Por Roberto Numeriano Um dos mais sinistros efeitos da longa ditadura militar (1964-1985) foi o desmonte do ensino público brasileiro, afetando, sobretudo, a qualidade em si e os salários dos docentes.

Do antigo primário à graduação universitária, duas décadas foram suficientes para sucateá-lo.

E o mais grave é que, desde a redemocratização esse tempo perdido jamais foi recuperado.

Temos quase trinta anos de democracia(formal) e a qualidade do ensino público nem de longe se assemelha ao que foi construído nos anos 40 e 50.

A par de sua universalização mercantil em todos os níveis, temos como troco desse comércio vil a precarização das condições de ensino, os salários ridículos e humilhantes dos docentes, a queda absurda dos níveis de aprendizado, principalmente nos testes de fogo da Álgebra (Matemática) e Língua Portuguesa.

Tudo somado, vemos que essa universalização é, em essência, um embuste que até ilude centenas de milhares de jovens nos ensino médio e de graduação nas redes públicas.

Aqui em Pernambuco, o Governo Estadual faz propaganda de jovens estudantes que ganham bolsas para “experiência cultural” no exterior.

Tenho dúvidas se muitos desses jovens passariam em provas de matemática e de língua portuguesa cujas questões não sejam, em grau de dificuldade, rebaixadas e ilusórias.

Seus pais, amorosos, ficam a imaginar que nessas escolas e colégios o céu é o limite para seus filhos.

Escrevo tudo isso como cidadão, pai e professor.

Escrevo, sobretudo, revoltado.

Roberto Numeriano é professor, cientista político e jornalista.