Por Angelo Castelo Branco Há uma série de equívocos recidivos nesse grotesco episódio da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.

Sua causa principal resulta da distancia que a democracia brasileira, desde seus mais remotos tempos, insiste em manter da população e das instituições que a representam fora do âmbito congressual.

Quando os congressistas, como de praxe, fizeram o conchavo interno para escolher o nome que iria presidir a Comissão eles esqueceram, antes de anunciar o nome do ungido, de perguntar às organizações da sociedade civil envolvidas diretamente com o tema se poderia haver alguma reação à decisão.

Se assim procedessem, como manda o espírito lato senso de um regime verdadeiramente democrático, a nação certamente não estaria assistindo a esse tão degradante espetáculo.

Mas, do ponto de vista dos atuais valores civis, a bomba que explodiu na Comissão de Direitos Humanos jamais passou pela cabeça dos parlamentares envolvidos com a escolha do pastor.

Eles apenas cumpriram o ritual frio, cético, distante e indiferente à opinião pública, tal como fazem os que escolhem presidentes das demais comissões, líderes de bancadas e até mesmo os presidentes do próprio Congresso Nacional.

Ou seja, os senhores deputados pensam que uma democracia se realiza e se completa apenas pelos resultados das urnas homologadas na justiça eleitoral.

Dali em diante, imaginam-se senhores que podem fazer tudo sem nada a considerar nem a explicar.

Basta que um grupo hermético reúna-se para distribuir as benesses oferecidas a eles pelo parlamento e pronto.

No dia seguinte a mídia registra a decisão e o povo que se curve.

Mas as coisas não são bem assim, principalmente a partir de momento em que a democracia passa a ser uma ferramenta abrangente de interação a serviço de reivindicações cujos eficientes atendimentos a população exige e finca o pé.

Essa cultura de permanente desatenção à população, tão comodamente mantida por parlamentares de todos os níveis da nossa federação, bem que poderia ser repensada a partir do episódio do pastor Marco Feliciano.

Uma simples pesquisa restrita de opinião qualitativa certamente evitaria esse desgaste do Congresso Nacional.

Mas há também o lado positivo da questão, que é exatamente a possibilidade de se tirar proveito desse fato, cujos efeitos e exageros reforçam processo de fadiga do modelo democrático brasileiro.

Levado à presidência da Comissão de Direitos Humanos pela escolha de seus pares dentro de um trâmite absolutamente legal, o processo interno que elegeu o pastor está rigorosamente legitimado pelo regimento da Casa.

Ele e só ele poderá abrir mão de sua indicação.

E a renúncia é algo que parece pouco provável porque afinal de contas o pastor, com razão, invoca sua condição de representante de uma parcela da população, e eleito na suposição de representar os valores e as teses de seus eleitores.

A democracia assegura a pluralidade de ideologias, religiões e conceitos.

Quem quiser que vote no cara que achar mais adequado.

E com um agravante.

Se a Mesa Diretora da Câmara Federal viesse porventura, baixar um ato de força para substituir o presidente de sua Comissão de Direitos Humanos (cargo que na verdade e na prática pouco ou nada poderá influenciar nas decisões plenárias do Congresso Nacional) estaria praticando um golpe contra a própria democracia.

Ou seja, algo que na essência filosófica seria comparado ao mesmo espírito do golpe militar de 1964.

Então, a distância que o Congresso Nacional mantém do povo como se subestimasse a inteligência popular tem sido causa frequente de crises políticas e já é tempo de se tomar outros rumos.

Todos merecem respeito e merecem ser ouvidos através da sociedade civil organizada antes que essas coisas explodam no colo de constrangidos deputados.