de Campos demonstra poder de fogo, força política e interesse jornalístico ainda maiores que os recentes avanços da presidente Dilma (decidida a disputar a reeleição para permanecer por mais quatro anos como ocupante do Palácio do Planalto) nos seus comícios-inaugurações na região Nordeste, naco do universo eleitoral do País mais acerbamente disputados até agora.
Ao jornalista que assina estas linhas informativas e de opinião (nascido nas barrancas baianas do Rio São Francisco cujas águas cortam Bahia e Pernambuco), o ambiente de efervescente movimentação destes dias, lembra as campanhas embaladas pelo frevo “Arraes Taí” , nas grandes campanhas nordestinas comandadas pelo avô de Campos.
Recorda, igualmente, as agitadas e polêmicas arregimentações do tempo do aviso “Pinto vem aí”, conduzidas na baiana e heroica cidade de Feira de Santana das lutas eleitorais e contra a ditadura, pelo ex-prefeito , arrancado a força do cargo, e depois deputado Chico Pinto, resistente e brilhante parlamentar do Brasil.
Feitos que até resultaram no filme “Pinto vem aí”, do saudoso cineasta-documentarista, Olney São Paulo, premiado no primeiro Festival de Curta Metragem do Jornal do Brasil. “Isso é passado”, dirão alguns, com certa razão, mas com prejuízo evidente da memória, que sempre deixa grandes lições para os que acreditam e confiam na história.
Voltemos então ao presente, às vésperas da anunciada visita do mais novo cidadão baiano à capital, para receber com pompas e circunstâncias o título aprovado na Assembleia por indicação do jovem deputado Cacá Leão, do PP.
O impacto político da visita anunciada, além do adiamento na data inicial prevista para a próxima semana do governador de Pernambuco, até já causou o primeiro estranhamento sério entre o PT e o PSB, forças fundamentais de apoio ao governo petista no Estado.
O governador Jaques Wagner, provavelmente “por simples acaso ou coincidência”, sugeriu às vésperas da chegada do colega Eduardo Campos em seu terreiro: “só haverá espaço para um presidenciável do governo na eleição de 2014”.
Leia a íntegra do texto no Blog do Noblat.
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