Por Maurício Carneiro Leão, engenheiro e consultor, especial para o Blog de Jamildo Atualmente, no Recife e em algumas cidades do Brasil, o principal tema de conversas tem sido o trânsito, que dificulta e algumas vezes impede o direito soberano de ir e vir.

Perder compromissos ou chegar atrasado ao trabalho tem sido uma constante em nossa cidade.

O trânsito está péssimo e imprevisível.

A Prefeitura, através da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, anunciou recentemente a introdução no segundo semestre, de um sistema de rodízio, baseado em um projeto implantado na cidade de Bogotá, na Colômbia.

Pelo que foi apresentado pelos jornais, esse sistema de rodízio penaliza sobremaneira todos os usuários de carros no Recife e entendemos que não há necessidade dessa solução radical.

Por que buscar em Bogotá uma solução, se já temos a implantação e operacionalização de um sistema de rodízio em São Paulo, cidade com um índice de motorização superior ao de Recife?

Não tem qualquer sentido causar transtorno e punir os usuários de veículos dia sim, dia não, como está previsto no Plano de Rodízio da Secretaria de Mobilidade.

Será um estresse imenso.

Nos dias pares, haverá restrições de circulação para as placas ímpares e nos dias ímpares o inverso.

Todos os usuários de veículos vão sofrer 11 dias por mês, dos 22 dias úteis existentes.

Seria muito melhor iniciar um sistema de rodízio baseando-se no que foi implantado em São Paulo e, na medida em que essa nova sistemática fosse sendo testada, seriam analisados os impactos sobre o trânsito.

O rodízio em São Paulo não resolveu a questão dos congestionamentos, mas melhorou a mobilidade em relação à situação que existia antes.

No entanto, se uma das maiores cidades do mundo começou, como se diz, do começo, porque vamos começar do fim, numa solução radical sem testarmos as alternativas menos traumáticas?

Defendemos que no início seja restringida a circulação de apenas uma placa por dia, e em função do comportamento do trânsito, essa decisão poderá ser reavaliada.

Seria elaborada pela Secretaria de Mobilidade uma tabela de modo que a retirada de uma placa de veículo não caísse no mesmo dia da semana da retirada anterior.

No final, cada placa de veículo ficaria impedida de circular na cidade, nos horários pré - determinados, somente dois dias por mês.

E esse horário de restrição de circulação seria entre as 7h e 10h e entre 16h e 20h.

No início da operacionalização do rodízio, seria reservado um dia por mês para que todos os veículos fossem liberados para circular.

Essa ideia tem o objetivo de comparar como se comportará o trânsito com a retirada de uma placa por dia e a liberação total, sem qualquer restrição para todas as placas.

Nessa proposta, que se assemelha ao sistema de rodízio em operação em São Paulo, os usuários de veículos teriam apenas dois dias de transtorno, com restrição de circulação, mas em compensação teriam 28 dias de melhor trânsito e menos estresse.

Considerando que Recife tem uma frota de 610.000 veículos, em média sairiam de circulação 60.000 veículos por dia.

Imaginando um comprimento médio de 4,0 m por veículo, teríamos 240 km de veículos a menos circulando diariamente no Recife.

Se essa solução não proporcionasse o resultado esperado, a segunda opção seria a retirada de duas placas por dia e, nessa nova alternativa cada placa circularia com restrição durante quatro dias no mês.

Qualquer uma dessas duas soluções é bem superior à idéia que a Secretaria de Mobilidade estuda implantar, restringindo a circulação de veículos 11 dias úteis por mês, causará muito menos desgaste e desconforto aos usuários de carros no Recife.

Por outro lado, seria necessário a criação de uma Junta de Apuração de Recursos Infracionais (Jari) específica e exclusiva para as penalidades oriundas do rodízio, como emergências médicas e outras situações anormais.

No caso da emergência médica, ao ser atendido, ou ter transportado alguém para a atendimento de urgência, o condutor solicitaria uma Guia Médica comprovando a necessidade dos cuidados médicos naquele dia e encaminharia essa documentação à Jari.

A proposta que está sendo estudada pela Secretaria de Mobilidade pretende definir algumas áreas da cidade, nas quais nos dias de restrição os veículos não poderão circular.

Na sistemática que estamos propondo, nos dias é horários pré estabelecidos, a restrição será aplicada para toda a cidade.

Imaginem o transtorno para os usuários de veículos ao saberem que dia sim, dia não, não poderão circular em determinadas áreas da cidade.

Muito complicado!

Por se tratar de um processo novo, é necessário que a adoção dessas medidas restritivas à circulação seja feita passo a passo e não através de uma supressão radical da circulação de metade da frota diariamente.

A decisão de implementar um rodízio tem como causas principais a baixa qualidade e o pequeno alcance do transporte público.

O metrô do Recife, por exemplo, tem uma boa qualidade , mas suas linhas atingem uma área pequena do Recife.

Em paralelo ao rodízio, é fundamental que exista uma preocupação particular com os semáforos, que precisam ser mais modernos e necessitam incorporar as tecnologias de ponta que já existem no mundo, como as dos semáforos inteligentes.

E pelo menos em todos os principais cruzamentos, os semáforos deveriam ter temporizador.

Além disso, deveria ser implantada no Recife, uma sinalização horizontal nas faixas de rolamento, sugerindo a velocidade recomendada na qual os veículos deveriam trafegar objetivando uma maior fluidez do trânsito.

Muitas vezes nos deparamos com 03 carros trafegando, lado a lado, com velocidades de 30Km/h, em corredores com três faixas, com velocidade permitida de 60km/h, impedindo a ultrapassagem dos demais veículos e prejudicando bastante a circulação.

Outras medidas de melhoria da mobilidade já estão na pauta do Governo do Estado e da Prefeitura da Cidade do recife como a implantação de um sistema de monotrilho, em alguns corredores estratégicos da cidade e a sua implantação depende apenas da alocação dos recursos necessários.

A Implantação de um sistema de “RODÍZIO JÁ” é imperiosa e necessária, e é um projeto “ganha,ganha”, sendo os maiores beneficiados, com justiça, aqueles que utilizam os ônibus diariamente e que só terão a ganhar com o rodízio e com a redução do tempo de viagem, pois para esses usuários do transporte público não haverá qualquer tipo de restrição.

Para os proprietários e condutores de veículos haverá um ganho também, pois farão um sacrifício dois dias por mês, mas serão recompensados com uma maior fluidez do trânsito nos outros 28 dias.

O rodízio de veículos, não é uma solução definitiva, mas é uma medida que se impõe em algumas das principais cidades brasileiras, no momento, enquanto soluções permanentes e mais adequadas não são implantadas. “RODÍZIO JÁ” é a palavra de ordem, mas sem prejudicar tanto os usuários de veículos, que não têm culpa pela falta de uma política séria de transportes, pela ausência de prioridade para o transporte público e por investimentos reduzidos e insuficientes na infra - estrutura viária do país.

Recife está parando, o estresse aumentando e a qualidade de vida das pessoas se deteriorando.

Vamos em frente com o Rodízio, para tentarmos resgatar o direito à mobilidade.