Por Jamildo Melo, editor do blog No dia 20 de junho de 2012, o ator Jones Melo antecipou ao Blog de Jamildo, com exclusividade, a volta da Farmácia dos Pobres.
De lá de cima, do céu, menos de um ano depois, o jornalista, que ficou conhecido na capital pernambucana como garoto propaganda da rede de farmácias populares, poderá ver suas palavras virarem realidade, a partir da próxima segunda-feira (8).
Nesta data, a rede abre sua primeira loja, das três primeiras, antes de investir na expansão por meio de franquias pelo Estado.
Nesta quinta (4), almocei com o empresário Janilson Dantas, dono da Farmácia dos Pobres.
Não nos conhecíamos, mas tínhamos Jones Melo como amigo em comum.
Dantas é conhecido por recusar entrevistas, mas quebrou uma regra pessoal de ouro para falar da volta ao mercado, depois de sair de uma recuperação judicial demorada e difícil.
Muitos não acreditavam nesta volta por cima.
Eu interpreto o gesto como uma bela homenagem ao querido ator.
Nós dois não apenas acreditávamos, mas torcíamos por ela.
Após recuperação judicial, Janilson Dantas vai reabrir rede / Foto: BlogImagem A primeira coisa que impressiona na reabertura das lojas é a determinação do empresário Janilson Dantas.
Não é fácil recomeçar e ainda mais aos 67 anos.
O valor da honra pessoal é a segunda coisa que vem à mente.
Janilson Dantas conta que o pai dele, João Batista Dantas, potiguar, teve cinco filhos e sempre sonhou que um deles fosse farmacêutico.
Coube ao destino que fosse ele, que se formou na área pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Eu praticamente nasci dentro de uma farmácia em Campina Grande.
Eu precisava dar continuidade à empresa.
Não podia deixar morrer”.
Qualquer um diria que é loucura.
A resistência contra o projeto de retomada começa mesmo em casa.
A esposa, Dona Lúcia, reclamou. “Não acredito que você vai se meter de novo com isto”, respondeu.
O empresário fala com serenidade de todo tormento que atravessou. “Precisa ter muita saúde mental para passar pelo que passei.
Nove anos de psicanálise me ajudaram muito.
Nunca fugi da raia”, explica.
Depois de honrar todas as dívidas, Janilson Dantas agora tem o que chama de uma vitória de Pirro. “Me sinto um vitorioso, mas tenho um prejuízo de R$ 80 milhões no balanço da empresa”, revela. “Já vou estar no buraco [falecido] quando meu filho puder cobrir este prejuízo”, diz.
Nesta tarefa de soerguimento da marca, ele vai contar com a ajuda do filho Leonardo Dantas, que voltou dos Estados Unidos.
Atuando na área de comercio exterior, Leo, como é chamado, morou 17 anos fora.
No caminho de volta, o empresário conta que vai dar preferência aos ex-empregados. “Vou chamar de volta.
Tem gente que trabalha comigo há 25, 30 anos.
Antes de o Lula criar o Primeiro Emprego, eu já fazia isto na rede há 15 anos.
Sempre demos oportunidades às pessoas formadas na casa”.
Antes de começarem os problemas, a rede chegou a empregar 1,350 funcionários.
Mais de mil moveram processos trabalhistas contra a rede, na Justiça. “Eu me doia muito, porque, naquela avalanche, não havia como pagar a todo mundo”.
Coragem Os mais novos podem não lembrar, mas em 1989 a rede de farmácias populares causou na cidade e ganhou repercussão nacional ao abrir a competição de preços. “Havia um cartel formado pelas concorrentes e elas vendiam sempre pelo preço mais alto da tabela.
Nós colocamos anúncios com preços mais baixos e cobrindo a diferença se alguém vendesse mais barato do que a gente.
Eu recebi até ameaça de morte.
Saiu uma reportagem no Estadão citando isto”, relembra.
Na volta, se não há cartel, o empresário irá enfrentar simplesmente um grande banco, o Pactual, que controla as redes Guararapes e Big Ben.
Curiosamente, os problemas da rede de farmácias começaram com uma questão de crédito, mas não com instituições financeiras e, sim, com fornecedores.
A dívida era concentrada em uma grande distribuidora nacional, de nome Panarello. “A nossa derrocada começou por ali.
A gente tinha um volume grande de compras concentrada naquela empresa, algo em torno de R$ 6 milhões.
Eu não acreditava que eles tivessem problemas financeiros, mas aos poucos os prazos [de faturamento] foram sendo reduzidos e nos deixaram em colapso.
A primeira vitima da Panarello foi a Drogaria Iporanga, de Santos.
Depois foi a gente.
O Paulo [Panarello] botou uma batata quente na mão da gente, mas a gente conseguiu descascar e vamos recomeçar”, frisa.
O empresário Paulo Panarello, de Goiás, citado por Janilson Dantas, suicidou-se em setembro de 2010, aos 60 anos, jogando-se de um prédio, deprimido desde quando vendeu o controle de sua distribuidora para empresas alemãs.
No Recife, o empresário chegou a manter uma administração compartilhada com a Farmácia dos Pobres, mas depois pulou fora.
No mercado, era apontado por ter jogado a empresa local na lona, por ter cortado o suprimento de medicamentos, quando as dívidas se avolumaram.
Nos comunicados oficiais, a Farmácia dos Pobres sempre citava problemas com um fornecedor.
Era justamente Panarello.
Dono de duas redes de farmácias que operam no Recife suicida-se em Goiás Não há rancor na fala de Dantas quando ele cita Panarello.
Para sair da borrasca, Janilson Dantas vendeu os pontos para os concorrentes, de modo a ter recursos para ir liguidando os passivos.
Preservou a marca, avaliada em mais de R$ 30 milhões.
Até hoje é citada no recall de marcas do Estado, embora não esteja investindo em publicidade há vários anos.
Dito deste modo, até parece fácil.
O empresário tentou negociar a venda do negócio com pelo menos seis compradores. “Eu tinha que ter um emocional muito forte.
Era difícil ver as coisas se acabando.
Eu correndo de avião para cima e para baixo tentando resolver.
Eu vendi a empresa várias vezes.
Fechei negócio, mas depois recebia a notícia de que os grupos recuaram, como aconteceu com um grupo de Belém do Pará.
Foi assim com a Drogaverde, de São Paulo.
O Wall Mart levou [avaliando] 18 meses para ser meu sócio”, revela.
Neste novo momento, a primeira loja vai ficar no corredor da Rosa e Silvan na Jaqueira, Zona Norte do Recife.
As outras lojas vão estar na Madalena, Zona Oeste, e em Boa Viagem, Zona Sul.
Em 2007, antes dos problemas, a rede chegava a ter 800 mil atendimentos por mês.
No final de julho de 2008, veio o processo de recuperação judicial.
Só de cartões de fidelidade eram 650 mil, na época.
Neste reinício, a rede contará com mais de 200 funcionários diretos em sua lojas.
Em cada loja, Janilson Dantas informa que vai investir cerca de R$ 1 milhão. “São recursos próprios.
Se fosse depender de crédito, não saia nem do canto”, observa.
No caminho das franquias, o empresário aposta que cidades como Vitória - na Zona da Mata -, Caruaru e Garanhuns - ambas no Agreste pernambucano - ganharão as primeiras unidades neste modelo.
Ele diz que já foi procurado por parceiros interessados.
Neste novo ato, a Farmácia dos Pobres terá um problema adicional.
Não tem mais o mesmo garoto propaganda.
Jones Melo chegou a ser convidado para voltar ao papel 15 dias antes de morrer.
Deles, o empresário guarda uma profunda gratidão.
Se nos bons tempos ele agiu com correção com a rede, mais ainda quando ela entrou em declínio.
Com sua imagem pessoal associada à marca, ele não fugia da raia. “As empresas são como as pessoas.
Elas também adoecem”, dizia Jones Melo, quando ouvia uma pilheria.
Adoecem, mas se recuperam para seguir em frente.