Por Fernando Castilho, do JC Negócios Embora esteja se aquecendo e fazendo movimentos de alongamento, o governador Eduardo Campos sabe, melhor do que ninguém, que o jogo para a campanha política de 2014 não começou.
Aliás, neste momento, mesmo os possíveis times sequer vestiram os uniformes.
E sabe mais que todo mundo que foi obrigado a colocar um colete para dizer ao público da arquibancada que quer jogar.
E o pior: fez isso obrigado pelo cartola Lula da Silva, que é do ramo, e sacou de primeira que aquela conversa mole de ganhar 2013 para pensar em 2014 só interessava a Eduardo Campos e Aécio Neves e, mais ainda, a Eduardo porque poderia se manter na sombra da beira do gramado, discretamente, apontando para a torcida as jogadas erradas de Dilma Rousseff a quem Lula da Silva colocou no time principal e continua dando instruções, às vezes até, ultrapassando aquela linha pontilhada reservada aos técnicos.
O ex-presidente é um peladeiro que virou profissional, fez carreira no time de elite e hoje é uma espécie de Felipe Scolari do Partido dos Trabalhadores a quem, todas as vezes que o time ou alguém faz uma bobagem, é chamado para colocar ordem na casa.
E Lula viu o óbvio: que aquele garoto que ele treinou no juvenil e viu crescer nas divisões de base até virar profissional entende, e muito, mais de fundamento do que Dilma Rousseff e por isso mesmo decidiu intervir obrigando Eduardo Campos a, pelo menos, começar a botar o uniforme de jogo-treino.
Até porque, do outro lado do campo, existe outro profissional do ramo, chamado Fernando Henrique Cardoso, uma espécie de Vanderlei Luxemburgo, que também percebeu a jogada do garoto Eduardo Campos e mandou seu atleta principal, Aécio Neves, também se apresentar.
Portanto, isso quer dizer apenas que os possíveis times se apresentaram na Federação dizendo à cartolagem e à torcida que querem jogar.
Até porque, neste momento, simplesmente não há jogo.
Resumindo: quem quer jogar apenas levantou a mão.
Não existe time, ninguém foi escalado, não existe campo e naturalmente não tem, ainda, times escalados em campo.
O diabo é que isso, para Eduardo Campos, é muito ruim.
Como ele também aprendeu muito fundamento com um velho técnico chamado Miguel Arraes, a quem serviu como gandula ainda menino e sempre foi atleta disciplinado, o governador de Pernambuco tem visão de gramado, tática de jogo e aprendeu a driblar curto jogando em quadra de futebol de salão.
E mais: a sair de carrinho de zagueiro malvado.
Ele sabe que só se pode entrar em campo com um bom esquema tático e com preparo físico dosado.
Nesse jogo, não dá para dar uma carreira pela linha de fundo, driblar dois ou três do meio de campo, correr para tentar fazer o gol e depois voltar com a língua de fora porque o gás acabou.
Seu plano, ou esquema de jogo, era ir se aquecendo, fazendo dois ou três treinamentos na metade do campo, dar umas carreiras ali no Sul e conversar com outros cartolas.
Fazer a festa das Marias Chuteiras distribuindo beijinhos e tirando fotos até que depois do Carnaval de 2014 vestisse o uniforme principal e partisse para o jogo já com tudo organizado e cheio de patrocínio na camisa.
Ele sabia que o velho treinador Lula da Silva estaria lhe cubando e vendo os seus movimentos.
Mas, como ele mesmo avisou a Dilma que estava com ela para que ganhasse 2013 e só em 2014 pensar em eleição, acreditou que a conversa oficial só começaria depois da festa dos campões de 2013.
Era assim que ele achava que poderia ir levando.
Mas, não foi.
Lula decidiu usar a velha máxima do futebol prescrita por Gentil Cardoso de “quem se adianta tem a preferência” e adiantou a escalação de Dilma já no time principal forçando, tanto Eduardo Campos como Aécio Neves, a vestirem pelo menos o colete e calçar as chuteiras.
Tudo isso remete à questão simples: certo, mas e agora?
Eduardo Campos vai fazer o que?
Hoje ele continua jogando na segunda divisão.
Certo, virou estrela dentro do campeonato da Série B, onde a “ninguenzada” lhe permite ter cada vez mais gente interessada em ver suas jogadas.
Mas, o jogo decisivo é o da Série A.
Ou melhor, a eleição que é daqui a 564 dias!
Ele sabe melhor do que ninguém que é muito tempo para uma preparação.
Pode até se mirar nos exemplos de Dunga e Mano Menezes que armaram esquemas ruins e falharam na aplicação prática e porque tinham tempo demais pra convocar jogador ruim e testar.
Esse negócio de treinar, treinar e treinar para um campeonato que só começa há um ano e meio não funciona.
Lembra daquela historia de que se treino e concentração ganhasse jogo o time da penitenciária era campeão?
Mas, fazer o que?
Agora que já pôs chuteira e meião e até o colete, ele vai ter que aguentar o sol quente, canelada e entrada por trás até que o jogo comece.
Vai ser um sufoco porque, apesar de jovem e esteja com bom preparo físico, sabe que ninguém aguenta tanto tempo no sol e na chuva.
No fundo, Eduardo Campos terá que se mirar, não em futebol, mas em atletismo e provar que além de fundista é um atleta de maratona, sabendo que pode-lhe acontecer o pior: tornar-se o coelho da prova.