Por Carolina Albuquerque No Jornal do Commercio deste domingo O norte é o governador Eduardo Campos (PSB).

O sul, a presidente Dilma Roussef (PT).

Desde que a tensão PT-PSB se aprofundou, primeiro com a candidatura do hoje prefeito Geraldo Julio, no Recife, depois com o movimento assertivo de Campos de olho na eleição presidencial de 2014, o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho (PSB), é o ponteiro dessa bússola imaginária, pressionado pelas duas forças.

Em conversa com o JC, ele confessa que trabalha para manter firme esta “ponte”. “Ainda tem espaço para que essa aliança política que nos manteve juntos até aqui possa continuar e prosperar”, diz.

Não se detém muito sobre a especulação de que poderia trocar o PSB pelo PT.

Sobre 2014, dispara: “Acompanharei a decisão do meu partido”.

Quanto ao seu projeto de ser governador, se enche de esperança.

Diante de tantos nomes no partido, insiste que quer ser lembrado para a disputa, pela trajetória e trabalhos já prestados ao Estado.

POLÍTICA REGIONAL Essa preocupação do governador é também a mesma do governo.

O tema da desigualdade regional ainda persiste.

Avançamos do ponto de vista das desigualdades sociais.

Ninguém alcançou os resultados que o Brasil alcançou do ponto de vista da inclusão social.

São resultados expressivos.

Então, a crítica do governador vem no momento correto, mas no momento em que encontra o governo federal justamente realizando essa discussão. É a primeira vez que a política regional de desenvolvimento é alvo de uma conferência nacional.

Participaram desse debate mais de 10 mil brasileiros.

Houve uma adesão muito grande dos Estados, da academia, das agências e institutos de planejamento.

Então temos um rol de sugestões, indicações para que possamos estipular o marco legal da segunda PNDR (sobre o Seminário de Política Nacional de Desenvolvimento Regional, que aconteceu semana passada em Brasília).

ALIANÇA COM O PT O que estamos discutindo é que nós fazemos parte do mesmo conjunto de forças políticas.

O PSB participou legitimamente dos governos Lula e Dilma.

E estamos no governo Dilma por indicação e representação do PSB.

Acho que ainda tem espaço para que essa aliança política que nos manteve juntos até aqui, ela possa continuar e prosperar.

Mas na hora que o partido decidir de forma diferente, é evidente que vamos acompanhar a decisão.

Meu sentimento é que nós vamos continuar juntos, porque o que tenho ouvido do meu governador e presidente é que é importante ganhar 2013 e nós precisamos ganhar 2013.

A PONTE Vejo preocupações dentro do PT em criar um clima de entendimento.

Tenho conversado com Humberto (Costa, senador, PT) e João Paulo (deputado federal, PT) e sinto deles que é importante manter essa aliança.

Eles ainda não dão como definido esse afastamento.

A gente tem um espaço para trabalhar isso, para essa aliança se manter.

Acho que tanto em nível nacional o PSB está avaliando, quanto em nível estadual o PT também está avaliando.

Acho que existe uma preocupação legítima do PT e de setores do PSB de manter esta aliança.

VENCER 2013 Se ganha (o ano) procurando assegurar para o Brasil uma maior taxa de crescimento que se pode traduzir pelos números do PIB.

Mas se traduz com muito mais força pelo número de empregos gerados, pelo pleno emprego na economia, pela renda de consumo para os brasileiros, melhoria dos serviços públicos. (“Quer dizer que o ano de 2013 não pode ser visto isoladamente?”).

Sim, é algo que foi construído, que tem um acúmulo para trás.

E que tem muito ainda por fazer e muito o que contribuir.

VOO SOLO É evidente, ninguém vai tirar do PSB o direito de ter um projeto próprio, de ser protagonista de um projeto de poder, faz parte dos partidos políticos.

E essa decisão é tomada pelo conjunto do partido.

E quando for tomada a decisão, certamente o PSB partirá unido em relação a isso.

Agora essa decisão não foi tomada.

E no partido se debate a conveniência ou não de continuarmos irmanados nessa aliança política que promoveu todos esses avanços.

INTERLOCUTOR Foi o PSB que me colocou nessa posição.

Não é só Dilma.

Na hora que o partido decide integrar o governo da presidenta Dilma, de forma legítima, e diz que só vai tomar uma decisão no próximo ano, o partido está admitindo que tomou essa decisão (de tê-lo como interlocutor). (…) O meu papel como ministro da presidenta Dilma, merecendo a confiança dela, é ampliar essas pontes do relacionamento entre governo e PSB.

Para que ao cabo dessa discussão, a gente possa apostar que essa relação vai continuar inclusive nas eleições de 2014.

Acho que não faz sentido especular eventuais dissidências.

SAÍDA DO PSB Esse é um assunto vencido.

Isso é intriga e maledicência.

Não sei de quem.

Vamos ficar por aí.

Na hora que o partido tomar uma decisão para 2014, certamente vamos acompanhar.

Eu estou lá no governo, e todos sabem disso.

CRÍTICAS Ninguém pode interditar o debate.

O governador está no papel dele. É um partido que teve expressivas e sucessivas vitórias.

Ele é o líder, é o presidente do partido. É a pessoa que reproduz os sentimentos médios do partido e é verdade que hoje existe uma discussão sobre o momento de o partido liderar um projeto próprio.

Essa é a discussão que anima hoje o partido.

ANTECIPAÇÃO É natural que estando no cargo, que seja dado à presidenta o direito da reeleição.

Acho que o gesto de Lula foi vista como uma antecipação do debate eleitoral nas comemoração dos 33 anos do PT.

No fundo, Lula tinha como objetivo era cessar as especulações de que ele queria voltar como candidato.

Foi muito mais uma fala de respeito ao direto dela de se reeleger.

Mas não interessa à presidenta quem é governo, antecipar o debate, porque isso trava as ações administrativas.

REFORMA Todo governo tem que ter sempre uma atenção à maioria para que se possa governar. É evidente que, no caso da presidenta Dilma, que tem a possibilidade de uma reeleição, ela tem que estar focada nos resultados para, digamos assim, facilitar o direito de ter mais quatro anos.

Isso é algo natural.

A reforma que ela faz na equipe faz visando primeiro continuar tendo uma maioria no Congresso, porque ela continua produzindo atos administrativos e ações legislativas que são importantes.

Ao fazer isso, sempre comporta a leitura de estar fazendo a reforma para assegurar apoios para uma reeleição.

Setores da política, a imprensa, sempre valorizam mais esse tipo de debate.

GOVERNO Da mesma forma como foi em 2010, não deu para mim (sair candidato a senador) e terminei apoiando Armando (Monteiro), agora se não der, paciência.

Isso não é um projeto só meu, é um projeto do partido.

Quem vai ter peso nessa decisão é o governador Eduardo Campos, pelas condições políticas que ele reúne.

No momento certo, quando o PSB for discutir isso, eu espero que pelo trabalho que a gente realizou como secretário de Desenvolvimento Econômico, como ministro, por toda a trajetória, possa ter o nome analisado, discutido, para conquistar o apoio dos companheiros, correligionários, dos militantes.

O importante não é a minha candidatura, mas o projeto do partido.

Agora me colocar para ser esse instrumento de levar as idéias e propostas adiante, é evidente que a gente se coloca.

Mas não quer dizer que esteja na frente do coletivo partidário.

Pode ser que caiba a mim um outro papel, talvez não tão relevante quanto, mas também importante para a construção do projeto do partido.

SEU NOME São muitos nomes e todos muito qualificados.

E eu vou fortalecer meu nome trabalhando, não é atropelando ninguém. É trabalhando como ministro, agilizando as coisas aqui em Pernambuco.

Vai ser colocada uma discussão dentro do partido.

Não só tem o meu nome, tem vários.

Até recentemente fiz uma referência que Eduardo tem se revelado um construtor de quadros.

Na política de Pernambuco teve um governador que ficou marcado porque deu oportunidade a muitos jovens que depois entraram e ingressaram na política que foi Moura Cavalcanti.

Vejo isso com Eduardo também.

Tem revelado jovens talentos da administração pública e que depois se revelam também talentos na carreira política, Geraldo Julio é um exemplo disso.

Tem Paulo Câmara, Tadeu Alencar, o nosso secretário de Saúde (Antônio Figueira), que vem do Imip.

O PSB termina sendo um partido de muito futuro.

E fico feliz com isso.

O FUTURO DO PSB Fico feliz de chegar até aqui.

Quando poucos acreditavam, a gente acreditou que Eduardo ia chegar aonde chegou e acreditou que iria fazer uma transformação em Pernambuco e ser hoje uma figura de interesse nacional.

Eu também me sinto realizado, não pode se realizar apenas com a sua vitória, mas com vitória do conjunto.