Por Fernando Castilho, do JC Negócios, especial para o Blog de Jamildo O governador Eduardo Campos costuma contar que ouviu do próprio Lula o início do seu relacionamento com a presidente Dilma Rousseff.
Aconteceu ainda no escritório de transição quando o PT, no grupo de trabalho que analisava os dados de Minas e Energia, na presença do físico Luiz Pinguelli Rosa, indicando que ele seria o ministro da pasta.
Foi parecido com a aquela publicidade do Fernandinho da camisa Pool.
Dilma sentava na segunda fila e Pinguelli todo cheio de prosa falava como futuro ministro.
Na primeira reunião, as perguntas simples e objetivas de Lula foram respondidas pela ex-secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul.
Lula perguntou: quem é?
E alguém passou seu currículo.
Na terceira reunião, Dilma já estava ao lado de Lula até que, na hora de anunciar o ministério, Lula mandou José Dirceu arranjar um lugar para professor Pingelli, pois Dilma seria a ministra.
Piguelli foi para a Eletrobrás e até hoje rumina raiva contra a presidente.
Mas, fazer o quê?
Eduardo Campos também costuma lembrar que Dilma foi se construindo pela eficiência até que Lula, que já tinha empinado vários nomes do PT, viu o dela com maior potencial e a bancou.
E sempre quando falava da presidente se referia da dificuldade dela ser convencida politicamente.
Convivia bem, mas não tinha intimidade.
Não tinha mais aquela de ser chamado com Dona Renata para almoçar secretamente com o presidente e dona Marisa no domingo.
Com Dilma, o expediente acaba na sexta-feira à noite.
Ainda assim ele vinha se dando bem com a presidente até que decidiu se apresentar como candidato.
Essa história é para explicar por que nessa questão de Suape e do Arco Metropolitano ele se deu mal.
E porque a coisa começou ainda no tempo dessa convivência, no ano de 2011, quando seus auxiliares levaram para ela informações sobre seus dois mais importantes projetos de seu segundo governo: os novos terminais de Suape, inclusive um segundo Terminal de Contêineres e o do Arco Metropolitano ligando Igarassu ao Cabo de Santo Agostinho, uma nova estrada “pedagiada” que poderia se reconstruída numa nova PPP.
O caso da MR-595 virou uma espécie de traição administrativa.
Foi assim: quando Dilma chamou o governador e falou do projeto de um novo marco regulatório, Eduardo Campos disse que se ela queria uma Benchmarking deveria ver o que aconteceu com Suape.
Funcionava bem, atraía indústria e não tinha a pressão dos portuários, pois o Tecon contratava seus operadores diretamente.
Dilma se animou e mandou Gleise Hoffman conversar com ele.
Eduardo Campos mandou Fred Amâncio fazer uma apresentação do complexo e dos futuros projetos.
Em outras palavras: Eduardo abriu seu coração para Dilma.
Mas, Mônica, ou melhor, Dilma ouviu mais Gleisi Hoffmann, que organizou o texto da reforma que ficou mais focada em impedir uma nova negociata como a que levou a Operação Porto Seguro, no Porto de Santos.
No fundo, ela atendeu mesmo aos pleitos dos operadores privados de terminais (que querem, mesmo sem ter carga própria, poder contratar empregados fora da legislação portuária do século XIX hoje vigente) esquecendo-se que, em termos de organização sindical, os portuários só perdem para os partidos comunistas do Leste Europeu.
Deu no que deu.
Mas, o problema é que nessa briga do mar com a rocha, o Suape de Eduardo Campos virou marisco.
E hoje ele sabe que vai, literalmente, ficar a ver navios.
A menos que no Congresso seu partido consiga “melar” o processo.
Mas, o caso do Arco Metropolitano foi mais cruel.
Quando no final de 2011 o pessoal da Odebrecht chegou com um projeto pronto e acabado de uma PPP para o arco de 77 quilômetros, contornando o caos que hoje existe na Rodovia do Contorno, Eduardo Campos achou que tinha resolvido uma das mais complicadas demandas de seus governos.
Uma rodovia que tirasse do Recife todo o tráfego pesado de demanda da Suape.
O projeto da Odebrecht veio belezal.
Uma Proposta de Manifestação de Interesse fortemente documentada com custo estimado e “EIA Rima” já pronto para ser dada entrada.
Ficou tão feliz que mostrou ao presidente da Fiat, Cledorvino Belini, que passou a defendê-lo como perna da sua fábrica em Goiana pelo Brasil fora.
O problema é que a conta não fechava só com verba privada e pedágio e a contrapartida do Estado poderia ser feita com verba federal se Dilma abrisse o coração, ou melhor, o cofre.
No começo, o pessoal do ministério Planejamento adorou a ideia.
Se lá desse certo, poderia ser padrão para ampliação da malha rodoviária federal.
A União entrava com uma pequena parte através de um convênio com o Estado com verba de um programa de incentivo a concessões e a habilidade do Eduardo Campos resolveria ao resto.
Tudo ia bem até que Eduardo teve que vestir o uniforme de candidato forçado por Lula que lançou Dilma Rousseff à reeleição dois anos antes do pleito.
E aí tudo mudou.
A MP-595 ignorou os apelos de Suape e Gleise Hoffman bateu boca com Eduardo Campos no Congresso.
O bicho pegou.
Dilma que não perdoa que “suas meninas” sejam destratadas.
Aproveitou uma vinda a Pernambuco e comunicou a Eduardo Campos que vai transformar a proposta de PPP numa obra federal.
Ou seja: uma ampliação da malha da BR-101 a cargo do DNIT.
Todo mundo sabe que isso é pior do que a morte.
Primeiro o DNIT não quer ouvir falar de PPP porque exclui do comando de ações no setor.
Depois, nem gente para analisar o modelo de negócio de uma PPP com a proposta, eles tem.
Na prática, só vão querer saber o que é obra de engenharia.
E vão mandar o texto para uma secção do órgão e esperar que a presidente mande especificamente o Ministério do Transporte criar uma rubrica para a obra no orçamento do órgão que vai para o do ministério que depois vai para o OGU até que o Congresso o analise.
Por baixo, é coisa para, no mínimo, 2015.
Ou seja: Foi para o espaço.
O diabo dessa história cristã é que hoje Dilma sabe o que Eduardo Campos precisa para alavancar seu estado e sua campanha.
Com Suape fora da MP-595 e o Arco Metropolitana, a Região Metropolitana do Recife vai vira o melhor lugar de investimento do Nordeste.
Ela sabe que mesmo tendo bancado parte da festa o Governo Federal não vai aparecer na campanha de Eduardo Campos.
O publico só vai saber que foi Eduardo quem negociou tudo.
E isso vai da PPP da Odebrecht, aos interessados no Tecon II, aos interessados nos terminais de grãos e granéis sólidos passando pela Fiat e vai por aí.
Assim, o governador está sentindo na pele que o jogo pesado vai lhe custar caro.
O esquema de ir levando 2013 até chegar 2014 não deu certo.
Dilma com seu sentimento de mulher até compreende, mas não perdoa.
E como toda mulher, até aceita, mas se vinga quando tem a oportunidade.